Após 20 dias da liberação do auxílio emergencial de R$ 600, ou R$ 1.200 para mães chefes de
família, o governo está longe de concluir o pagamento, e milhões de brasileiros seguem à
espera do benefício.
Segundo a Dataprev, empresa responsável por processar os dados das pessoas que se
cadastraram, foram processados até agora 89,3 milhões de cadastros. Destes, 48,5 milhões
foram aprovados, e mais 27,2 milhões estão inconclusivos, ou seja, que ficou faltando alguma
informação para completar a requisição. Com isso, o número de pessoas aptas a receber o
benefício pode passar de 75 milhões.
Até o momento, o governo creditou o dinheiro para 37,2 milhões, mas nem todos conseguiram
ainda acessar o recurso. Como é o caso, por exemplo, dos que não tinham conta bancária e
tiveram o dinheiro depositado em uma poupança digital, que não conseguiram abrir o
aplicativo Caixa Tem para fazer pagamentos ou transferências.
Para essas pessoas, o saque do dinheiro começou a ser liberado somente nesta segunda-feira
(27), e milhões de trabalhadores dormiram nas filas na madrugada de ontem para hoje em
frente às agências da Caixa Econômica.
As filas e aglomerações também se repetiram em frente às agências da Receita Federal, como
acontece há três semanas, de pessoas que ainda tentam regularizar o CPF para conseguirem se
cadastrar.
As dificuldades para que o dinheiro chegue a quem precisa são muitas. Além de CPF
regularizado do requerente e de seus filhos, entre outras documentações, o trabalhador

informal ou desempregado ainda tem que ter acesso à Internet, celular ou computador para
processar e acompanhar o seu cadastramento.
Outros requisitos são ter renda mensal de até meio salário mínimo (R$ 522) por pessoa da
família ou renda familiar total que não ultrapasse R$ 3.135; não ter recebido nenhum
rendimento tributável acima do teto de R$ 28.559.70 em 2018, de acordo com declaração do
Imposto de Renda, e não estar recebendo assistências sociais ou previdenciárias, como
programas de renda ou seguro desemprego, com exceção do Bolsa Família.
Além disso, é preciso se enquadrar em pelo menos um dos requisitos como ser
microempreendedor individual (MEI, estar inscrito no Cadastro Único de Programas Sociais
(CadÚnico) ou ser contribuinte do Regime Geral de Previdência Social (RGPS).
Esses termos, que carregam em si até uma certa pompa, como “microempreendedores
individuais” ou “inscritos no CadÚnico”, são, na verdade, a denominação para, entre outros,
ambulantes, vendedores de brigadeiro nas escolas e na vizinhança, diaristas, limpadores de
para-brisas das esquinas, entregadores de pizza, enfim, os milhões de cidadãos que, sem
emprego formal, fazem o que podem para sobreviver.
São esses informais, tão aclamados como a “moderna” solução da política econômica do
governo Bolsonaro, que agora o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, chama de “invisíveis”.
“Ao longo desse processo, mais de 20 milhões de informais ‘invisíveis’ foram identificados pelo
Governo Federal”, declarou Lorenzoni ao informar que no início da semana que vem o governo
vai definir o calendário de pagamento da segunda parcela do benefício.