Os dados divulgados nesta sexta-feira (8) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o desmatamento da Floresta Amazônica registrado no primeiro trimestre de 2022 foi o pior de toda a série histórica.

Os meses de janeiro, fevereiro e março deste ano somaram um desmatamento de 941,3 quilômetros quadrados. Os meses em questão geralmente não são os que observam os maiores índices. O resultado é 64% maior do que o mesmo período no ano passado.

Março, por sua vez, teve 312,23 km² destruídos na Amazônia. Em comparação com o mesmo mês em 2021, o desmatamento foi 15% menor. Em documentos enviados à Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil prometeu reduzir em 37% sua emissão de gases do efeito estufa até o ano de 2025.

Os especialistas afirmaram que normalmente, o período entre dezembro, janeiro, fevereiro e março acumula taxas menores de desmate já que estão dentro da estação chuvosa da maioria dos estados do bioma.

No entanto, as taxas atuais se comparam aos registros da estação seca em anos onde houve maior ação contra os crimes ambientais.

Em janeiro foram 430,44 km² de área sob alerta de desmatamento, de acordo com o sistema Deter, do Inpe. A média para janeiro no período entre 2016 e 2021 é de 162 km²; a taxa atual foi 165% maior.

Em fevereiro foram 199 km² de áreas sob alerta de desmate, segundo o Inpe ; a média entre 2016 e 2021 é de 135 km²: o número registrado neste ano é 47% maior.

Já em março, foram 312,2 km²; a média é de 279,3 km²: a área em 2022 é 11,8% maior.

Gabriel Lui, coordenador de Uso da Terra do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e ex-coordenador do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), reforça que as taxas nesta época geralmente são mais baixas.

“Se você olhar os números mensais e comparar com os períodos mais secos, esse período que a gente está vivendo agora é mais baixo. Só que o mais baixo desse período que estamos vivendo agora está sendo mais alto do que o baixo dos outros anos. A gente costumava detectar muito pouco desmatamento nesta época”, diz Gabriel Lui, do iCS.

Cristiane Mazzetti, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, lembra que a divulgação dos dados ocorre na mesma semana em que o Brasil divulgou suas novas metas para redução das emissões de gases do efeito estufa, sendo que o desmatamento é a principal fonte de liberação do carbono no país.

“A conservação de florestas e outros ecossistemas está entre as soluções apontadas pelo IPCC para limitar o aquecimento do planeta em 1,5ºC . No entanto, o Brasil, que teria plenas condições de ser uma liderança climática, passa por uma gestão federal que caminha deliberadamente na direção oposta, agindo de maneira incompatível com os avisos da ciência”, afirmou Mazzetti.

Na análise de especialistas, os compromissos assumidos pelo país vão contra a proposta do Acordo de Paris, que estipulava a inclusão de metas mais ambiciosas na revisão. Além disso, compromissos assumidos durante a COP 26 (acabar com o desmatamento ilegal antes de 2030 e redução na emissão de metano) não foram incluídos na NDC.