Queimada em Corumbá, Mato Grosso do Sul

O número de queimadas registradas no Pantanal bateu recorde no mês de julho deste ano. Ao todo, foram 1.684 pontos no bioma no mês passado, o maior número para um mês de julho desde que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) começou a coletar os dados em 1998.

As queimadas representam a devastação de mais de 1,2 milhão de hectares de vegetação nativa no Pantanal, um dos principais ecossistemas brasileiros. De acordo com o Corpo de Bombeiros dos dois Estados, foram queimados 815 mil hectares no Pantanal de Mato Grosso do Sul e 350 mil hectares no território coberto pelo bioma em Mato Grosso.

Em comparação com julho do ano passado, o bioma teve 3,4 vezes mais focos de incêndio, segundo os dados do Inpe, que registrou 494 no mesmo período em 2019.

O engenheiro florestal Vinícius Freitas Silgueiro, coordenador de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida (ICV), que monitora o Pantanal em Mato Grosso, diz que os incêndios no bioma são os piores desde 1998.

“Segundo os dados de série histórica de focos de calor que o Inpe disponibiliza, desde 1998, nós nunca tivemos essa situação nos sete primeiros meses do ano. O que a gente está vendo agora é algo histórico em termos de impacto no bioma”, disse Vinícius Silgueiro.

O Pantanal é a maior planície alagada do mundo, englobando áreas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, da Bolívia e do Paraguai. Mas a estação úmida da região, que normalmente vai de janeiro a maio, teve 50% a menos de chuva este ano do que o esperado, o que também fez com que muitos focos de queimadas fossem registrados nos meses mais chuvosos.

Considerando a situação de todos os biomas brasileiros em julho, o Pantanal teve o maior aumento das queimadas. Na Amazônia, que teve a segunda maior alta, houve 28% mais incêndios em julho de 2020 comparado a julho de 2019.

O Inpe identificou 6.803 incêndios na região amazônica em julho de 2020, em comparação com 5.318 no ano anterior, o que mostra o aumento de 28%.

O número é ainda mais preocupante porque 2019 já foi um ano devastador em relação aos incêndios na Amazônia, provocando protestos internacionais.

Com frequência, queimadas são usadas ilegalmente para limpar terras para agricultura, pecuária e mineração.

Ativistas acusam o presidente Jair Bolsonaro, cético das mudanças climáticas, de incentivar o desmatamento com pedidos para abrir a floresta tropical à agricultura e à indústria.

Sob pressão internacional, Bolsonaro enviou o Exército para combater as queimadas e declarou uma moratória para a prática. Mas ativistas afirmam que isto não foi o suficiente para resolver o problema.

Os incêndios aumentaram 77% em terras indígenas e 50% em reservas protegidas desde julho de 2019, informou o grupo ambientalista Greenpeace, demonstrando como as atividades ilegais estão invadindo estas áreas.

Esse é o número mais alto registrado em um mês de julho desde 2005, segundo o grupo ambientalista Greenpeace. “O fato de ter mais de mil focos de calor em um único dia, recorde dos últimos 15 anos para o mês de julho, mostra que a estratégia do governo de fazer operações midiáticas não é eficaz no chão da floresta”, disse o porta-voz do Greenpeace, Romulo Batista, em nota.

“A moratória, que proíbe no papel as queimadas, não funciona se não houver também uma resposta no campo, com mais fiscalizações. Afinal, criminoso não é conhecido por seguir leis”, acrescentou.

Mas, o governo Bolsonaro tem cortado o orçamento, pessoal e programas desenvolvidos pelo Ibama. “Tudo o que estava funcionando foi jogado pela janela”, disse à AFP Erika Berenguer, ecologista especialista em Amazônia das Universidades de Oxford e Lancaster.

As queimadas no Pantanal e na Amazônia aumentaram mesmo depois de um decreto, do Ministério do Meio Ambiente (MMA) publicado no dia 16 de julho (e que começou a valer na mesma data), que suspendeu por 120 dias o uso de fogo em ambos os biomas.

O texto diz que a proibição se aplica “no território nacional”, apesar de determinar que “ficam autorizadas as queimas controladas em áreas não localizadas na Amazônia Legal e no Pantanal, quando imprescindíveis à realização de práticas agrícolas, desde que autorizadas previamente pelo órgão ambiental estadual”.