Em meio à intensificação das pressões para que o julgamento do impeachment do presidente Trump ouça novas testemunhas, a defesa encerra suas alegações nesta terça-feira (28), para que, na quarta-feira, os senadores votem se essas testemunhas serão ou não convocadas, como pleiteia a acusação democrata e vastos setores da opinião pública.

O vazamento de duas denúncias-bomba – um telefonema do próprio Trump a um auxiliar de seu advogado pessoal Rudy Giuliani sobre o Ukraniagate e o manuscrito do livro do ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton, que contradiz frontalmente o presidente – criaram, entre os apoiadores do impeachment, a esperança de que, afinal, possa ter surgido a ansiada “arma fumegante” das violações de Trump.

Toda a linha de defesa de Trump se baseia em dizer que ele não fez nada; que, se fez, não é imputável para impeachment; que não houve pressão contra a Ucrânia, só apoio para combater a corrupção; e que o processo é uma tentativa de ignorar o resultado das eleições de 2016 e de interferir nas eleições deste ano.

 

POR QUATRO VOTOS

 

Com as linhas partidárias definidas por 47 senadores anti-Trump e 53 pró-Trump, a mudança de quatro votos republicanos define a questão da convocação de novas testemunhas e dos documentos e faria naufragar o plano do líder da maioria, Mitch Connell, de que tudo acabe até sexta-feira.

Dois senadores republicanos já sinalizaram que podem vir a apoiar a convocação de novas testemunhas: o ex-candidato a presidente republicano em 2012, Mitt Romney, e sua colega de bancada, Susan Collins.

Apesar disso, mesmo nos cenários mais otimistas anti-Trump, nada há até aqui que indique a possibilidade de que 20 senadores republicanos rompam com a Casa Branca em pleno ano eleitoral, ameaçando fazer o partido perder a presidência e talvez o controle do Senado, para viabilizar o impeachment, que exige dois terços dos votos do Senado.

Como registrou The Nation, os senadores republicanos “afundaram tanto suas reputações e perspectivas políticas na presidência de Trump, que não podem se dar ao luxo de recuar agora. Como um banco de Wall Street, Trump se tornou grande demais para falir, então ele sempre precisa ser socorrido”.

 

Estrategicamente, o New York Times divulgou trechos do livro de Bolton ‘The Room Where It Happened’ (‘A Sala em Que Ocorreu’, em tradução livre), que só estará nas livrarias em março, reacendendo as expectativas dos democratas, que estão apostando todas as fichas no notório carniceiro.

Segundo o NYT, no livro Bolton afirma que Trump disse em agosto de 2019 “que ele queria continuar congelando US$ 391 milhões em assistência de segurança à Ucrânia até que as autoridades de lá ajudassem nas investigações de democratas, incluindo os Bidens”.

O advogado de Bolton lamentou que “o processo de revisão de pré-publicação” haja sido “corrompido” com o artigo do Times, mas não confirmou nem negou a reportagem.

O manuscrito também confidencia o envolvimento do secretário de Estado, Mike Pompeo, e do chefe de gabinete interino de Trump, Mick Mulvaney.

De acordo com o jornal nova-iorquino, Bolton no livro sustenta que Trump queria manter congelada a ajuda militar à Ucrânia até arrancar do governo de Kiev uma investigação contra Joe Biden, e seu filho, Hunter. Aquele que, que graças ao carismático sobrenome, fora aquinhoado com uma sinecura na empresa de gás privada ucraniana Burisma, sem entender nada de gás.

Os sete promotores democratas emitiram uma nota exigindo a convocação do ex-conselheiro de segurança nacional e maníaco de guerra. “Durante nossa investigação de impeachment, o presidente bloqueou nosso pedido do testemunho de Bolton. Agora vemos o porquê. O presidente sabe o quão devastador seria seu testemunho e, segundo o relatório, a Casa Branca recebeu um rascunho de seu manuscrito”.

