Inflação não cai para os mais pobres
Os primeiros índices divulgados da inflação de julho mostram uma ligeira trégua da alta de preços, tendência que deve se manter no mês que vem, porque começam a chegar aos consumidores os efeitos das desonerações da conta de luz e do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dos combustíveis. Mas o que pode ser um alívio para alguns consumidores não chegará a atenuar a carestia da população de mais baixa renda. Para os mais pobres, o que mais pesa no orçamento doméstico são os alimentos, único grupo que permanece encarecendo.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE-FGV), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) apresentou uma variação de 0,42% em julho, menor do que em junho, quando registrou taxa de 0,72%. Sete das oito classes de despesa componentes do índice registraram decréscimo em suas taxas de variação. Já o grupo alimentação passou de 0,42% para 1,48% ao consumidor de um mês para o outro. Nesta classe de despesa, a maior influência partiu do item laticínios, cuja taxa saltou de 3,94% para 8,81% de junho para julho.
A elevação dos preços dos laticínios é reflexo do encarecimento do leite ao produtor, que sofreu ainda com o aumento do diesel. O Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) variou 0,60% em julho. No mês anterior, o índice havia registrado variação de 0,74%. Com esse resultado, o índice acumula alta de 9,18% no ano e de 10,87% em 12 meses. Em julho de 2021, o índice subira 0,18% no mês e acumulava elevação de 34,61% em 12 meses.
“A inflação ao produtor avançou sob influência dos preços dos alimentos e dos combustíveis. Entre os alimentos, o leite industrializado foi o destaque registrando alta de 16,30%. Já entre os combustíveis, o destaque foi do Diesel com alta de 10,91%. A aceleração do IPA não foi mais intensa dada a queda dos preços de commodities importantes. Minério de ferro (de -2,86% para -5,93%), milho (de -0,31 para -3,31%) e algodão (de 6,32% para -9,15%) registraram recuos em suas cotações diante do risco de recessão global. Já no IPC, gasolina (-1,49%) e energia (-1,45%) refletem parcialmente a redução do ICMS em seus números, o que favoreceu a desaceleração observada na taxa de variação do IPC”, afirma André Braz, Coordenador dos Índices de Preços.
Vale-Refeição
A carestia dos alimentos tem refletido, inclusive, no vale-refeição do trabalhador. Segundo pesquisa da Sodexo Benefícios e Incentivos, desde a chegada da pandemia, em 2020, até junho deste ano, a duração média do vale-refeição tem sido de apenas 13 dias dos 22 dias úteis do mês Em 2019, era de 18 dias. O levantamento levou em conta o valor médio de R$ 40,64, da Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador (ABBT), dentro da base de clientes da empresa.
Alta abusiva
Mesmo tendo apresentado retração, o preço da gasolina poderia estar significativamente mais baixo, caso o governo não tivesse optado por uma desoneração via ICMS em vez de alterar a atual política de preços da Petrobras. “A anunciada redução do preço da gasolina, pela primeira vez no ano, acontece depois de a gestão Bolsonaro ter promovido uma alta acumulada abusiva de 169,1% no preço do combustível, na refinaria, ao longo de seu governo. É inadmissível que o Brasil, autossuficiente em petróleo, tenha que se submeter à equivocada política de preço de paridade de importação (PPI), que reajusta os combustíveis com base na cotação internacional do petróleo, variação do câmbio e custos de importação. A marca do PPI está na escalada da inflação que corrói o poder de compra do povo brasileiro”, apontou o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar.
EDIÇÃO: Guiomar Prates