O professor Ildo Sauer, do Instituto de Energia da USP e ex-diretor da Petrobras, considera delicada a situação criada com o ataque norte-americano ocorrido na madrugada de sexta-feira (3) e que levou à morte do general iraniano, Qasem Soleimani. Apesar de já terem sido observadas alterações de preços do barril de petróleo – com variações que chegaram a quatro pontos percentuais – estas são, na opinião do especialista, “resultado apenas de especulação”, conforme afirmou em entrevista ao jornal Hora do Povo.

“Não dá ainda como avaliar como os preços reagirão. Tudo vai depender de como o Irã vai se comportar”, observou. “Caso o conflito provoque a obstrução da rota de petróleo pelo estreito de Ormuz, no Golfo Pérsico, aí sim a economia mundial poderá ser afetada pelos acontecimentos”, acrescentou o professor da USP.

“Também ficará na dependência da estrutura logística da Arábia Saudita. Se ela for atingida, poderá afetar a oferta de petróleo mundial”, afirmou.

Falta diplomacia

Na opinião do professor, o ataque é “um ato terrorista que atenta contra a diplomacia”. “Estão fazendo falta grandes estadistas que sabiam superar conflitos através da diplomacia. Foi assim nos momentos mais tensos vividos pela Humanidade, como foi a crise dos mísseis em Cuba e outras ocasiões. Mas, agora, grupos de pessoas desqualificadas subiram ao poder nos EUA, na Inglaterra e também no Brasil. E deles não se espera nada muito diferente do que está acontecendo”, avaliou Sauer.

“Tudo vai depender dos desdobramentos e da dimensão que tomar a resposta iraniana”, disse o professor. Para ele, a atuação da Rússia e da China será decisiva para impedir que o conflito tome proporções descontroladas. “A estabilidade do mundo estará nas mãos da China, da Rússia e de como vai reagir o Irã”, destacou o ex-diretor da Petrobras.

Para o especialista da USP, “não há como prever em que sentido um conflito dessa magnitude poderá interferir na política interna dos EUA”. “Setores retrógrados e decadentes do capitalismo americano, que, por circunstâncias específicas, levaram à vitória uma figura como Trump, parecem estar se juntando aos falcões da guerra”, disse Ildo Sauer.

Para ele, “Trump, que tinha um comportamento contraditório, parece ter aderido à política agressiva desses setores”.

“Diferente da atitude tomada em relação à Coreia Popular, por exemplo, Trump vinha tendo um comportamento contraditório em relação ao Irã”, lembrou o especialista em energia. “A retirada dos EUA do acordo nuclear com o Irã, levou o país do Oriente Médio a se aproximar mais da China e Rússia”, avaliou.

Ildo Sauer lembrou que os EUA tinham tradicionalmente o Exército, os Fuzileiros Navais, a Guarda Nacional, a Marinha de Guerra e a Força Aérea e que, recentemente, teriam lançado mão de uma “sexta força”: a Força Espacial. Ao que parece, vão tentar, pelo espaço, impedir que a China assuma a hegemonia econômica mundial.

Cenário pré-atentado

Na semana passada (27/12) Irã, Rússia e China realizaram manobras militares conjuntas na região do golfo Pérsico.

O comandante adjunto do Exército do Irã para Assuntos de Coordenação, Habibollah Sayyari, afirmou, na ocasião, que, após os exercícios, “não há necessidade de realização de qualquer tipo de missões de segurança marítima estrangeira ilegítima na região do golfo Pérsico.

“Demonstrar a autoridade marítima do Irã no norte do oceano Índico e apresentar a sua experiência a outras nações é um dos objetivos destes exercícios[…], assim como o reforço das relações internacionais entre Irã, Rússia e China e a busca de caminhos para futuros exercícios’’, ressaltou Sayyari.