Neste domingo (6) completam-se 44 anos do falecimento do ex-presidente João Goulart, na Argentina. Jango foi deposto pelo golpe militar de 1964, exilou-se no Uruguai e, posteriormente, na Argentina, onde faleceu aos 57 anos, de ataque cardíaco.

O corpo do ex-presidente foi levado de carro até São Borja, no Rio Grande do Sul, sua terra natal. Mesmo com o caixão lacrado, a comoção popular foi grande.

Mais tarde a causa mortis do ex-presidente deposto pelos militares levantou suspeitas de que ele teria sido assassinado. As suspeitas culminaram na exumação de seu corpo, em 2013.

Essa história está sendo contada em uma minissérie que estreou na Argentina a semana passada, dia 3 de dezembro. O documentário foi dividido em seis capítulos com o título “João Goulart na Argentina – A morte de um presidente”, dirigido por Maximiliano Gonzáles que será exibido no Canal Encontro, o canal cultural da TV estatal argentina.

A minissérie poderá ser vista pelo “Canal do Encontro” no youtube.

 

Ainda neste domingo de homenagens a João Goulart, um artigo publicado pelo presidente do Instituto João Goulart, o seu filho João Vicente Goulart, fala da memória de seu pai e da postura histórica do ex-presidente deposto pela ditadura. “De morrer no exílio sem claudicar da luta de teu povo”, destaca Vicente.
Leia abaixo a íntegra:

44 anos sem Jango, 44 anos presente

Sempre que, chega o 6 de dezembro, durante todos estes anos de tua ausência, quando me perguntam o que é ser filho de Jango, minha resposta sempre é de orgulho e esperança naquilo que acreditastes além tua morte, longe de tua Pátria, com saudades do povo brasileiro, dos mais humildes e desamparados, aspirando ver teu país uma terra mais justa e solidaria, mais equitativa e com idênticas oportunidades para todos.

Ser filho de Jango é estar presente sempre na luta pela emancipação de nosso povo, ser filho de Jango é ser filho da Pátria Grande, é não desistir da luta frente aos poderosos, é saber que um dia esse sonho será alcançado, e que a luta contra os exploradores de nossas riquezas, sanguessugas de nossa gente, será vitoriosa com o exemplo das mortes daqueles que como tu, ficaram pelo caminho.

A luta por uma democracia participativa como desejastes, com o povo realmente nas ruas, nas praças, no poder, no comando de seu destino que só a ele pertence, sem os fantoches autocratas que se julgam procuradores de uma massa de manipulação, estarão para sempre, escritos e gravados na nossa longa luta, interminável até que chegue a vitória.

Saudades e honra, é a memória de tua pessoa, de tua postura histórica, de morrer no exílio sem claudicar da luta de teu povo.

É então que respondo a esse questionamento, dizendo que tenho sim muito orgulho de ser filho de um homem que entendeu até o fim que o destino que lhe é imposto, é menos importante que sua convicção pela Pátria. Morrer pala Pátria não é pouca sorte.

Repudiaria meus dias se fosse filho de um ditador que subjugou minha Pátria a 21 anos de silêncio, ditadura, perseguições ilegais aos cidadãos de minha terra, aos que praticaram torturas e assassinatos seletivos, desapareceram seres humanos, violaram a Constituição e ainda assim, batiam continência a bandeira brasileira.

Ainda temos muito a percorrer e revisitar o projeto de Nação que tu querias, pois, o debate de tuas “Reformas de Base” ainda continuam presentes como solução ao país mais desigual que jamais sonhastes.

A academia hoje reconhece a tua figura gigante, a Nação precisa livrar-se das mesmas forças que te combateram, que te desterraram, mas que te mantiveram vivo até hoje, quando eles, os ditadores, os autocratas, os generais que te sucederam estão mortos e enterrados nos túmulos da história de nosso povo, o mesmo povo que te mantém vivo até hoje.

Saudades do pai, do líder!

Relembrar-te hoje é minha bandeira de resistência.

João Vicente Goulart