Sonia Gandhi, a presidente do oposicionista Partido do Congresso, condenou a agressão aos manifestantes muçulmanos que exigem a revogação de uma lei que discrimina os integrantes dessa religião e pediu a renúncia do ministro do Interior, Amir Shah.
“Líderes do Bharatiya Janata, BJP, Partido do Povo Indiano [o partido do primeiro-ministro Narendra Modi], “fazem discursos de incitamento espalhando uma atmosfera de ódio e medo”, denuncia a líder opositora.
Segundo informações do diretor do Hospital Guru Teg Bahadur (GTB), Sunil Kumar, dos 30 mortos e mais de 250 feridos, 60 traziam ferimentos a bala.
“As pessoas se perguntam por que levou quatro dias para que as autoridades agissem contra o massacre contra muçulmanos”, afirma, de Nova Délhi, Elizabeth Puranam, da rede Al Jazeerah.
Em meio aos confrontos que sacudiram bairros de maioria islâmica da capital da Índia, incluindo incêndio de mesquita e de veículos, o primeiro-ministro do país recebia com festa o presidente norte-americano, Donald Trump ao som da música “Macho Man”, à sua chegada no local onde foi recepcionado pelos apoiadores do governo.
Em sua saudação, Trump, do alto de sua ignorância, referiu-se às escrituras sagradas do hinduísmo, Vedas, como “Vestas”. Ele tratou de reforçar a discriminação que Modi tem estimulado afimando que “os Estados Unidos e a Índia estão unidos defendendo-se do terrorismo islâmico”.
Modi devolveu referindo-se a ele como Doland Trump.
A lei que gerou os distúrbios dos últimos dias, denominada “Emenda à Lei de Cidadania” (Citizen Amendment Act-CAA) permite a aquisição de cidadania para estrangeiros refugiados do Afeganistão, Paquistão e Bagladesh até 2015, desde que sejam budistas, jainistas, cristãos, pársis ou sikhs. Excluindo, portanto, os muçulmanos (que somam mais 180 milhões no país) e que, desde que a lei foi enviada ao Congresso, há quatro meses, realizam protestos. Os que se opõem à lei dizem que ela atenta contra o sentido secular e de respeito a todos os credos da Constituição da Índia.
Logo que assumiu o segundo mandato com base em uma campanha de disseminação da exaltação ao hinduísmo (vertente religiosa predominante na Índia), Modi retirou a autonomia parcial do Estado da Cachemira, de maioria muçulmana.
Um dos mais direitistas entre os integrantes do partido do premiê, Kapil Mishra, postou vídeo no qual lançou um ultimato dando três dias à polícia para “limpar as ruas dos muçulmanos”, depois disso seus adeptos iriam “ser forçados a tomá-las”. Ele acrescentou que aguardariam apenas a saída de Trump do país: “Nem tentem argumentar conosco depois desses três”.
“Centenas de mulheres estavam participando de forma pacífica dos protestos contra a lei CAA, desde o sábado à noite na estação de metrô de Jafrabad. Mas, no domingo, depois do comício de Mishra, seus adeptos começaram a nos atirar pedras”, afirmou Zohran, um dos manifestantes de Jafrabad, bairro onde foi incendiada uma mesquita.
Zohran disse ainda que seu tio, voltando de um culto religioso e sem nenhuma participação nos protestos, foi espancado.