O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) alerta que, apesar da produção industrial ter variado em alta de 4,7% no acumulado até o mês de novembro de 2021, frente ao mesmo período de 2020, “não cabe falar em recuperação” para a indústria em 2021.

“Na realidade o setor não se saiu bem. Muito deste crescimento deve-se a bases baixas de comparação e ao carregamento estatístico da reação na segunda metade de 2020, quando medidas emergenciais, a exemplo do auxílio pago às famílias, estavam em atuação”, lembrou o IEDI, em carta publicada na quarta-feira (19), intitulada “Para além das aparências”, onde expõe as barreiras que colocaram a indústria brasileira no atual quadro de estagnação.

“A evolução da indústria mês após mês, já descontados os efeitos sazonais, foi majoritariamente negativa no ano passado. Dos onze meses para os quais já existem dados oficiais do IBGE, nove ficaram no vermelho”, destacou o instituto, ressaltando que em novembro de 2021 a situação “não foi diferente e a produção industrial recuou -0,2% ante out/21”. “Como consequência, o setor ficou em um nível 7,5% inferior ao de dez/20, o que anulou tudo o que havia conquistado no 2º sem/20, de modo a retornar a um patamar de produção 4,3% abaixo do pré-pandemia, isto é, de fev/20. Frente a isso, não cabe falar em recuperação. Este desempenho vem minando a confiança dos empresários do setor e se continuar assim pode prejudicar suas decisões de investimento”.

Entre as principais barreiras encontradas pelo setor em 2021, estão: o desemprego elevado, a inflação acima dos dois dígitos e a subutilização em níveis recordes.

“As dificuldades em 2021 vieram de diferentes frentes. Com uma taxa de desemprego de dois dígitos, níveis recordes de subutilização por insuficiência de horas trabalhadas e aceleração da inflação, problemas de demanda não podem ser ignorados, especialmente porque com o avanço da vacinação e a normalização da parcela de serviços na cesta de consumo das famílias podem capturar recursos que vinham sendo direcionados à compra de bens industrializados”, destacou a entidade, ao constatar que “do lado da oferta, além do encarecimento de combustíveis e da energia elétrica, em função da crise hídrica, pressões de custo vieram da desorganização das cadeias produtivas”.

No mês de novembro, dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE, 12 ficaram no vermelho. A queda de -0,2% da produção industrial geral no mês foi acompanhada de uma queda de -0,4% na indústria de transformação. Com isto, a indústria de transformação se encontra 9,0% abaixo do nível de produção de dezembro de 2021 e 3,7% abaixo do pré-pandemia (fevereiro de 2020).

Segundo o IEDI, no penúltimo mês de 2021, “até mesmo o macrossetor de bens de capital, que reunia atividades com resultados melhores, começou a dar indícios de perda de tração. Em nov/21 registrou -3,0% ante out/21, a terceira taxa negativa dos últimos quatro meses. Ante a 2020, embora permaneça no azul, desacelerou rapidamente entre jul/21 (+36,6%) e nov/21 (+5,0%)”, pontuou.

2022 seguirá fraco para indústria

O IEDI concluiu a carta afirmando que, “com um final de ano que em nada dissipou as tendências negativas da indústria e sem efeito estatístico positivo, 2022 permanecerá, ao que tudo indica, um ano fraco para a indústria. Segundo projeção do Boletim Focus do Banco Central, o PIB total da indústria não deve passar de mero +0,2% em 2022, depois de um crescimento estimado de +4,6% em 2021, alavancado pela baixa base de comparação de 2020”.