Inflação “na porta de fábrica” vai a 18,78% em junho
Em um ano, a chamada inflação “na porta de fábrica”, sem impostos e fretes, atingiu alta acumulada de 18,78%, segundo dados do Índice de Preços ao Produtor (IPP) divulgados nesta quinta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta é superior ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, que acumula alta de 11,73% em 12 meses até junho.
O IPP apresentou aumento médio nos preços em todos os seis primeiros meses do ano, acumulando uma alta de 10,12%. É o segundo maior resultado acumulado num primeiro semestre na série histórica da pesquisa.
Segundo o responsável pela pesquisa, Murilo Alvim, em junho, o IPP foi impactado principalmente por dois setores: refino de petróleo e biocombustíveis – principalmente em produtos derivados de petróleo, “como o querosene de aviação, a gasolina e, principalmente, o óleo diesel” – e dos alimentos, que foi influenciado em grande parte pelo aumento do preço do leite e de seus derivados.
Em junho, 15 das 24 atividades industriais pesquisadas pelo IBGE tiveram alta de preços.
Os setores com as quatro maiores variações de preços na comparação de junho com o mesmo mês do ano anterior foram: refino de petróleo e biocombustíveis (59,69%); outros produtos químicos (33,57%); fabricação de máquinas e equipamentos (21,73%); e minerais não metálicos (20,86%).
Outra atividade que pressionou o IPP foi o setor de alimentos, que apresentou alta de 1,99%, avanço puxado em grande medida por conta dos maiores preços do leite e seus derivados. O acumulado no ano saiu de 5,72%, em maio, para 7,83% em junho; o acumulado em 12 meses, de 15,46% para 17,92% (que é o maior resultado desde dezembro de 2021, 18,66%).
O grupo laticínios, por exemplo, mostrou uma variação de 14,91% no mês, sendo esse o maior resultado em toda a série nesse indicador, que teve início em 2019. Além de questões climáticas, pesaram os custos de produção.
“Os produtos lácteos se destacaram em termos de variação. No indicador mensal e no acumulado no ano, os quatro produtos destacados são derivados do leite. No acumulado em 12 meses, dos quatro produtos destacados, dois são lácteos. Já, em termos de influência, nos três indicadores, e sempre com influência positiva, aparece “leite esterilizado / UHT / Longa Vida””, destaca o IBGE.
Murilo Alvim ressalta que “outro produto que ajuda a explicar essa alta do setor de alimentos são os açúcares, produtos exportáveis que estão com uma demanda externa aquecida. Além de ter ocorrido um aumento do dólar no mês, de 1,9%, que aumenta o preço recebido em real pelo produtor”, disse Alvim.
Com sua política econômica de reprimarização do Brasil “fazendão”, isto é viver de atividades primário-exportadoras, o governo Bolsonaro não só agravou a desindustrialização no Brasil, mas disseminou ainda mais a dolarização sobre os preços dos produtos no país, onerando o setor produtivo e os consumidores.
No caso dos combustíveis, um bom exemplo é o plano de desinvestimento em refino da Petrobrás, que consiste em vender as refinarias da estatal. Ele tem como objetivo fazer da companhia uma empresa que se disponha unicamente a extrair o petróleo e exportá-lo em sua forma bruta – para garantir os ganhos astronômicos aos acionistas da estatal – que na sua maioria são estrangeiros.
Com a Petrobrás fora do refino, quem passa a controlar o mercado de derivados de petróleo no país é o cartel de empresas importadoras, que hoje fazem pressão para que os preços internos continuem sendo fixados pela cotação do dólar, do valor do barril no mercado internacional, mais os custos da importação, política chamada de PPI (Preço de Paridade Internacional).
Sob o governo Bolsonaro, mantendo a Petrobrás refém do PPI, em 12 meses, o preço do óleo diesel acumula alta de 61,89%, o da gasolina avançou em 20,38%, e o etanol, a alta está em 11,78%, segundo dados do IPCA-15 de julho. O botijão de gás de cozinha no mesmo intervalo de tempo subiu 23,79%.
O IPP da indústria é formado pelos índices da indústria de transformação, que apresentou alta de 1,24% em junho, e da indústria extrativa, que teve queda de 2,89%. Assim, o indicador subiu 1% frente a maio, com alta registrada em todas as grandes categorias econômicas: bens de capital (0,98%), bens intermediários (1,04%), bens de consumo (0,92%), bens duráveis (0,48%) e bens semiduráveis e não duráveis (1,01%).