Inadimplência e carestia provocam queda no varejo
As vendas no varejo tiveram em junho a primeira queda, de 0,2% em relação ao mesmo mês do ano passado, desde janeiro, quando a retração foi de 1,5%. Os dados, que integram a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), sinalizam que o comércio brasileiro patina em meio à redução no rendimento real (descontada a inflação) do brasileiro, por conta da carestia e do desemprego, e à inadimplência. Enquanto o rendimento real encolheu 6,2% nos meses de março, abril e maio deste ano em comparação com o mesmo período de 2022, a Serasa Experian registrou um aumento de 4 milhões de CPFs negativados em maio em relação ao mesmo mês do ano passado, totalizando 66 milhões de inadimplentes no Brasil.
Do total de negativados, 28,2% possuem dívidas com bancos e cartões; 22,7%, com contas de serviços básicos, como água, luz e gás; e, em terceiro lugar, aparecem o varejo – especialmente pelas vendas à prazo – e as financeiras, com 12,5% de inadimplência. Entre os Estados brasileiros, São Paulo concentra o maior número de inadimplentes (15,6 milhões), seguido pelo Rio de Janeiro (6,7 milhões), Minas Gerais (6,3 milhões), Bahia (4,1 milhões) e Paraná (3,5 milhões).
Já na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), que assim como a PNC é realizada pela Confederação Nacional do Comércio, o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer (cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa) atingiu 77,3% dos lares no país, que representa alta de 7,6 pontos percentuais em junho em relação ao mesmo mês do ano passado e é o terceiro maior nível da série histórica, iniciada em 2010. A taxa de endividamento vem marcando recordes, mês a mês, desde julho de 2021.
De acordo com a CNC, a necessidade de atrasar contas e/ou dívidas em junho foi maior entre os consumidores que não concluíram o segundo grau, 33,4%. “O mercado de trabalho está absorvendo trabalhadores com menor nível de escolaridade, mas o rendimento médio achatado pela inflação elevada dificulta a organização do orçamento familiar. Além disso, o avanço recente na informalidade do emprego é outro fator que aumenta a volatilidade da renda do trabalho e atrapalha a gestão das finanças pessoais”, diz a análise realizada pela Divisão de Economia e Inovação da confederação.
Outra pesquisa, da MGC, mostra que, em abril, o equivalente a 97% da população economicamente ativa do país tinha algum tipo de inadimplência. Os dados são distintos porque o levantamento combina dados públicos da Serasa Experian, que consideram apenas dívidas vencidas com até cinco anos, com os da própria gestora, que detém uma base de 37,7 milhões de CPFs, dos quais 27,5 milhões exibem atrasos acima do teto do birô de crédito e ficam de fora do conjunto dos negativados. Conforme o estudo, o saldo das bases contratuais desse grupo, que soma 93,5 milhões de CPFs, alcança R$ 897,8 bilhões. Com juros e mora, o valor total da dívida atrasada dos brasileiros passa de R$ 1 trilhão.
Terceiro trimestre
Diante do atual quadro de inadimplência, que é agravada pelas taxas de juros elevadas no país, as estimativas do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar) apontam que o número de pessoas físicas com atrasos em pagamentos acima de 90 dias seguirá crescendo no terceiro trimestre. De acordo com a instituição, em julho, a alta será de 4,99%, chegando a 5,40% em agosto e 5,10% em setembro.
Com informações dos portais do Valor Econômico e do PT Nacional