Governador da Califórnia vence eleição revogatória com 63,9% dos votos
O trumpismo sofreu uma derrota retumbante na eleição revogatória na Califórnia, com o governador democrata Gavin Newsom sendo mantido pelo voto de 63,9% dos 13 milhões de pessoas que foram às urnas, numa eleição transformada pelos republicanos num plebiscito contra a política de vacinação e uso de máscara facial e a favor de tudo que é atraso e retrocesso.
A participação foi de 60%, quando em outras eleições revogatórias o quórum foi de apenas 20%. Na eleição revogatória (“recall”), que existe na lei estadual da Califórnia desde 1911, o governador pode ser destituído caso isso seja aprovado em uma votação requerida por 12% dos votantes no último pleito.
Encabeçando a mobilização trumpista, Larry Elder, um radialista de 69 anos, ultraconservador, negacionista de carteirinha, apoiador e amigo do ex-presidente, adepto do fim do salário mínimo e das proteções ambientais e, ainda, favorável à demissão de 15 mil professores públicos. Ele prometeu que, se eleito, iria abolir os mandatos de máscaras faciais e de vacinação.
A Califórnia é o estado mais populoso dos Estados Unidos e uma das fortalezas econômicas do país, o de maior peso no colégio eleitoral e na atualidade vota majoritariamente democrata. Em 2003, um ‘recall’ tirou um governador democrata e colocou no lugar o ator Arnold Schwarzenegger.
Como destacou o portal progressista People’s World, em sua campanha pelo ‘Não’ à destituição, o governador Newsom advertiu que embora tenhamos derrotado Trump, “o trumpismo não está morto neste país”.
“A grande mentira. A insurreição de 6 de janeiro. Todos os esforços de supressão de votos que estão acontecendo em todo o país. O que está acontecendo, o ataque aos direitos fundamentais, direitos protegidos constitucionalmente de mulheres e meninas. É um momento marcante na história de nossa nação”, sublinhou.
Na noite da eleição, Newsom agradeceu ao povo da Califórnia por “rejeitar o cinismo e a intolerância e escolher a esperança e o progresso”. Ele ainda tem 14 meses restantes em seu mandato. Antes de ser eleito governador em 2018 pela maior margem desde 1950, havia sido prefeito de São Francisco por dois mandatos e vice-governador também por dois mandatos.
Com o trumpismo jogando pesado e na ofensiva, em alguns momentos pareceu que havia chance real de o recall passar. Mas, à medida que foi ficando claro que se tratava de um referendo sobre o negacionismo e o retrocesso, e com o agravamento do quadro sanitário nos EUA sob a variante Delta de epicentro nos Estados controlados pelos republicanos, a manobra trumpista gorou.
Na realidade, a Califórnia foi um dos Estados dos EUA em que houve um esforço maior para seguir a orientação da ciência no trato com a pandemia e o Estado tinha uma das maiores taxas de vacinação do país. Mas, sob a crise que perdura nos EUA, e que a pandemia agravou, além da herança maldita dos quatro anos de Trump, não faltam problemas no Estado, dos incêndios florestais descontrolados à proliferação dos sem teto.
Como registrou o jornal em espanhol La Opinión, voltado para a minoria latina, os trumpistas culparam Newson “por todos os males da Califórnia, reais ou fictícios”, apresentando a imagem falsa de “um Estado supostamente em colapso, afogado no crime, e sendo abandonado por seus habitantes e empresários”.
“A Califórnia foi um caso de teste para os republicanos verem até que ponto eles poderiam culpar os democratas por todas essas coisas e os eleitores enviaram uma mensagem de que eles não estão comprando o que os republicanos estão vendendo”, observou o People’s World.
Um fator que pesou para a viabilização da votação do recall foi o vazamento da presença do governador com dez pessoas, num restaurante chique, sem máscara e sem distanciamento social, em pleno período de quarentena. Um erro que quase custou muito caro para ele e, provavelmente, se tivesse vingado, ainda mais para a maioria dos habitantes da Califórnia.
A campanha pelo ‘Não’ congraçou as forças democráticas e progressistas da Califórnia, estudantes, sindicatos e entidades femininas e populares, lideranças latinas e negras, e nos últimos dias foi reforçada por pesos pesados como a vice Kamala Harris, oriunda do Estado, os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren, e o próprio presidente Biden, que chamou o antagonista Larry Elder de “a coisa mais próxima de um clone de Trump que eu já vi”.