A advogada Patricia Hermosa, representante legal do ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, foi presa na sexta-feira (31), em La Paz, pela “Força Especial de Luta Contra o Crime” (Felcc), utilizada abertamente pelos golpistas para a perseguição política.

De acordo com Hermosa, também ex-chefe de gabinete de Evo, foram apreendidos todos os documentos originais do líder, que pretende ser candidato a deputado ou senador pelo Movimento Ao Socialismo (MAS). Como parte do trâmite do regime eleitoral, portanto, ele necessita ter os documentos entregues no Órgão Eleitoral.

A acusação, feita pela polícia da autoproclamada presidenta Jeanine Áñez – atualmente candidata às eleições de 3 de maio -, é que Hermosa continua mantendo contato com Evo, algo perfeitamente natural na relação advogado-cliente.

Entre outros pretextos, o ex-presidente é acusado de “sedição, terrorismo e financiamento ao terrorismo”, de ter instruído a deixar cidades sem alimento e de lutar contra o regime golpista. Hermosa é acusada pelos mesmos delitos.

A prisão, conforme a polícia, se deve a “haver indícios de que é autora ou participante de delitos”, e “a existirem indícios de que ela possa se ocultar, fugir ou ausentar do país ou obstaculizar a investigação”.

Três representantes do Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos visitaram a advogada nas celas da Felcc, que denunciou como os policiais lhes tomaram todos os documentos do ex-mandatário. “O fato é que sou advogada de profissão e tenho a responsabilidade legal de realizar os trâmites”, assinalou Hermosa.

O ex-presidente condenou a “detenção ilegal” de sua representante legal. “Não existe democracia nem eleições limpas quando existem detenções diárias e violação às garantias constitucionais aos direitos humanos. Peço a imediata liberação de minha representante e a devolução de todos os meus documentos”, frisou Evo.

AGRESSÃO

Após uma ampla e generalizada condenação à sua prisão ilegal, o ex-ministro da Mineração, César Navarro, e o ex-vice-ministro do Desenvolvimento Rural, Pedro Damián Dorado, puderam deixar a Bolívia em direção ao exílio no México.

Ao ser flagrado transgredindo abertamente o direito internacional o ministro do Governo, Arturo Murillo, disse que a “detenção” de Navarro e Dorado se deveu a uma “falta de comunicação e coordenação” entre a instituição e a Promotoria.

Mas a verdade é que o rechaço foi veemente e unânime às arbitrariedades de um regime marcado por sequestros, torturas, desaparecimentos e assassinatos. Frente aos riscos – uma vez que permaneceram asilados meses na Embaixada do México em La Paz – as duas autoridades, destituídas pelos golpistas, se encontravam de posse de salvo-condutos e acompanhadas de diplomatas. Apesar disso, os dois dirigentes foram presos ao tentar sair do país. Navarro foi até agredido fisicamente.

O subsecretário para a América Latina e o Caribe da Secretaria de Relações Exteriores do México, Maximiliano Reyes Zúñiga, comemorou a vitória: “depois de negociações e apoio de países e organizações amigas, prevaleceu o direito internacional e a dignidade humana”.