Apontado como provável indicado para o Ministério da Educação do governo Bolsonaro, Renato Feder não precisou nem mesmo ter seu nome confirmado para já ser achincalhado pelos bolsonaristas.
Nas redes sociais, a chamada “ala ideológica” do bolsonarismo, conduzida pelos discípulos de Olavo de Carvalho, começou uma campanha nas redes sociais contra a indicação do atual secretário de Educação do Paraná, para o cargo:
A resistência de setores bolsonaristas à indicação de Feder não se limita às redes sociais. No Congresso, parlamentares ligados ao presidente também se opõem ao indicado.
Segundo o jornal “Valor Econômico”, “fontes no Palácio do Planalto, que pela manhã já davam como certa a nomeação do atual secretário de Educação do Paraná, agora se mostram reticentes”. “Aliados mais antigos no Parlamento se queixam de desprestígio e têm bombardeado o presidente com mensagens de repercussão negativa da indicação de Feder nas redes sociais”, afirma o jornal.
O nome preferido desse setor do bolsonarismo é o de Sergio Sant’ana, que foi assessor especial do ex-ministro Abraham Weintraub e é próximo do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
PERFIL
Feder era um dos cotados para a vaga quando o ex-ministro Abraham Weintraub deixou o governo, no fim de junho. No entanto, Bolsonaro acabou optando pelo professor Carlos Decotelli. Nesta semana, Decotelli saiu do ministério antes mesmo de tomar posse, após serem reveladas diversas mentiras em seu currículo.
Em entrevista à GloboNews, quando Weintraub foi demitido do Ministério da Educação, Feder disse que aceitaria o convite se fosse chamado por Bolsonaro.
Feder é empresário e em 2007 escreveu, em parceria com o sócio Alexandre Ostrowiecki, um livro chamado Carregando o Elefante, revisado e republicado em 2014. Na obra, os autores criticam o poder estatal brasileiro. Ao falarem sobre educação, eles defendem a privatização do ensino público com jargões e frases de efeito, além da extinção do próprio Ministério da Educação (MEC).
Pelo sistema recomendado por Feder, não haveria escolas gratuitas. As escolas particulares passariam a receber todos os alunos. Quem não pudesse pagar a mensalidade, receberia do governo uma espécie voucher no valor de uma mensalidade, e poderia escolher sua escola preferida, desde que dentro daquele valor.
Feder disse não defender mais o formato proposto quando assumiu a secretaria de educação do Paraná, em 2019. Ao jornal Gazeta do Povo, ele relatou ter mudado de opinião. “Eu acredito tranquilamente, firmemente, que ensino público tem condições de entregar ensino de excelência. Não vou privatizar, não vou terceirizar e não vou fazer voucher”, declarou ao jornal na ocasião.
SONEGAÇÃO MILIONÁRIA
Feder foi denunciado por sonegação fiscal e responde a processo milionário na Justiça de São Paulo, que corre em sigilo.
Em 2016, Feder e o sócio, Alexandre Ostrowiecki, administradores da empresa de informática Multilaser Industrial S.A., foram denunciados pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da Coordenadoria de Combate à Sonegação Fiscal (Coesf), por fraude de R$ 3,2 milhões em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
O processo consta no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e ainda está em fase de tramitação. Em posicionamento oficial, a empresa informou que o processo é resultado de uma dívida que o governo paulista tem de R$ 95 milhões com a Multilaser, que venceu e não foi paga.
“Até 2013, o governo autorizava empresas na situação da Multilaser a abater dessa dívida os pagamentos de ICMS. A prática foi suspensa e a Multilaser recorre, desde então, à Justiça para que seja retomada”, afirmou a empresa em nota.
165 CIDADES SEM AULAS NO PARANÁ
Como secretário de Educação do Paraná, Feder contratou, durante a pandemia do novo coronavírus, com dispensa de licitação, uma rede afiliada da TV Record no estado para transmitir vídeo-aulas para alunos da rede estadual.
O problema é que a emissora escolhida não tem sinal de transmissão em quase a metade do Paraná. Mais de 2 milhões de pessoas vivem nessas cidades, o que representa quase um quinto da população do estado.
O contrato firmado por Feder previa R$ 2,7 milhões por três meses de serviço, iniciado em abril. Mas, em 5 de maio, com as aulas já funcionando de forma precária, o secretário deu à TV Independência que pertence ao grupo RIC, afiliado à Record no Paraná e em Santa Catarina um aditivo de mais um mês, o que rendeu R$ 800 mil a mais para a empresa.
O aditivo também aumentou em 44 municípios a cobertura televisiva e deu até o começo de junho –mais da metade do prazo total do contrato – para a RIC fazer seu sinal chegar a eles.
Para quem não tem sinal da RIC em casa, resta a opção de usar a internet, usando um aplicativo cheio de problemas. O Aula Paraná, feito pela empresa IP.TV, que tem no currículo a criação da TV Bolsonaro. Quem não tem RIC nem internet fica sem aula.
Mesmo para quem tem celular, é difícil ter uma velocidade de internet que permita o uso do aplicativo do governo.
Os municípios passaram a imprimir as tarefas e encaminhar aos alunos quando as famílias vão buscar as cestas básicas da merenda. Mesmo assim, o aluno precisa fazer sozinho as tarefas, sem qualquer orientação de professores, e devolver os exercícios feitos na próxima data em que os pais forem buscar os alimentos. Depois, esses documentos ficam 14 dias em quarentena antes do envio para a correção dos professores.