Haroldo Lima: O abominável exemplo de um mentiroso e corrupto
1. Na terça-feira (26/01/2021), Bolsonaro, em evento promovido pelo Crédit Suisse, afirmou:
“Sempre disse que qualquer vacina, uma vez aprovada pela Anvisa, seria comprada pelo governo federal.”
Na rádio Jovem Pan, (21/10/2020), disse:
“Mesmo se a vacina da Covid for aprovada pela Anvisa, eu não compro. A vacina da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população. Esse é o pensamento nosso. Tenho certeza que outras vacinas que estão em estudo poderão ser comprovadas cientificamente, não sei quando, pode durar anos”
Por Haroldo Lima*
2. No evento de terça-feira, (26/01/2021), no mesmo Crédit Suisse, declarou:
“Já somos o sexto país que mais vacinou no mundo. Brevemente estaremos nos primeiros lugares, para dar mais conforto à população e segurança a todos, de modo que a nossa economia não deixe de funcionar.”
O Brasil, em termos absolutos, é, no momento, o 16º país em número de vacinados. Em termos relativos (vacinados em percentagem da população), é o 19º e está em penúltimo lugar no ranking internacional de vacinação contra a Covid-19, com apenas 0,4% da população tendo recebido ao menos uma dose de vacina (cf. Our World in Data, Coronavírus (COVID-19) Vaccinations, 26/01/2021).
Na mesma terça-feira em que Bolsonaro falou no Crédit Suisse, o número de mortos pela Covid-19, no Brasil, atingiu 218 mil e 878 pessoas.
3. Em 26/11/2020, em live, quinta-feira, Bolsonaro relembrou:
“A grande mídia falando (sic) que eu chamei de gripezinha a questão do (sic) covid. Não existe um vídeo ou um áudio meu falando dessa forma”.
Em 20/03/2020, em uma coletiva de imprensa, Bolsonaro manifestou:
“Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar, tá ok?”.
Quatro dias depois, em pronunciamento nacional em rádio e TV repetiu:
“No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico, daquela conhecida televisão”.
4. Em 19/12/2020, em entrevista gravada no Rio de Janeiro profetizou:
“A pandemia, realmente, está chegando ao fim. Temos uma pequena ascensão agora, que chama de pequeno repique que pode acontecer, mas a pressa da vacina não se justifica.”
Naquele momento a pandemia já matara 180 mil brasileiros. A partir daí, até agora, fim janeiro de 2021, já morreram cerca de 40.000, a mais.
5. O professor Pedro Hallal, reitor da Universidade Federal de Pelotas, escreveu uma carta à revista “The Lancet”, (revista científica londrina, das mais prestigiadas do mundo). A carta foi publicada com o título “SOS Brasil: ciência sob ataque” na revista que circulou no dia 22/01/2021.
Trechos de comentário sobre a razão de escrever a carta ao The Lancet:
“A má condução da pandemia pelo governo brasileiro está passando de todos os limites e, agora, com essa questão da vacinação, a situação ficou insustentável. Achei que a comunidade científica internacional deveria saber do que está acontecendo”.
Trechos da carta:
“A resposta trágica do Brasil à covid-19 tem um preço”.
“A população brasileira representa 2,7% da população mundial. Se o Brasil também representasse 2,7% das mortes por covid-19 (isto é, tivesse uma performance no enfrentamento da covid-19 igual à média mundial), 56.311 pessoas teriam morrido. Contudo, até o dia 21 de janeiro de 2021, 212.893 pessoas haviam falecido devido à covid-19 no país”.
“Em outras palavras, 156.582 vidas foram perdidas por causa do mau desempenho brasileiro no enfrentamento da pandemia.”
6. O Portal da Transparência mostrou que o governo Bolsonaro investiu R$ 1,8 bilhão de reais em produtos alimentares durante 2020, ano em que faltou dinheiro para comprar seringas e em que, segundo Bolsonaro, o país quebrou. Destes, mais de 15 milhões de reais foram para comprar leite condensado, cada lata a R$ 162, quando no mercado o preço é de R$ 28. Em vinho, foram investidos R$ 2,5 milhões, R$ 16,5 milhões em batata frita, R$ 13,4 milhões em barras de cereal, R$ 12,4 milhões em ervilhas em conserva, R$ 21,4 milhões em iogurte natural e R$ 2,2 milhões em chicletes.
Bolsonaro, na tarde de 28 de janeiro passado, em almoço com artistas (nenhum muito conhecido) ao falar sobre esses gastos descontrolou-se e, conforme está gravado em vídeo, gritou:
“Lata de leite condensado. Vá pra puta que o pariu. Imprensa de merda. É pra enfiar no rabo de vocês … essas latas de leite condensado.”
Foi o que disse o presidente. Não explicou nada.
A compra foi feita sem licitação, da empresa “Saúde & Vida Comercial de Alimentos Eireli”, registrada como de “porte ME”, que significa Microempresa Individual, com faturamento anual de até R$ 360 mil, com capital social de R$ 100 mil, pertencente a Azenate Barreto Abreu, casada com Elvio Rosenberg da Silva Abreu, um pastor, pais do Elvio Rosenberg da Silva Abreu Junior, fornecedor de uniformes e tecidos para o Ministério da Defesa.
É claro que a corrupção grassou.
(com extratos de “Bolsonaro e a vacina: mentiras, desrespeito ao Brasil e falta de pudor”, de Carlos Lopes, na Hora do Povo, 26/01/2021.)
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(*) Haroldo Lima é membro da comissão política do comitê central do Partido Comunista do Brasil
As opiniões aqui expostas não refletem necessariamente a opinião do Portal PCdoB