As investidas de manifestantes bolsonaristas contra o acampamento Terra Livre, na madrugada do 7 de Setembro, fizeram com que integrantes dos movimentos populares antes preparados para somar-se aos protestos na Esplanada dos Ministérios decidissem reforçar a resistência ao lado dos povos indígenas. “Amanheceu e me dirigi ao Acampamento Terra Livre para prestar apoio, juntamente a alguns camaradas do MPL-DF (Movimento Passe Livre). Companheiros do Psicanálise na Rua e do Clínica da Terra (MST/DF) também se articularam”, relata Thessa Guimarães, presidente do Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (DF). De acordo com a psicanalista, assim como ela, muitos representantes de entidades indigenistas, brasilienses de diferentes campos de atuação e lideranças comunitárias de todas as regiões administrativas do DF reforçaram a segurança do acampamento ao longo de todo o dia, muitos tendo passado uma noite insone após os bolsonaristas terem rompido a barreira policial na Esplanada. Ainda segundo o relato de Thessa, com cada oca de lona com sua vigília na entrada, pela manhã a tensão da madrugada foi substituída pelo clima de festa popular, conforme as delegações de mulheres indígenas foram chegando: “As mulheres Huni Kuin com seus violões e ukulelês, as Pataxó com cantos de guerra, as Guarani com crianças de colo, as Guajajara e Xakriabá com suas vozes de comando, as Kaingang com sua pisada forte e adolescentes de várias cores e cortes de cabelo”, descreve. Com o apoio de lideranças como Sonia Guajajara, Célia Xakriabá e Erika Kokay, as mulheres indígenas reivindicavam ao microfone, de forma quase ininterrupta, o direito à vida e denunciavam o Marco Temporal, que está sendo apreciado nesta quarta-feira (8/9) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A única pausa aconteceu para a recepção aos participantes do Grito dos Excluídos. Por conta da presença em Brasília ainda de manifestantes bolsonaristas e os riscos de segurança, as participantes da II Marcha Nacional das Mulheres Indígenas decidiram não ir para o STF hoje e acompanham a sessão do Supremo do acampamento Terra Livre. Enquanto isso, as tendas da Saúde testam em massa as mulheres e famílias. E equipes de voluntários atuam para atender às necessidades da marcha, que segue até o dia 11. Doações de itens como frutas, absorventes, cobertores, fraldas descartáveis, roupas de frio infantil e adulto, continuam sendo bem-vindas. A professora de geografia Marina Morenna, que esteve no acampamento logo pela manhã de ontem, antes de juntar-se aos manifestantes na Esplanada dos Ministérios, aderiu à mobilização para angariar barracas e pedaços de madeira para suportarem as lonas que abrigam os participantes. “Pretendo retornar ao acampamento nesta quarta-feira, para participar como voluntária”, conta Morenna, que também recomenda aos que forem ao acampamento visitarem a feira de artesanato indígena. “Precisamos de lanches, brinquedos e material escolar para pintar e desenhar”, diz a terapeuta Aleksandra Pessoa, uma das voluntárias que se revezam na atenção a cerca de 70 crianças enquanto as mães participam das atividades. Na Tenda das Crianças, os curumins são entretidos com bola, corda, bambolê, argila, tinta, bexiga com água, dobraduras, oficina de Abayomi, caixinha de som e desenho coletivo. As doações à Tenda das Crianças podem ser realizadas entrando em contato com o WhatsApp (77) 99196-8658. Outras doações podem ser entregues diretamente à coordenação na Funarte. A programação completa pode ser acessada no site da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), que coordena o evento (https://anmiga.org/marcha-das-mulheres/). Confira galeria de fotos cedidas pela psicanalista Thessa Guimarães: