Tomana aérea da fachada do Castelo.

Depois de quase um mês do ataque hacker que atingiu o site do Ministério da Saúde e uma plataforma do Sistema Único de Saúde (SUS), o boletim Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), segue suspenso por falta de dados.

Em meio à disseminação da variante ômicron e de uma epidemia de uma nova cepa de influenza, a plataforma que é uma ferramenta fundamental para o controle da pandemia no país não emitiu mais seus boletins semanais.

Pesquisadores e médicos denunciam que o chamado “apagão” de dados federais, ocorrido após um ataque hacker no início de dezembro, está impedindo que se tenha um retrato mais preciso sobre o estágio atual da pandemia no país e sobre a tendência para as próximas semanas e meses.

Na última quarta-feira (5), numa indicação do curso da pandemia, dados coletados pelo consórcio dos veículos de imprensa junto às secretarias estaduais de Saúde voltaram a mostrar uma disparada na média móvel de casos de Covid-19. Houve uma alta de 153% em relação ao dado de duas semanas antes. Foi o quinto dia seguido com aumento acima de 100%.

A sobrecarga é visível, mas é como se o Brasil enxergasse de um jeito embaçado o que está acontecendo no sistema de saúde. O Ministério da Saúde não se posicionou e nem afirmou quando o sistema retornará por completo. O ministério disse que restabeleceu as plataformas e-SUS Notifica, SIPNI e ConecteSUS, mas que as informações lançadas depois do dia 10 de dezembro ainda não constam nas plataformas.

“A gente não tem o dado bruto para fazer essa avaliação de quanto, de fato, em todo território, está impactando internações por influenza e a própria entrada da ômicron e o seu avanço”, explica Marcelo Gomes, coordenador do Infogripe/Fiocruz.

Os dados oficiais nascem nas unidades de saúde. Todas as fichas de pacientes com síndrome gripal, que incluem a Covid, são passadas para os computadores locais e assim é contabilizado.

E mesmo com o registro feito localmente, falta o acesso aos números. A informação não tem chegado aos pesquisadores da Fiocruz, que soltam os alertas sobre as doenças respiratórias, como a Covid e a Influenza.

Antes do ataque hacker, a Fiocruz já indicava um sinal de crescimento forte de síndrome respiratória aguda grave nas seis semanas anteriores e moderado nas últimas três semanas. E também alertava para o aumento em todas as faixas etárias abaixo de 60 anos.

“Novos casos de problemas respiratórios: eles são Covid, eles são influenza, eles são uma mistura dos dois? A gente ficou às cegas ao longo de todo o mês de dezembro. E isso tem um impacto não só na capacidade de a gente ter o panorama nacional, olhando todos os estados, as capitais, as macrorregiões de saúde, fazendo acompanhamento ali de tendência dos casos semanais. Tanto no nível de tomadores de decisão, como secretarias de Saúde, como da própria população, para saber até como se comportar inclusive nas festas de final de ano. Se o nosso Natal, o nosso Réveillon podia ser com mais gente, se a gente precisava ter muito cuidado. Essa informação é fundamental porque ela impacta não só a tomada de decisão pelos órgãos públicos, impacta também a decisão da população. De comportamento individual e coletivo, o que cada um de nós tem que fazer”, reforça Marcelo Gomes.