Ao ser indagado se mandou Fabrício Queiroz faltar nos depoimentos ao Ministério Público do Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro encerrou uma entrevista que estava dando na frente do Palácio da Alvorada, na manhã da terça-feira (14).
Bolsonaro encerrou abruptamente a entrevista quando um repórter fez a pergunta com base no que está relatado no livro da jornalista Thaís Oyama, que será lançado na semana que vem.
Na obra, ela afirma que Bolsonaro mandou Fabrício Queiroz, ex-assessor do seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), não dar o depoimento.
“em uma colega de vocês [jornalistas] que fez um livro que leu meu pensamento. Ah, pera aí, livro fake news, livro mentiroso, eu não vou responder sobre o livro. Outra pergunta aí”, disse Bolsonaro.
“O senhor pediu ao Queiroz…”, insistiu o repórter, sendo interrompido pelo “Mito”.
“Outra pergunta aí”, pediu Bolsonaro, tentando mudar rápido de assunto.

“…para faltar ao depoimento?”, finalizou o repórter.
“Acabou a entrevista aqui”, disse Bolsonaro.
Fabrício Queiroz é íntimo de Bolsonaro de longas datas. Ele serviu junto com Jair Bolsonaro no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista, em 1984.
Flávio Bolsonaro – também chamado de zero um (01) – tinha Queiroz como operador do esquema (conhecido como “rachadinha”) em recolhia parte dos salários dos assessores de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando era deputado estadual.
Na época, Queiroz não prestou depoimento ao MP-RJ alegando problemas de saúde, mas participou depois de entrevistas para a SBT.
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou movimentações suspeitas na conta de Fabrício Queiroz. Entre 2014 e 2017, Queiroz movimentou R$ 7 milhões na sua conta sem ter renda para isso.
Irritado com o Coaf e para encobrir as atividades ilegais do filho, Jair Bolsonaro transferiu o órgão do Ministério da Justiça, que é chefiado por Sérgio Moro, para o Banco Central subordinado ao Ministério da Economia, chefiado por Paulo Guedes, o Posto Ipiranga de Bolsonaro, e mudou seu nome para Unidade de Inteligência Financeira (UIF).
O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu em julho uma liminar para Flávio Bolsonaro e suspendeu investigações compartilhadas com base nos dados do Coaf. Essa determinação caiu com a decisão do pleno do STF em novembro e foram retomadas as investigações contra o filho de Bolsonaro.
Flávio Bolsonaro colocou em seu gabinete familiares de Queiroz. E também familiares de milicianos, como a esposa e mãe de Adriano Magalhães da Nóbrega (que está foragido), chefe do Escritório do Crime, central de assassinos de aluguel. Um dos assassinos da vereadora Marielle Franco, Ronnie Lessa, faz parte dessa milícia.
Foi Fabrício Queiroz, ex-PM, quem levou Adriano Nóbrega a receber duas homenagens de Flávio, uma delas, inclusive, ele recebeu quando estava preso, acusado de assassinato.
A mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, de 68 anos, foi funcionária no gabinete de Flávio durante grande parte de seu mandato como deputado estadual. Raimunda aparece na folha da Alerj com salário líquido de R$ 5.124,62.
Ela foi exonerada dia 13 de novembro do ano passado. A mulher de Adriano, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega também foi lotada no gabinete de Flávio na Alerj, com o mesmo salário da sogra. Ela é listada na Assembleia desde novembro de 2010 e foi exonerada junto com a sogra. Queiroz chegou a pedir a ela que, depois da separação, não usasse mais o sobrenome “Nóbrega” para não ligar Adriano ao gabinete de Flávio.
A jornalista Thaís Oyama também diz no livro que Bolsonaro tentou demitir Sérgio Moro e só não o fez porque Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, o demoveu.