Camponeses e indígenas marcharam até o Congresso para exigir a saída do presidente

Milhares de camponeses e indígenas se concentraram na Praça da Constituição, em frente ao Congresso Nacional, na cidade da Guatemala, para exigir a imediata renúncia do presidente Alejandro Giammattei pela má condução da pandemia.

Convocados pelo Comitê de Desenvolvimento Camponês (Codeca), eles marcharam desde as primeiras horas de quinta-feira para dizer basta aos desmandos de Giammattei e reivindicar dos parlamentares uma iniciativa de lei para estatizar os bens privatizados.

“A pior pandemia para o nosso país é a corrupção e o roubo da oligarquia, deste modelo de Estado”, denunciou a líder indígena Thelma Cabrera, à frente de uma multidão que, com suas wiphalas, faixas e cartazes, reivindicaram ver inscrita na Constituição o direito à plurinacionalidade.

Neftaly López, dirigente do Codeca, assegurou que “o governo de Giammatei não é legítimo e não responde às demandas da população e que, portanto, está despedido”.

Para a deputada Vicenta Jerónimo, do partido opositor Movimento para a Libertação dos Povos (MLP), braço político da Codeca, “este é um governo que não tem a mínima a capacidade de responder às necessidades do povo e por isso é que se exige a sua renúncia”.

Além das críticas à corrupção governamental e à fracassada gestão da pandemia, os manifestantes protestaram contra a criminalização e morte dos líderes dos movimentos sociais, exigindo que se investigue e castigue os responsáveis por estes e outros crimes, como os ocorridos recentemente crianças e mulheres. Enfrentar os altos níveis de violência, recuperar os bens e serviços privatizados e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte devem ser prioridades da agenda, enfatizou a Codeca. Para garantir a plenitude da democracia, a entidade também reivindica do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) o fortalecimento do sistema informático, para evitar irregularidades como as ocorridas no último pleito.

No final de novembro de 2020, após dois dias de protesto, com dezenas de presos e feridos, o Congresso da Guatemala suspendeu os cortes nos recursos da saúde, educação e de combate à desnutrição que o governo havia anunciado sob o pretexto de resposta aos estragos causados pelos furacões. Ateando fogo em algumas instalações do Congresso, na oportunidade os manifestantes também rechaçaram a ampliação da dieta orçamentária que beneficiaria os parlamentares.

Com 17,6 milhões de habitantes, o país foi o primeiro da América Central a alcançar a cifra dos cinco mil óbitos, em janeiro. Embora o número oficial seja de 170 mil contagiados e 6.200 mortos, a denúncia é de uma subnotificação.

Conforme a organização Laboratório de Dados, que surgiu para “para coletar, processar, analisar e interpretar” os registros da pandemia, os óbitos são 32,5% superiores aos divulgados pelo Ministério da Saúde. Esse excesso no percentual da mortalidade, asseguram os pesquisadores, se comprova comparando com a média dos últimos três anos, de acordo com o próprio Registro Nacional das Pessoas (Renap).

Há poucos dias Alejandro Giammattei solicitou do Congresso a aplicação da pena de morte, permitida pela Constituição e o Código Penal mas não aplicada desde 2000.