São Paulo - O Secretário de Estado de Saúde de São Paulo, David Uip, fala com a imprensa durante mutirão de testagem rápida de HIV, no Pátio do Colégio, região central. (Rovena Rosa/Agência Brasil)

O infectologista David Uip, que coordenou o Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo, disse que jamais defendeu “a distribuição ou o uso indiscriminado da cloroquina na rede pública”, ao contrário do que tentou argumentar o senador bolsonarista Marcos Rogério (DEM-RO) na CPI da Pandemia.

Marcos Rogério mostrou um vídeo com David Uip, João Doria (PSDB) e outros gestores que supostamente aceitavam o uso da cloroquina no tratamento da Covid. Mas não disse que todas as filmagens eram dos primeiros meses da pandemia, quando o medicamento ainda estava sendo testado.

“Era começo da pandemia e pouco se sabia sobre os efeitos colaterais graves do medicamento”, esclareceu o pesquisador.

“Jamais defendi a distribuição ou uso indiscriminado da cloroquina na rede pública. Naquela reunião, o que se discutiu foi apenas que o medicamento fosse usado em pacientes internados em hospitais, em estado grave e sob supervisão médica, antes deles serem intubados”, afirmou.

Uip disse que participou de uma reunião com o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que foi demitido por Bolsonaro por defender o distanciamento social, na qual foi discutido o uso de diversos medicamentos que estavam sendo testados no tratamento contra Covid.

“O ex-ministro pediu para eu participar, mesmo em isolamento e, naquele 23 de março, pouco se sabia sobre várias medicações que estavam sendo usadas experimentalmente para conter a infecção. Até medicação contra Aids estava sendo utilizada por alguns médicos para ajudar a conter o processo inflamatório dos pacientes. Foi uma reunião técnica e se avaliou a adoção do protocolo com consentimento dos pacientes e estritamente sob supervisão médica”, contou.

A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo disse que Marcos Rogério exibiu o vídeo “com o objetivo de deturpar o sentido original deles”, escondendo que eram gravações dos primeiros meses de pandemia no Brasil.

“Os gestores de saúde deliberaram pela não recomendação do uso do medicamento em casos leves, moderados ou graves de Covid-19 devido à insuficiência de evidências sobre a eficácia”, reafirmou a Secretaria.

“O Governo de São Paulo repudia a manipulação flagrante de declarações do governador João Doria e do médico infectologista David Uip. As falas mostradas pelo senador bolsonarista Marcos Rogério, durante a CPI da Covid, foram retiradas do contexto com o objetivo de deturpar o sentido original delas. Essa é uma prática comum dos negacionistas para desinformar e tirar o foco da população para os temas que realmente importam para combater a COVID-19: vacinação, distanciamento social, uso de máscaras e medidas de higiene”, continuou.