O acordo representa uma nova página na história do país, depois de três décadas de repressão e corrupção

Enquanto multidões nas ruas da capital sudanesa de Cartum celebravam nas ruas, os líderes, Ahmed L. Rabie, representando as forças populares que se ergueram para acabar com o governo ditatorial de Omar Bashir, e o general Abdel Fatah al Burhan, levantavam os braços fazendo o sinal da vitória e erguendo o documento assinado pelos dois e que representa a formação do Conselho de Transição, composto por 6 civis e 5 militares, que governará o país por um período de três anos até a realização de eleições gerais.

Os dois firmaram o acordo alcançado entre a principal coalizão de movimentos populares e o Conselho Militar de Transição que comanda o país desde a deposição do ditador Omar Bashir.

O aumento de preços dos pães, em dezembro de 2018, em obediência a determinação do FMI, foi a gota d’água que levou a um levante popular por todo o país, com multidões cercando o palácio governamental e pedindo o afastamento de Bashir.

O Conselho Militar de Transição passou a governar o Sudão desde abril deste ano, mas as manifestações e greves não cessaram, mesmo com o agravamento de tensões e a repressão brutal de alguns dos protestos.

Durante meses, em meio às gigantescas manifestações, transcorreram as negociações entre o Conselho Militar de Transição e a coalizão popular denominada Forças pela Liberdade e Mudança.

A minuta do acordo já havia sido firmada em 4 de agosto, chamada de Declaração Constitucional, e faltava a definição da composição do novo governo de transição.

Líderes do continente africano se fizeram presentes, incluindo os presidentes da Etiópia, Abiy Ahmed e do Sudão do Sul (país que passou a existir após um conflito separatista no Sudão), Salva Kiir.

O acordo prevê que a maioria do Conselho será de civis e que a presidência ficará com o general Abdel Fattah al-Burhan, que já preside o Conselho Militar de Transição e presidirá o governo pelos próximos 21 meses, enquanto que, nos 18 meses seguintes, a direção será exercida por um representante das forças civis.

Shamseddine Kabbashi, porta-voz dos negociadores, declarou, ao final da cerimônia: “Estamos mudando desde o velho Sudão”.

Duas mulheres, entre elas, uma da minoria cristã, integram o novo governo.

EX-PRESIDENTE VAI A JULGAMENTO POR CORRUPÇÃO

Ao mesmo tempo em que o acordo de união nacional era firmado, tinha início o julgamento do ex-presidente Omar Bashir.

Ele, que exerceu o poder por 30 anos, é acusado de corrupção e já admitiu ter recebido dos monarcas sauditas o valor de US$ 90 milhões, de acordo com um dos promotores, Ahmed Ali, que falou à Corte de Cartum, na segunda-feira. Segundo a acusação Bashir admitiu ter recebido US$ 25 milhões do príncipe Mohammed bin Salman e mais US$ 65 milhões do rei Aziz Saud.

Em troca, o Sudão foi o país árabe (afora os agressores Arábia Saudita e Emirados), que mais mandou soldados na agressão ao Iêmen.

“Este dinheiro não fazia parte do orçamento do Estado e eu era quem tinha autoridade para autorizar seu manejo e despesas”, confessou Bashir, dizendo que não recorda em que gastou parte dos tais recursos.

O promotor também afirmou que ele é acusado pelas mortes de manifestantes, que exigiam sua saída, durante os primeiros protestos ao final do ano passado.