Servidores públicos de diversas categorias estão revoltados com a decisão de Bolsonaro de conceder reajuste salarial apenas aos policiais federais e já discutem um movimento nacional de entrega de cargos e paralisações.

A previsão de aumento aos policiais se deu logo após acordo firmado entre Bolsonaro e o relator da proposta do orçamento de 2022 na Câmara dos Deputados, deputado Hugo Leal (PSD-RJ).

Entidades dos funcionários do Banco Central, da Receita Federal, do Tribunal de Contas da União e do Legislativo se manifestaram na terça-feira (21), apontando falta de “reconhecimento por parte do governo federal” com os excluídos, que são a maioria dos servidores de todo o país.

Segundo o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (Sinal), “isso poderia provocar não só uma animosidade dentro do funcionalismo (uma deterioração do clima e da cultura organizacionais) como também uma saída generalizada de servidores do BC quando da abertura dos concursos para policiais federais”.

“O BC é um órgão essencial para a estabilidade econômica do país. Contudo, nos últimos anos, não houve, por parte do governo federal, o reconhecimento dessa importância na forma de melhorias remuneratórias. Os reajustes devem ser para TODAS as carreiras, não só para os policiais federais”, afirmou Fábio Faiad Bottini, presidente do Sinal.

Quando foi anunciado que o relator da matéria incluiria aumento apenas aos policiais, imediatamente os auditores fiscais da Receita iniciaram um movimento para a entrega coletiva de cargos no órgão. Segundo o sindicato da categoria (Sindifisco), até a tarde desta quarta-feira (22), cerca de 300 servidores já tinham aderido ao movimento. A categoria também protesta contra os cortes na instituição.

“O ato é contra novo corte orçamentário para os sistemas da Receita e contra descumprimento do acordo firmado com a categoria, que previa a regulamentação de uma lei vigente desde 2017”, informou o Sindifisco em referência ao bônus de eficiência que a categoria tem direito.

“Complemento de voto do relator do orçamento traz reajuste salarial para policiais. Desculpem, mas isso é festa da cocada”, escreveu, em suas redes sociais, o diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), Felipe Salto.

O congelamento geral de salários também foi repudiado pelos sindicatos dos Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União.

Em carta de repúdio, as entidades assinalam que viram com perplexidade a decisão de conceder reajuste à apenas uma parte dos servidores e ignorar outros mais de “1 milhão”.

Conforme a carta, “em que pese a importância e merecimento dos colegas da Polícia Federal (PF), da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Departamento Penitenciário

Nacional (Depen), causa perplexidade a decisão do relator, chancelada pela CMO e pela Câmara, de conceder reajuste apenas aos membros dessas carreiras, ignorando completamente mais de 1 milhão de servidores públicos que tiveram seus salários corroídos pelo aumento galopante da inflação desde a última recomposição, há cinco anos”, diz a nota.

“É uma falácia” não ter verbas orçamentárias para distribuir o reajuste às carreiras que “tiveram seus vencimentos corrigidos pela última vez ainda em 2016″, denuncia o Sindicato dos Servidores do Legislativo. Conforme o sindicato, todos os servidores “estão na mesma situação, desde os profissionais da saúde e da educação”.

“O que justifica, portanto, esta injusta e insensível escolha do Governo, avalizada pelos deputados, de destinar R$ 1,74 bilhão para reajustar o salário de apenas 45 mil policiais em detrimento dos demais trabalhadores do serviço público?”, questiona a entidade.

Falando sobre a natural revolta dos servidores por terem sido excluídos do reajuste, o secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Sérgio Ronaldo da Silva, diz que pode haver um “efeito dominó” de entrega de cargos de servidores em diversos órgãos.

“Eu acho que isso vai ser um efeito dominó. Nós temos um fórum que agrega todo o conjunto das representações do funcionalismo público e vamos fazer uma reunião de emergência no início de janeiro para ver quais são os tipos de atitudes que podem ser tomadas. Não está descartada uma mobilização nacional”, disse.

Para ele, “é lamentável que o Congresso Nacional tenha se submetido a essa chantagem do presidente da República e do ministro da Economia, Paulo Guedes. E, além disso, rifar praticamente mais de 95% do conjunto do funcionalismo. É um absurdo”, disse Sérgio Ronaldo, afirmando que “todos precisam de aumento. Todos estão com seus salários congelados e são chamados de parasitas pelo ministro da Economia”, disse.