As chamas consumiram a fábrica Hashem Foods, nos arredores de Dacca, capital de Bangladesh

Um incêndio de grande magnitude deixou ao menos 52 mortos e 25 feridos em uma fábrica local de alimentos e bebidas próxima a Dacca, capital de Bangladesh, no sudeste asiático.

O fogo iniciado na quinta-feira (8) à noite no andar térreo somente conseguiu ser controlado pelos bombeiros nesta sexta (9), mas há informações de que a cifra de vítimas fatais pode aumentar, principalmente após a limpeza da área dedicada à produção de sucos de manga. A fábrica pertence à empresa Hashem Foods and Beverage, que integra o grupo Sajeeb.

Os sobreviventes testemunharam cenas de horror e intensa luta das 17 unidades de bombeiros contra as labaredas. “Três pessoas morreram ao saltar do edifício para tentar escapar do fogo e até agora se recuperaram 49 corpos carbonizados”, relatou à agência Reuters o administrador do distrito de Narayanganj, Mustain Billa.

Nesta manhã, após horas de luta para extinguir as chamas, as várias equipes conseguiram controlar o fogo, iniciando a busca pelos mortos e desaparecidos. Como se desconhece o número de pessoas que trabalham na fabricação de sucos, tudo ainda é uma grande incógnita. Segundo a EFE, a projeção é de que se encontravam ao redor de 250 empregados na área, mas muitos conseguiram escapar.

“Não estamos seguros de quantas pessoas estão desaparecidas”, disse o diretor adjunto do Serviço de Bombeiros e Defesa Civil de Narayanganj, Abdullah Arefin.

Diante do ocorrido e da irresponsabilidade da empresa, os familiares das vítimas estão realizando uma série de protestos nas proximidades da fábrica exigindo a responsabilização dos culpados. “Não há justiça. Onde está meu filho?”, gritava Nazma Begum, mãe de um dos desaparecidos, expressando sua revolta, agravada frente à repetição sistemática deste tipo de acidentes no país.

De acordo com as investigações iniciais, o incêndio pode ter sido causado pela presença de materiais inflamáveis no prédio, o que está sendo verificado por uma comissão de investigação nomeada pela Administração Narayanganj.

Devido à falta de fiscalização e impunidade, incêndios e acidentes nas fábricas de Bangladesh marcam a história recente do país. Em 2019, um fogo massivo numa fábrica de químicos deixou um saldo de 70 mortes e 55 feridos. Sete anos antes, em 2012, 119 trabalhadores morreram queimadas na fábrica de roupa Tazreen Fashions.

Bangladesh é um dos países utilizados para realocação de transnacionais e que produzem para redes ocidentais, destacando-se o ramo de confecções, já que os direitos trabalhistas praticamente inexistem, tornando os custos de produção muito mais baixos. O setor têxtil tem destaque, com pelo menos quatro milhões de trabalhadores – 80% mulheres – e representa um quinto do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

A Anistia Internacional está entre as organizações de direitos humanos e sindicais que denunciam as péssimas condições de trabalho em Bangladesh. Os funcionários da indústria ganham cerca de US$ 100 mensais e não contam com medidas de segurança e de condições ambientais minimamente adequadas nas instalações de trabalho. Empresas que atuam no país já foram acusadas de explorar trabalho infantil como no caso da espanhola Inditex que se aproveita da legislação local para empregar crianças a partir de 14 anos em sua produção.