Biden já sinalizou querer manter tropas dos EUA até novembro, o que seria violação do acordo de Doha

A guerrilha afegã advertiu os EUA que haveria uma “reação” se o presidente Biden não cumprisse com a retirada das tropas invasoras até o prazo final de 1º de maio, como estabelecido pelo acordo de paz EUA-Talibã assinado em Doha no ano passado.

Os comentários foram feitos em Moscou, onde o governo oficial afegão e os guerrilheiros talibãs se reuniram para discutir o processo de paz, sob auspícios da Rússia, em encontro presidido pelo ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov. Também estavam presentes o representante dos EUA, Zalmay Khalilzad, e enviados da China, Paquistão e Qatar.

As tropas norte-americanas “têm de ir”, enfatizou Suhail Shaheen, membro da delegação do Talibã. Ele avisou que se os EUA ficassem além de 1º de maio, seria uma violação do acordo de Doha. “Depois disso, será uma espécie de violação do acordo. Essa violação não seria do nosso lado … A violação deles terá uma reação”, afirmou Shaheen.

Na véspera, Biden dissera que à rede de TV ABC que era “difícil” a retirada de todas as tropas norte-americanas até 1º de maio, acrescentando que o acordo de retirada “não foi negociado de forma muito sólida pelo ex-presidente”. “Estou no processo de tomar uma decisão agora sobre quando eles [os soldados norte-americanos] partirão”, acrescentou.

A NBC News disse por sua vez que Biden estaria considerando estender até novembro a ocupação no Afeganistão, depois de resistir às pressões do Pentágono para permanecer indefinidamente.

O representante talibã também pediu negociações de paz “aceleradas” com o governo oficial de Cabul. “É importante que as negociações sejam aceleradas porque isso nos ajudará a alcançar um cessar-fogo permanente e a paz em todo o país e este é o nosso objetivo”, disse ele. “Enquanto conversávamos com políticos afegãos, eles também insistiram que o processo deveria ser acelerado.”

A Rússia vem hospedando cúpulas sobre o Afeganistão há anos, mas os EUA geralmente não participam. EUA, Rússia, China e Paquistão divulgaram um comunicado conjunto pedindo um acordo político.

O dia 8 de fevereiro marcou o primeiro ano completo em que nenhum soldado americano morreu em combate no Afeganistão desde o início da guerra.

Embora o Talibã tenha mantido seu compromisso de não atacar as tropas dos EUA, ataques aéreos norte-americanos ainda ocasionalmente têm como alvo o grupo. Um porta-voz militar dos EUA anunciou na quarta-feira que os EUA bombardearam alvos do Talibã na última semana. No fim de semana, fontes anunciaram que o chefe do Pentágono, Lloyd Austin, havia chegado a Cabul, capital afegã, em uma visita surpresa, e iria se reunir com altos funcionários locais.