Jair Bolsonaro (sem partido)

Bolsonaro e sua família sempre tiveram contato com o mundo do crime e da corrupção. Não à toa estão às voltas com escândalos envolvendo milicianos e rachadinhas em mandatos ao longo dos últimos trinta anos. Em nome do falso combate à corrupção, o Brasil elegeu um presidente pouco afeito à gestão da máquina pública e atolado até o pescoço em uma série de ilegalidades. Ocorre que agora, pela primeira vez em seu governo, há uma denúncia contundente de corrupção exposta em uma CPI no Senado Federal e apenas a negação, o factoide e a sensação de impunidade, podem não ser o bastante para livrar a cara do presidente.

Por Wadson Ribeiro*

Além de um governo criminoso, responsável por um verdadeiro genocídio com mais de 500 mil pessoas vitimadas pela Covid-19, Bolsonaro usa sua falsa postura disruptiva para enfraquecer as instituições democráticas de Estado e impor uma agenda de descontrole e desregulamentações. O papel quase nulo em seu governo da Controladoria Geral da União e as várias tentativas de interferências indevidas na Polícia Federal são mostras de como Bolsonaro tenta domesticar tudo aquilo que possa significar transparência, lisura e respeito às leis. Sob seu governo, institui-se um orçamento paralelo destinado a alimentar um balcão de negócios com congressistas que compõem a sua base de governo e recebem vantagens para votar.

A completa paralisia da gestão Bolsonaro ganha agora um outro atributo, a de um governo que rouba e deixa os outros roubarem. Os dois escândalos envolvendo as negociações das vacinas Covaxin e AstraZeneca, reveladas por um servidor do Ministério da Saúde à CPI do Senado e ao Ministério Público, e por um representante da empresa Davati Medical Supply, que já está convocado para também prestar depoimento na CPI, são estarrecedoras. O esquema, além de ter sabotado a chegada ao Brasil de um número infinitamente maior de vacinas a um preço muito menor, pretendia desviar algo em torno de R$ 1 bilhão, superfaturando em mais de R$ 5 cada dose da vacina. No mesmo período em que o país atravessa a pior crise sanitária de sua história, o governo realmente se comporta como um genocida.

Além de Bolsonaro ter tido acesso às denúncias e não ter agido, ele também não tomou medidas em relação ao seu líder na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), acusado de ser o padrinho da indicação do servidor comissionado do Ministério da Saúde acusado de pedir propina em troca da compra da vacina da AstraZeneca. Outro caminho que liga Ricardo Barros aos esquemas de corrupção vem do depoimento do deputado Luis Miranda (DEM-DF). O parlamentar afirmou à CPI que Ricardo Barros exercia pressão para a compra da vacina da Covaxin, antes mesmo da autorização da Anvisa, declarações que já tinham sido feitas pelo irmão dele e funcionário de carreira do Ministério da Saúde lotado na área de licitações, responsável pela aquisição de vacinas. Se Bolsonaro não trocar a liderança de seu governo na Câmara, estará assinando um atestado de culpa desses episódios e dará uma clara demonstração que em seu governo a corrupção não será punida, diferente do que falou na campanha eleitoral.

Nenhum governo cai apenas pela corrupção, por mais grave que ela seja. Um impeachment só acontece quando, além das condições objetivas, como a suspeita de superfaturamento na compra de vacinas, se associa a outras questões subjetivas, como a falência do discurso, a perda de popularidade e da base no Congresso Nacional. O importante agora é a CPI ser prorrogada e a unidade de todos os setores democráticos se fazer valer para construir um ambiente na sociedade que exija o impeachment e que tenha os votos necessários no Congresso Nacional.

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*Presidente do PCdoB -MG, foi presidente da UNE, da UJS, deputado federal e secretário de Estado de Minas Gerais.

(Artigo publicado originalmente no portal Hoje em Dia)

 

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