Por trás da decisão está uma política discriminatória contra as etnias que compõem a nacionalidade indiana

No dia 5 de agosto foi anunciado o fim da autonomia da Caxemira, com a supressão do artigo 370 da Constituição da Índia, assim como do parágrafo 35A, que normatizava essa autonomia, criando o governo local e seu parlamento.

Segundo o governo da Índia, a mudança se deveria a tensões exacerbadas com um atentado realizado no dia 14 de fevereiro quando morreram 44 militares indianos que se dirigiam em comboio para a capital da Caxemira, Srinagar. A ação foi reivindicada por um grupo separatista denominado Jaish-e-Mohammad.

Já lideranças caxemires repudiaram a medida. A dirigente do Partido Democrático do Povo e ex-dirigente da região, Mehbooba Mufti , classificou a medida de “ilegal e unilateral” e o dia 5 de agosto como “o dia mais escuro para a democracia da Índia”.

O presidente Narendra Modi esperou pelo resultado das eleições que ao final de maio lhe deram a vitória, além de uma bancada com 56% de integrantes de seu partido no parlamento para tomar a medida que classifica de “necessária para combater o terrorismo e o separatismo”.

Desde o dia da decretação do fim da autonomia, mais de 500 lideranças locais já foram presas e foi determinado toque de recolher assim como as conexões via telecomunicação foram interrompidas.

Houve manifestações de protesto na capital, Nova Delhi, e em outras cidades indianas em solidariedade ao povo da Caxemira, de maioria muçulmana, e em protesto à medida do governo. A manifestação na capital da Índia foi convocada pela central sindical Conselho Central dos Sindicatos de Toda a Índia (AICCTU).

O Partido do Congresso, que já governou a Índia e é a segunda força política no país, assim como outros partidos, entre eles o Partido Comunista da Índia (Marxista-Leninista) condenaram a medida como manifestação de uma política discriminatória contra as etnias que compõem a nacionalidade indiana em favor da maioria hindu. Para a oposição, a medida equivale a uma ocupação da Caxemira e faz parte de uma política de ganhar apoio entre os integrantes da maioria hindu, fomentando o preconceito e a discriminação contra as demais etnias.

O governo do vizinho Paquistão suspendeu as viagens por trem vindas da Índia assim como o comércio entre os dois países. No Paquistão está localizada a Caxemira paquistanesa, onde também houve manifestações solidariedade aos caxemires indianos, além de atos de protesto nas cidades paquistanesas de Lahore e Islamabad.

O governo paquistanês assume que a medida indiana elevou as tensões entre os dois países, mas destaca que procurará responder, ao que chama de agressão, pelas vias diplomáticas e sanções comerciais, além de levar a questão ao Conselho de Segurança da ONU, enfatizando que não vai recorrer a ações militares na fronteira.

Na sexta-feira, o ministro do Exterior do Paquistão, Shah Mehmood Qureshi, esteve na capital chinesa, Beijing, para uma reunião de emergência com seu colega, Wang Yi.

Ao final da reunião, o Ministério do Exterior da China expediu um comunicado declarando que a China “está seriamente preocupada com a turbulência e escalada de tensões na Caxemira”.

E prosseguiu afirmando que “a China vai continuar a apoiar firmemente o Paquistão em seus direitos legítimos” e acrescentou que “a questão caxemire deve ser resolvida nas Nações Unidas”.

“Tanto o Paquistão como a Índia são vizinhos amigos da China”, acrescenta a nota, “conclamamos os dois lados a focarem no desenvolvimento nacional e na paz ao sul da Ásia”.

Qureishi, ministro paquistanês, declarou ao final da reunião que está “muito satisfeito porque a China provou hoje, mais uma vez, que é amiga confiável do Paquistão”.

O ministro do Exterior da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, deve chegar a Beijing no domingo, dia 11.