Haitianos ampliam greve contra violência e falta de combustível
O povo haitiano voltou a paralisar completamente as atividades nesta quarta-feira (26), no terceiro dia de protestos contra a violência paramilitar e o agravamento da crise causada pela falta de combustível.
Setores como o da saúde, comércio, telefonia e transporte têm alertado para as graves consequências da escassez generalizada no país caribenho, enquanto o governo – que tomou posse após a execução do presidente Jovenel Moise – promete restabelecer o fluxo de combustíveis.
“Nunca havia visto nada assim em dez anos”, disse à AFP Maarten Boute, diretor executivo da empresa de telefonia Digicel, que cobre 75% do mercado haitiano. Segundo Boute, “a empresa tem afetadas neste momento 430 das 1.500 antenas que possui no país, o que prejudica a centenas de milhares de clientes”.
Convocados pelas entidades sindicais, professores e funcionários fecharam as escolas e as demais instituições públicas para denunciar a escalada de selvageria que varre o país. Na sua conclamação à greve, os sindicatos dos transportes conclamam a população a suspender todas as atividades a fim de obrigar o Estado a garantir a segurança de vidas e bens.
Levantamentos das organizações de direitos humanos apontam que os sequestros triplicaram de julho a setembro, em relação aos meses anteriores, com as milícias controlando atualmente cerca de 40% da capital.
Dando uma mostra do seu poder, gangues da coalizão G9 bloquearam o acesso ao terminal Varreux, onde está armazenada a maioria dos produtos petrolíferos consumidos no Haiti. O incidente iniciou na madrugada de segunda-feira, mas até esta quarta-feira não havia informações sobre a retomada das atividades do terminal.
Além disso, uma fonte que trabalha no terminal petrolífero informou que vários tiros foram disparados na área, outro obstáculo que impedia os funcionários de chegarem até o local. “Há muitos tiroteios na área, o que nos impede de trabalhar. Nem mesmo temos acesso ao terminal. As estradas que levam ao terminal ainda estão bloqueadas “, disse a fonte consultada pelo jornal local Le Nouvelliste.
Os escritórios de proteção ao cidadão pediram às gangues que abram corredores humanitários para permitir a distribuição de combustível aos hospitais.
O país atravessa uma grave crise política, econômica e social, agravada pelo assassinato de Moise, em 7 de julho, e pelo terremoto que causou mais de 2.200 mortes no último 14 de agosto.