Haroldo Lima: Putin revisita aspectos polêmicos da II Guerra Mundial
Comemora-se agora os 75 anos de um feito memorável para a humanidade: a vitória dos “Aliados” contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial. Embora a crise do coronavírus impossibilite comemorações, a Rússia, apesar da pandemia, e com as cautelas necessárias, está homenageando essa grande vitória dos povos contra as forças hitleristas. A China mandou para Moscou todo um destacamento militar para participar dos festejos. Com máscaras sanitárias, esse grupo de elite desfilou cantando hinos marciais.
Por Haroldo Lima*
Na guerra contra a Alemanha nazista, uma grande frente internacional se formou, a dos “Aliados”. Ela foi vitoriosa. Mas, se olharmos em profundidade, veremos que, entre os vencedores, a antiga União Soviética, com seu Exército Vermelho, teve um destaque especial.
Em fevereiro de 1954, uma Comissão Aliada de Reparação da Alemanha, chefiada pelo diplomata Ivan Maisky, trabalhou para definir um mecanismo pelo qual a Alemanha derrotada pagaria pelos danos correspondentes causados às potencias vitoriosas. A comissão concluiu que “o número de dias de soldado gastos pela Alemanha na frente soviética é pelo menos 10 vezes maior do que em todas as outras frentes aliadas. A frente soviética também teve que lidar com quatro quintos dos tanques alemães e cerca de dois terços das aeronaves alemãs”.
No comando dos “Aliados” estiveram três chefes de estado que passaram à história como “os três grandes”: Joseph Stalin, da União Soviética, Franklin Roosevelt, dos Estados Unidos e Winston Churchill, da Inglaterra.
Franklin D. Roosevelt, no dia 28 de abril de 1942, afirmou em discurso à nação americana: “As tropas russas destruíram e continuam destruindo mais tropas, aviões, tanques e armas de nossos inimigos, do que todas as outras nações unidas “.
Winston Churchill, em mensagem dirigida a Joseph Stalin, de 27 de setembro de 1944, escreveu “o Exército russo arrancou as entranhas da máquina militar alemã …”.
Durante a guerra, o exército nazista esteve na ofensiva desde o início das operações bélicas, em setembro de 1939, quando ocupou a Polônia, até fevereiro de 1943, quando foi derrotado na batalha de Stalingrado. Nesse período, a máquina de guerra hitlerista conquistou diversos países.
Stalin, nesse tempo, insistiu junto aos “Aliados” para que abrissem uma frente de batalha na Europa ocidental, o que dividiria as forças nazistas e aliviaria a pressão da Alemanha sobre a União Soviética. A abertura dessa frente ocidental sofreu muito atraso.
O Exército Vermelho, após a vitória em Stalingrado, passou a uma ofensiva geral, que foi de julho de 1942, quando venceu em Stalingrado, a maio de 1945, quando terminou a guerra. No curso dessa ofensiva, Varsóvia, Belgrado, Viena, Praga foram libertados. No dia 1º de maio de 1945, a bandeira vermelha foi hasteada, triunfalmente, no Reichstag, em Berlim.
Cerca de dois anos após a vitória do Exército Vermelho em Stalingrado, os “aliados” abriram a frente de guerra na Europa ocidental, na Normandia, no conhecido dia “D”, em junho de 1944. Os reforços trazidos com esse desembarque, em muito ajudaram os “Aliados” na guerra e apressaram a derrocada do hitlerismo.
O fim da União Soviética, em 1991, fez surgir em seu lugar a Comunidade dos Estados Independentes, a CEI, cujo mais importante membro é a Rússia, que aparece, até certo ponto, substituindo a URSS.
Na época da União Soviética e até hoje, nos marcos da Rússia, a Segunda Guerra Mundial nunca deixou de ser chamada por esses povos de Grande Guerra pela Pátria. Os soviéticos, e hoje o povo russo, reverenciam, em diversas oportunidades, todos os anos, a bravura com que se comportaram na Grande Guerra e a vitória conquistada. A importância dessa vitória é muito mais valorizada por lá do que pelos demais países ocidentais.
Agora, quando a vitória na Grande Guerra pela Pátria completa 75 anos, o presidente da Rússia, Wladimir Putin, fez divulgar em nível internacional um artigo intitulado “75 anos da Grande Guerra pela Pátria: responsabilidade perante passado e futuro”. Trata-se de um levantamento histórico percuciente, objetivo, corajoso. Faz denúncias de fatos antigos, anteriores à guerra, de outros, ocorridos no curso da mesma e de outros ainda da atualidade. Indica caminhos. Quem queira conhecer, em linhas gerais, como surgiu e se desenvolveu a Segunda Guerra Mundial, deve lê-lo.
O artigo mostra o tirocínio e a firmeza de Stalin durante a guerra e antes que ela eclodisse, ao tempo em que observa que “Stalin e seu círculo próximo merecem muitas acusações justas”, tema referido de passagem e que deve ser visto com cautela.
Putin refere-se a demolições de “monumentos erigidos em homenagem àqueles que lutaram contra o nazismo”, em “atos vergonhosos justificados por falsos slogans da luta contra uma ideologia indesejável…”.
A chamada “ideologia indesejável”, contra a qual comete-se “atos vergonhosos”, “barbaridades”, “infâmias” e “calúnias”, é a ideologia que dotou o Exército Vermelho do indomável espírito de luta que derrotou o nazismo, é a ideologia libertária, democráta, socialista, igualitária, sem a qual o Exército Vermelho seguramente teria sido trucidado pelo nazismo.
O combate a essa ideologia hoje é feito por setores neofascistas que se reanimam em alguns países do mundo, como no Brasil, onde, em conluio com grupos corruptos e milicianos, apoderaram-se do poder central.
Que os 75 anos da vitória da Grande Guerra pela Pátria da antiga União Soviética e da Rússia atual, ou da Segunda Guerra Mundial para outros povos, sirvam de inspiração à luta libertária e antifascista dos povos do mundo inteiro, inclusive o brasileiro.
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