O ex-prefeito de Nova Iorque e advogado de Trump, Rudy Giuliani, contratou advogado para defendê-lo perante a Câmara. (Montagem CNN/Getty Images

Advogado do presidente Trump, Rudy Giuliani acaba de contratar um para defendê-lo diante da intimação feita a ele pelo comitê de Inteligência da Câmara, registrou o Miami Herald, na mais recente escaramuça do ‘Trumpgate’, a denúncia de que Trump pressionou o novo presidente ucraniano por telefone a investigar a corrupção do ex-vice de Obama, Joe Biden, que agora é pré-candidato a 2020, sob ameaça de cortar a ajuda militar.

 

Foram enviadas intimações também à Casa Branca, ao vice de Trump, Mike Pence, e ao Departamento de Estado. O comitê deu prazo até 15 de outubro para que Giuliani entregue documentos relacionados ao seu trabalho com os ucranianos em nome de Trump.

Como o jornal ressaltou, em tom zombeteiro: “você sabe que está com um grande problema quando seu advogado precisa de um advogado.

Foi o próprio Trump que jogou Giuliani na roda, ao citar seu nome no telefonema ao novo presidente ucraniano que gerou toda a polêmica e ameaça de impeachment, como consta do resumo-transcrição que o presidente se viu forçado a fornecer.

Em defesa de Trump e, provavelmente, em sua própria, Giuliani disse à Reuters que o mandatário norte-americano, na ligação de 25 de julho, não havia oferecido ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky qualquer “contrapartida” por colaborar investigando Biden e o filho.

A Casa Branca reagiu, dizendo que não cooperaria com intimações ou outras demandas por informações, enquanto a Câmara não votar formalmente o início do inquérito de impeachment – o que até agora não ocorreu, com os diferentes comitês da Casa se incumbindo de investigações paralelas.

O secretário de Estado Mike Pompeo disse no sábado que o Departamento de Estado emitiu uma resposta inicial a um pedido do Comitê de Relações Exteriores da Câmara de documentos dos contatos com o governo ucraniano. “Obviamente, faremos tudo o que for exigido por lei”, afirmou Pompeo em entrevista coletiva na Grécia. Na semana passada, ele admitiu ter estado presente durante a ligação Trump-Zelensky, mudando sua primeira versão.

Pompeo havia chamado as investigações de “jogo bobo de pegadinhas” e chegara a denunciá-las como ‘bullying’ contra os funcionários de seu Departamento. Em seu depoimento à Câmara, Kurt Volker, o ex-enviado especial para a Ucrânia, asseverou que não se envolveu ou teve conhecimento de quaisquer esforços para pressionar o governo ucraniano a investigar alegações contra Biden.

A acusação dos democratas é Trump prejudicou a segurança nacional e a integridade das eleições nos EUA para obter ganhos políticos pessoais, contra Biden. Trump chamou de “fraude” a investigação de impeachment. Na transcrição, antes de pedir a investigação da corrupção, Trump solicita um “favor” de Zelensky, achar os servidores da Crowstrike, empresa de guerra cibernética envolvida no Russiagate e que monitorou os computadores do Diretório Nacional Democrata em 2016.

Para o deputado democrata Jim Himes, do comitê de inteligência, cada vez que Trump abre a boca sobre o assunto, corrobora as denúncias e ajuda bastante os comitês de inquérito do impeachment. Isso quando não vai além e, publicamente, convoca a Ucrânia e, de quebra, a China, a investigarem a corrupção de Biden e seu filho, Hunter.

Para o deputado democrata Peter Welch, a identidade e credibilidade do denunciante são essencialmente insignificantes, já que as alegações da fonte foram confirmadas pelo próprio resumo público da chamada a Zelensky da Casa Branca.

Sentindo que o “convite” à China estava pegando mal, e que qualquer um poderia alegar que ele, Trump, estaria oferecendo trocar concessões nas negociações comerciais iminentes pela perseguição a Biden de parte de Pequim, o presidente bilionário resolveu esclarecer que considerava as duas discussões, combate à corrupção e disputa comercial, separadas.

Antes, pelo Twitter, Trump insinuou que, se houvesse impeachment, haveria uma “fratura como a guerra civil” nos EUA. E ameaçou o agente da CIA que formalizou a denúncia e até o mesmo o presidente da comissão de inteligência da Câmara, Adam Schiff: “traidor”.

Em outro desdobramento, The New York Times afirmou que um segundo agente da inteligência, que foi inquirido pelo inspetor-geral Michael Atkinson, está ponderando depor para corroborar a denúncia inicial do agente da CIA. Aquela de segunda mão, subitamente ‘legalizada’ por novo critério de denúncia na CIA.

Foi também o NYT que revelou que o agente que fez a denúncia foi antes procurar o pessoal do deputado Schiff, para se informar sobre os procedimentos para fazer denúncia e estes, gentilmente, fizeram o melhor que puderam.

O testemunho de Atkinson ao comitê liderado por Schiff durou quase sete horas, em que descreveu os detalhes de sua investigação sobre a queixa do ‘denunciante anônimo’ .

De acordo com os democratas do comitê, o depoimento dele teria confirmado os componentes cruciais da denúncia. “Exploramos com o IG [inspetor-geral] por meio de documentos e testemunhos as razões pelas quais ele considerou a denúncia tão urgente quanto credível”, afirmou Schiff.

A revelação do NYT de que a equipe de Schiff orientara previamente o agente da CIA que denunciou o telefonema de Trump levou o deputado republicano John Ratcliffe a observar que a “maioria [do Comitê de Inteligência] é testemunha de fato na mesma investigação que está fazendo agora”.

Biden na prática, depois do golpe da CIA em Kiev em 2014, virou uma espécie de vice-rei. Em vídeo que circula na internet, ele se vangloria de ter demitido o procurador-geral da Ucrânia, que investigava a corrupção da empresa de gás privada Burisma, após ameaçar cortar empréstimo de US$ 1 bilhão.

Sem qualquer qualificação para tal ou conhecimento do setor, seu filho Hunter havia sido agraciado com cargo de diretor na Burisma, com salário de US$ 600.000 anuais. Mordomia que só deixou este ano, após a derrota de Poroshenko diante de Zelensky em abril.

O procurador geral demitido por ordem de Biden, Viktor Shokin, afirma ter recebido da embaixadora norte-americana, Marie Yovanovitch, uma lista de magnatas que não deviam ser tocados pelas investigações de corrupção. Yovanovitch foi removida da embaixada em maio.

Para aprovar o impeachment de Trump, os democratas já têm os votos necessários na Câmara, mas estão longe dos dois terços necessários no Senado. O que implicaria em obter 20 votos de senadores republicanos.

Entre os republicanos, até agora, só Mitt Romney se atreveu a criticar Trump abertamente – que já tuitou de volta: “babaca pomposo”. Romney disputou a presidência em 2012 e perdeu para Obama. Na tentativa de deter a ofensiva democrata pelo impeachment, a campanha de Trump está gastando milhões em anúncios de televisão, martelando as acusações a Biden e dizendo que o impeachment “é golpe”.

Quando não está ocupado com o impeachment, Trump faz mais do mesmo: corta o visto do imigrante que não tiver dinheiro para pagar um plano de saúde, implora ao Fed para que corte os juros antes que a casa caia em Wall Street na véspera da eleição e sonha com um belo fosso cheio de crocodilos na fronteira sul e com franco-atiradores mirando migrantes nas pernas.