Paulo Guedes, ministro da Economia

Um dia após a divulgação pelo IBGE de que a produção industrial brasileira encerrou o terceiro trimestre de 2021 no vermelho, em queda de 1,1%, o governo Bolsonaro resolveu dar mais benesses aos importados. Ele cortou em 10% as tarifas de importação. O pretexto foi o combate à inflação.

Sem o aval do Mercosul, o governo brasileiro, através de uma nota conjunta dos ministérios da Economia e das Relações Exteriores, anunciou, na sexta-feira (5), a redução em 10% das alíquotas do Imposto de Importação de 87% das mercadorias comercializadas com países fora do Mercosul (mais de 8 mil produtos, inclusive alimentos), exceto os já abrangidos pelo Bloco. A redução tarifária só valerá para o Brasil. A pedido da Argentina, foram excluídos itens, como automóveis, autopeças, laticínios, têxteis, pêssegos e brinquedos. A redução das alíquotas de importação valerá até dezembro de 2022.

Mas, na verdade, a medida tomada pelo governo faz parte da meta doentia de Paulo Guedes de vender o Brasil e escancarar o país aos estrangeiros. Com esta decisão, Guedes e Bolsonaro afundam ainda mais a indústria nacional na recessão e aumentam o desemprego no Brasil. Afinal, segundo Guedes, criar 50 mil empregos a mais ou a menos não passa de “muito barulho”, a referir-se aos “erros” nos números do emprego com carteira assinada em 2020, divulgados pelo Caged.

“É um momento ideal para fazer abertura, ainda que tímida, da economia”, defendeu Guedes, pouco antes do anúncio de que iria escancarar as fronteiras, na III Conferência de Comércio Internacional e Serviços do Mercosul, promovida pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), na sexta-feira (5).

Os preços dos combustíveis e da energia elétrica, os ítens que mais têm pressionado a inflação e são de responsabilidade do governo não serão reduzidos com a medida. Estes preços estão dolarizados.

Quanto aos alimentos, que dispararam com aval do governo, que acabou com estoques reguladores, e que, na contramão do mundo, deixou mais de 100 milhões de brasileiros em insegurança alimentar durante a pandemia, o produto importado vai prejudicar ainda mais o produtor brasileiro que enfrenta a alta dos preços dos adubos e fretes por causa do dólar.

Como a regra do Mercosul proíbe a redução de tarifas de forma isolada, ou seja, sem o aval de todos os integrantes do bloco, o governo Bolsonaro alega “proteção da vida e da saúde”. Mais uma engodo. Uma mentira de quem durante toda a pandemia fez de tudo para segurar os recursos para vacinação, cortou verbas das pesquisas e arrochou os salários dos servidores que estão à frente do combate à pandemia.

A atual inflação é provocada, principalmente, porque a economia brasileira está dolarizada. Hoje, os brasileiros compram produtos que são produzidos em abundância no Brasil ao custo do preço do dólar, que está cada vez mais caro por força dos desatinos de Bolsonaro na economia.

A redução das tarifas de importação está em linha com a manobra de Paulo Guedes de tentar implodir o Mercosul ao revisar as TECs (Tarifa Externa Comum).

Recentemente o governo brasileiro levou ao bloco a proposta de reduzir a TEC em 20% ainda este ano, de forma linear, ou seja, atingido todos os produtos importados pelo Mercosul. Porém, a Argentina anunciou que vetaria tal acordo e propunha reduzir em apenas 10%, mas apenas uma parte dos produtos importados.