O próprio NYT pediu em editorial que o presidente da Suprema Corte e que encabeça o julgamento do impeachment, John Roberts, emita uma intimação para que Bolton deponha.

Já Trump negou peremptoriamente as afirmações de Bolton e tuitou que se ele disse isso, “foi só para vender livros”. Mas, por via das dúvidas, também alegou que “o problema com John é que é um problema de segurança nacional”. “Ele conhece alguns dos meus pensamentos. Ele sabe o que penso sobre líderes. O que acontece se ele revela o que penso sobre um determinado líder e não é muito positiv o e ent& atilde;o eu tenho que lidar em nome do país?”

O faz-tudo de Trump para assuntos da Ucrânia, Rudy Giuliani, disse à CNN que Bolton “só responde e presta atenção a situações onde ele pode invadir e derrubar um governo”.

O que antecipa a provável – e ainda mais cínica – alegação da bancada republicana, para justificar sumir com Bolton, ainda segundo The Nation: de que ele “é um ex-funcionário insatisfeito, um Dr. Strangelove, a quem Trump demitiu por tentar iniciar guerras”.

 

A outra candidata a ‘arma fumegante’ é o áudio do telefonema, de iniciativa do próprio Trump, para o cúmplice de Giuliani nas operações de “convencimento” na Ucrânia, Lev Parnas, que por precaução gravou tudo. O que está se mostrando muito útil depois de ter sido preso e virado a casaca. Trump garantia não conhecer Parnas.

Até agora, o processo de impeachment não parece ter tido um efeito avassalador sobre o cenário eleitoral. A taxa de aprovação de Trump se manteve em 42%, embora pesquisa mostre que aqueles a favor do impeachment do presidente bilionário aumentaram de 47% para 51%, conforme a CNN.

Com tantos crimes cometidos por Trump, da xenofobia e racismo aos assassinatos seletivos, crimes de guerra, evasão fiscal e violações múltiplas da constituição norte-americana, a oposição democrata preferiu a acusação de “solicitar a intervenção estrangeira” [da Ucrânia sob golpe da CIA desde 2014] em “benefício próprio” e “obstrução do Congresso”. Mas em sua defesa da necessidade do impeachment de Trump, o democrata Schiff Adams não se furtou a explicitar do que tratava ao acusar Trump de “ameaçar a segurança nacional dos EUA” ao congelar a ajuda militar à Ucrânia. Segundo ele, “estamos combatendo os russ os l&aac ute;, para não ter de combatê-los aqui”, insistindo na alucinada responsabilização da Rússia pela derrota da predileta de Wall Street, depois do estelionato eleitoral “yes, we can” de Obama, que por oito anos só fez cuidar dos bancos e ao deixar a Casa Branca saiu de lá com o projeto da sua Fundação Obama, orçada em US$ 1 bilhão.

 

BURISMA

 

Quanto a Biden, não há certeza sobre se sairá fortalecido ou chamuscado do processo já que o pimpolho Hunter se lambuzou todo na Ucrânia e, ao que se diz, também na China. Ainda mais com o famoso vídeo, em que o próprio Biden, então vice de Obama, se gaba de como demitiu o procurador-geral da Ucrânia, por perseguir o oligarca dono da Burisma – por coincidência o mesmo que depositou US$ 3 milhões nas contas de Hunter -, depois de ameaçar cortar US$ 1 bilhão de empréstimo dos EUA.

Fontes democratas desmentiram os rumores de que estaria em negociação uma troca de depoimento de Bolton pelo de Hunter.

Na quarta-feira, os senadores também terão 16 horas para fazerem perguntas por escrito, a serem lidas pelo juiz Roberts, para serem respondidas pela defesa e pela acusação. Se falhar a convocação das testemunhas, após as perguntas por escrito, haverá as alegações finais da acusação e da defesa, e cada uma das duas acusações (“abuso de poder” e “obstrução do Congresso”) serão votadas separadamente e para não sofrer impeachment Trump só precisa segurar 34 senadores.