Sérgio Rubens

Vice-presidente nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Sérgio Rubens de Araújo Torres, que completou a sua existência física há, precisamente, um ano, era desses seres, gigantescos, titânicos, tenazes, incapazes de desânimo – ou de descanso – diante da luta por um Brasil e um mundo melhor.

O que havia nele de tão extraordinário? Quais as motivações de sua trajetória revolucionária, de suas realizações tão eminentes?

Podemos dizer, com segurança, que Sérgio sintetizava uma profunda humanidade dentro de si mesmo. E não é um exagero – em absoluto – dizer que todos os seus atos revelavam a inevitável identificação com seus semelhantes. O povo, em especial os mais pobres, os mais desvalidos, era a própria causa de Sérgio – era sua missão.

Desde a época em que era aluno do Colégio Pedro II; depois, como estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); como ativista e militante do movimento estudantil contra a ditadura; após o AI-5, quando os espaços de atuação legal se fecharam, como comandante da luta armada, no combate à tirania sanguinária e pró-imperialista.

Foi a tragédia no Brasil da época: para submeter o nosso povo, instalou-se um regime terrorista, com base na tortura e no assassinato.

Sérgio, no entanto, como outros companheiros, não cedeu ao medo, não refugiou-se na covardia. Foram – e Sérgio foi – à luta com as armas que tinham. Sérgio arriscou a própria vida para libertar o Brasil.

Era um combate desigual. No entanto, como já se disse, aquela resistência deixou uma marca indelével na História.

Ao final e ao cabo, foi a ditadura que saiu derrotada. Até hoje suas viúvas destilam queixumes – inclusive aquelas que, até janeiro, ainda não saíram do poder.

Sérgio Rubens era, nessa época, dirigente do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8). No período posterior à luta armada, participou da luta de massas, que se seguiu, pela redemocratização do país, com seus grandes marcos – sobretudo a Anistia e a própria derrubada da ditadura.

Não é possível, nesta pequena lembrança, mencionar todas as contribuições de Sérgio para o movimento popular, democrático e nacional. Ele era daqueles, raros, que se mobilizava de acordo com as necessidades do povo – se houve alguém que entendia a liberdade realmente como o conhecimento da necessidade, esse alguém foi Sérgio Rubens de Araújo Torres.

Mas é preciso, apesar deste texto não pretender esgotar a contribuição de Sérgio, mencionar o edifício cultural – seus filmes, as várias ramificações artísticas do Centro Popular de Cultura da Umes (CPC-Umes), os cursos de literatura e de história, os inúmeros artigos, etc. – que ele assentou, tijolo por tijolo.

Sérgio substituiu Cláudio Campos, quando da morte desse outro grande combatente, na Secretaria Geral do MR8.

Foi uma unanimidade. Ninguém achou que o secretário geral do MR8 pudesse ser outra pessoa. Em todas as iniciativas de Cláudio Campos, no desenvolvimento da teoria assim como na intervenção prática, inclusive na fundação e direção do jornal HORA DO POVO, Sérgio Rubens fora um colaborador e camarada unido fraternalmente a Cláudio.

Sérgio Rubens, quando da fundação do Partido Pátria Livre (PPL), foi eleito, também por unanimidade, presidente do partido.

Como nós sabemos, entramos nos últimos anos, em nosso país, em mais um período de turbulências políticas.

O auge desse período foi a chegada de Bolsonaro ao Planalto.

Nesse momento, entendendo o momento – e o seu perigo extremo -, Sérgio Rubens defendeu a incorporação do PPL no Partido Comunista do Brasil (PCdoB). “No momento em que sofremos uma derrota, é necessário concentrar forças”, disse ele.

Seu imenso prestígio foi decisivo para a incorporação. Sem Sérgio, sem sua defesa da incorporação e sem esse prestígio, conquistado em décadas de luta abnegada, heroica e luminosa, tudo teria sido muito mais difícil.

Eleito vice-presidente do PCdoB, ele anunciou, com seu humor tão característico, que seria “um vice-presidente discreto e laborioso”.

E ele o foi.

Resta dizer que Sérgio era um homem suave – e ao mesmo tempo firme. Não levantava a voz – e não transigia com os princípios. Era simples e muito inteligente. Capaz de expor os conceitos mais complexos de um modo perfeitamente inteligível para os simples e comuns.

E, antes de tudo, com uma rara sede de estudar – e uma exigência de que outros estudassem. “O principal inimigo da classe operária”, disse ele muitas vezes, “é a ignorância”.

Foi esse homem que nos deixou há um ano.

Mas, está errado. É incorreto dizer que eles nos deixou. Pois ele permanece, não somente através de sua obra e de sua história, mas dentro de nós. Seu legado de humanidade – e, consequentemente, brasilidade – é eterno porque, antes de tudo, vive em nós.

Neste momento, em que o povo brasileiro conseguiu vencer uma batalha fundamental contra o fascismo, a luz de Sérgio Rubens rebrilha – e nos iluminará o caminho.

Luciana Santos
Presidente Nacional do PCdoB

(BL)