Índia anuncia medidas para conter disparo do número de casos de Covid
A Índia bateu neste sábado (24) pelo terceiro dia consecutivo o maior número de casos de Covid-19, desde o início da pandemia, com 346.786 infectados em 24 horas, além de 2.624 mortos. No total, 189.544 de pessoas já perderam a vida, somando mais de 16,6 milhões de contagiados.
Ainda que em termos absolutos seja o maior número de infectados em um país em um só dia e apesar do descontrole que tem se verificado no combate à pandemia em todo o país, em termos proporcionais à população a propagação é ainda muito menor do que a tragédia provocada pelo desgoverno Bolsonaro no Brasil. Na Índia são 25,38 casos por 100.000 habitantes enquanto que no Brasil foram 31,23 por 100.000.
O relato da jornalista Ankita Mukhopadhyay, correspondente local da rede alemã Deutsche Welle acusa o governo do primeiro-ministro Narendra Modi de responsável pela tragédia indiana.
Em seu artigo “A catástrofe anunciada”, Ankita esclarece que a todo momento chegam pedidos “de oxigênio, drogas antivirais e leitos hospitalares”, mas tudo o que os jornalistas podem fazer é se “espantar de quão catastrófica foi a reação do governo à pandemia”.
“O governo teve um ano para se preparar para esta onda”, diz a jornalista que descreve como a coisa foi se deteriorando e “quando 2021 começou, ele ficou complacente, desmontando centros provisórios de isolamento, relaxando medidas de distanciamento social e confinamento, apesar dos sinais de advertência quanto a uma nova onda e a novas variantes virais em outros países”.
Assim, quem não tem tempo para “acionar políticos, burocratas e outras figuras influentes”, a fim de que “mexessem os pauzinhos” e salvassem os seus familiares “ficou vendo seus entes queridos morrerem lentamente”. “Eu mesma fui vítima dessa nova onda: meu sogro não foi hospitalizado a tempo, desenvolveu pneumonia e acabou por morrer nesta quinta-feira”, denuncia Ankita.
No olho do furacão, a jornalista indiana ressaltou que “os estabelecimentos da capital, Nova Délhi, estão superlotados, com mais de um paciente em cada cama. Os menos afortunados morrem pelos corredores ou nas ambulâncias. Oxigênio e antivirais são armazenados no mercado negro, gente inocente desembolsa milhares de rúpias para assegurar para si os recursos escassos”.
Da mesma forma como o capitão Cloroquina no Brasil, Narendra Modi alegava que o coronavírus seria combatido com a bebida holística kadha ou o medicamento Coronil, do iogue Baba Ramdev. Deu no que deu.
Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital Jaipur Golden, em Nova Delhi, pelo menos 20 pacientes de Covid faleceram durante a noite porque “a pressão de oxigênio” era baixa, relatou o jornal Indian Express, registrando que os centros de saúde “estão à beira do colapso”. Sem oxigênio, muitos doentes depositam suas esperanças em ventiladores.
Após um incêndio na ala da UTI do hospital Vijay Vallabh, a 70 quilômetros de Mumbai, 13 pacientes de Covid morreram queimados nesta sexta-feira (23), informaram os bombeiros, atribuindo o caso a uma provável explosão do sistema de ventilação, que funciona sobrecarregado.
Na quarta-feira (21), também com coronavírus, outros 24 internados faleceram devido a um vazamento de oxigênio em um hospital em Nashik, a 140 quilômetros de Mumbai.
Em outras unidades, familiares veem os entes queridos perderam a vida na porta dos hospitais. Diante do acúmulo de corpos, as pessoas são forçadas a recorrer a instalações improvisadas para cremação em massa e enterros. A Reuters relata inclusive a queima de corpos em um estacionamento.
Para algumas regiões mais remotas, após pressão da Corte Suprema, o governo enviou aos hospitais trens especiais com oxigênio e medicamentos especiais para o tratamento de coronavírus, onde precisam ser escoltados.
A variante “com mutação dupla”, conhecida como B.1.617, detectada pela primeira vez no Estado de Maharashtra, é atualmente a predominante e é letal e a mais infecciosa. Existem também outras variantes, como as encontradas no Reino Unido e no Brasil, que vêm se espalhando rapidamente pelo país.
Medidas de emergência
Diante da perda de controle, o premiê reuniu seus ministros e após o encontro fez pronunciamento declarando: “
Temos recursos e experiência agora. Já contivemos a pandemia antes. Podemos fazer isso novamente com testes, rastreio, tratamento e comportamento apropriado para a Covid”.
Modi também sugeriu renomear o recolhimento noturno como “Recolhimento Corona” para “elevar a consciência sobre a doença”.
“Vamos ter que concentrar em zonas de micro-contenção. O toque de recolher foi efetivo em outos países. Aqui vai ser das 21:00 às 5:00”, acrescentou o premiê.