Falta de oxigênio em Manaus levou 30 pacientes à morte em dois dias

O governo Bolsonaro mudou novamente a data em que diz ter sido informado que faltaria oxigênio medicinal nos hospitais de Manaus. Antes, tinha falado que foi no dia 8 de janeiro. Em depoimento à Polícia Federal, disse que foi no dia 10 e, agora, diz que foi no dia 17.

Um documento enviado para o Supremo Tribunal Federal (STF), no domingo (28), pelo secretário-executivo do Ministério da Saúde, Antônio Elcio Franco Filho, diz que as informações passadas pelo Ministério e pelo ministro Eduardo Pazuello, que também são conflitantes entre si, estão erradas.

Segundo ele, o Ministério da Saúde só foi informado da falta de oxigênio medicinal nos hospitais de Manaus no dia 17 de janeiro e que o e-mail da empresa White Martins, responsável pelo fornecimento do produto no estado do Amazonas, só teria sido enviado para a Secretaria Estadual de Saúde.

“O mencionado e-mail foi enviado pela empresa White Martins em 07 de janeiro de 2021, tendo como único e exclusivo destinatário a Secretaria Estadual de Saúde do estado do Amazonas, ou seja, o Ministério da Saúde, em momento algum, teve ciência da correspondência eletrônica recebida pelo gestor amazonense, onde fora mencionado acerca do possível desabastecimento do oxigênio”, disse Elcio Franco.

O documento foi enviado pelo secretário-executivo para o STF depois que o depoimento do ministro Pazuello foi tornado público. Ele o enviou para tentar “verificar a possibilidade de adotar as providências necessárias no sentido de se fazer a correção dessa informação junto ao Supremo Tribunal Federal, com a urgência que o caso requer”.

O auge da falta de oxigênio em Manaus foi entre os dias 14 e 15 de janeiro. Durante esses dias, pelo menos 30 pacientes, tanto internados por conta da Covid-19 quanto por outras doenças, morreram sufocados dentro dos hospitais.

A primeira informação dada pelo Ministério da Saúde foi de que tinha sido informado da iminente falta de oxigênio em Manaus no dia 7 de janeiro, através de um e-mail enviado pela White Martins. Essa informação chegou a ser reiterada por Eduardo Pazuello em uma entrevista dada no dia 18 do mesmo mês.

Na entrevista, Pazuello disse que recebeu uma carta afirmando “que poderia haver falta de oxigênio, se não houvesse ações para que a gente mitigasse esse problema”.

Mais tarde, em depoimento dado à Polícia Federal, Pazuello afirmou que nunca recebeu nenhum e-mail da White Martins e que nenhum outro contato informal foi feito com a empresa.

De acordo com ele, o Ministério só ficou sabendo que faltaria oxigênio nos hospitais no dia 10 de janeiro, em uma reunião com o governador do Amazonas, Wilson Lima.

O depoimento foi prestado no âmbito do inquérito que corre no STF para investigar a omissão de Pazuello frente à crise sanitária no Amazonas.