Após o 14º mês seguido de crescimento do desmatamento, que tem sido detectado pelo Inpe, o governo resolveu exonerar a coordenadora-geral de Observação da Terra, a área dentro do Inpe que está responsável por monitorar a destruição da floresta por meio do sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter).

Diante do crime ambiental explícito em curso, o governo optou mais uma vez por quebrar o termômetro para fingir que não existe febre. Há quase um ano, diante do então recorde de queimadas e desmatamento na Amazônia, Bolsonaro exonerava Ricardo Galvão, diretor do Inpe.

O desmatamento da Amazônia de janeiro a junho de 2020 foi 25% superior ao do mesmo período em 2019, aponta o Instituto.

Durante esse semestre, 3.069,57 km² da Amazônia foram desmatados. Somente em junho, o sistema Deter, do Inpe, alertou para o desmatamento em 1.034,4 km².

Em relação a junho de 2019, o desmatamento cresceu 10,65% e foi o maior dos últimos cinco anos.

Em nota oficial divulgada no final do dia, o Ministério de Ciência e Tecnologia informou que a exoneração já estava prevista e faz parte de uma reestruturação do órgão. “A Dra. Lubia Vinhas tem participado desse processo e está de acordo com as mudanças, que eram previstas e não tem qualquer relação com a produção e a divulgação dos dados de desmatamento, que continuarão a seguir os mesmos procedimentos com qualidade e transparência”, afirmou o Ministério.

No entanto, as declarações da cientista exonerada desmentem a nota do Ministério. Em conversa com a TV Globo, ela afirmou não saber o motivo da exoneração, e que ficou sabendo da mudança pelo Diário Oficial da União.

A devastação da Amazônia tem provocado fortes reações internacionais e prejudicado o comércio do Brasil com a Europa e outras regiões do mundo. Em carta encaminhada ao vice-presidente Hamilton Mourão na semana passada, 38 empresários e 4 instituições dos setores da indústria, agrícola e de serviços alertaram para “o impacto nos negócios da atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior em relação às questões socioambientais na Amazônia”.

Eles cobraram do governo uma “rigorosa fiscalização de irregularidades e crimes ambientais na Amazônia e demais biomas brasileiros”. “Essa percepção negativa tem um enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país”, diz o documento dos empresários.