O pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PCdoB, Leonardo Giordano, vereador de Niterói, é recordista em leis aprovadas (52), projetos de lei e audiências públicas realizadas entre os mandatários locais.  Ele concedeu uma entrevista exclusiva ao Portal Vermelho. Falou sobre da grave situação que enfrenta o estado do Rio de Janeiro, com índices alarmantes de desemprego, violência crescente, desmonte de políticas públicas nas áreas de Saúde e Educação e a necessidade de mudança na política local. Para ele, o governo do estado precisa de fato “fazer com que a população retome o elo entre representantes e representados”.”Que a gente possa ter, de fato, um momento no Rio onde essa construção política inovadora ganhe cada vez mais o sentido de participação popular e dos movimentos sociais na política.”

Confira na íntegra:

 
O Rio de Janeiro há anos vem sendo governado pelos mesmos grupos políticos que se perpetuam no poder, inclusive, através da eleição de seus filhos, parentes e aliados. Como lutar contra essa realidade e renovar a política em nosso estado?

“É um fato que o povo do Rio quer construir uma mudança e uma renovação geracional na política. Mas essa renovação não é só etária, é fundamental renovar também as práticas na política. Nesse sentido, a nossa pré-candidatura pretende construir práticas novas de participação popular, gestão democrática, com discussão dos problemas sociais abertamente. Olhar questões como o desenvolvimento e o emprego no Rio a partir de perspectivas que sejam realmente transformadoras. Um olhar do governo do estado que possa, de fato, fazer com que a população retome o elo entre representantes e representados. Que a gente possa ter, de fato, um momento no Rio onde essa construção política inovadora ganhe cada vez mais o sentido de participação popular e dos movimentos sociais na política. Essa é a chave para termos uma renovação efetiva do fazer político em nosso estado”.O Rio enfrenta uma das piores crises de sua história e atinge um índice de desemprego abissal que alcança cerca de 15%. Como solucionar o problema do emprego no Rio e como o desenvolvimento das diversas regiões do estado pode ajudar?

“É fundamental retomar o desenvolvimento do estado e o centro da nossa pré-candidatura é justamente a geração de empregos. Para isso, o Estado precisa voltar a ser indutor do desenvolvimento, voltando a praticar investimentos e a fomentar setores estratégicos que possam responder com geração de empregos. Algumas maneiras de fazermos isso têm a ver com a recuperação do estado que precisa romper com o Regime de Recuperação Fiscal que atualmente está assinado por Temer e Pezão, precisa cobrar a Lei Kandir, que pode dar ao estado do Rio de Janeiro cerca de 60 bilhões de reais, a securitização da dívida ativa, que pode dar Rio entre 30 e 50 bilhões com a cobrança dos grandes devedores do estado. Além de medidas complementares, como a que fez Flavio Dino no Maranhão tributando bens de luxo (Algo que não é estruturante, mas pode ser um bom complemento orçamentário). Fazendo assim, o estado retoma sua capacidade de desenvolvimento e a gente pode buscar as inclinações regionais para fazer uma política interiorizada que leve a retomada do desenvolvimento e a geração de emprego a todo estado”.

Há tempos a situação da segurança pública no Rio de Janeiro é calamitosa. Diversas medidas e iniciativas foram tomadas por gestões anteriores e, inclusive, o estado vive hoje sob uma intervenção federal nessa área. Como promover uma política de segurança pública realmente eficaz?

“Os governantes do Rio de Janeiro estão em uma situação que parecem sofrer da “síndrome do cabrito”: sobem morro e descem morro mas não resolvem os problemas da segurança de forma estruturante. Para ser prático, é fundamental que a gente inverta as prioridades de investimento. Ao invés de ostensividade com espetáculos e tiroteios, queremos construir uma prioridade de investimentos na prevenção e na investigação. O Rio investiu nos últimos 3 anos menos de 40 mil reais em inteligência (o menor investimento do país). No Rio temos uma taxa de 90% dos homicídios não esclarecidos, e não pode ser séria uma política de segurança pública que não trata como prioridade os crimes contra a vida. Queremos voltar a gerar emprego e desenvolvimento, porque isso é importante para combater a violência a médio prazo. Mas temos que priorizar o investimento na investigação para desarticular as quadrilhas e prender os criminosos”.


No atual governo vimos uma degradação da educação pública, tanto no ensino superior, quanto no ensino médio, técnico e básico. Também é preocupante a péssima remuneração e a desvalorização dos professores e demais profissionais da educação pública no estado. Quais as suas propostas em torno da educação pública no Rio de Janeiro?

“A categoria dos profissionais da educação é muito organizada em nosso estado. Precisamos construir um diálogo com a categoria porque ela já tem várias propostas, e é muito importante que algum governo do estado as adote. Temos que promover a valorização do magistério e defender o papel estratégico que tem a UENF, a UERJ e a UEZO, como universidades estaduais que podem ajudar a pensar o desenvolvimento do estado. Queremos valorizar os servidores públicos da educação e, inclusive, temos como exemplo o Flávio Dino no Maranhão que paga o maior piso salarial do Brasil aos professores. Além disso, é fundamental resgatar as propostas de Darcy Ribeiro e Brizolla com foco na educação de tempo integral, que para nós é um ponto chave para termos uma transformação da educação do estado do Rio de Janeiro”.

A Saúde é outro grave problema do cotidiano da população fluminense, estamos sempre presenciando filas enormes nas unidades de atendimento, grandes dificuldades para marcação e realização de exames e cirurgias, falta de medicamentos, etc. A situação difícil da Saúde no estado foi agravada com a implantação das OSs na administração desse segmento fundamental. Qual é sua posição sobre as OSs e quais as principais soluções propostas pelo seu programa para a questão da Saúde no Rio de Janeiro?

“Nós vamos extinguir as OSs, vamos acabar com esse modelo de gestão. O governante é eleito para governar e não para terceirizar. Vimos todo tipo de corrupção e má gestão nesse sistema de OSs. Nós queremos demarcar o nosso compromisso com o SUS e construir uma política pública de saúde que priorize a questão dos exames e da distribuição de medicamento (o que atualmente no Rio de Janeiro está em estágio precário). Nesse sentido, é importante valorizar/investir e recuperar os parques industrias que podem fabricar remédio (como o caso do Vital Brasil em Niterói). Queremos também governar junto com a categoria dos profissionais da saúde, que aqui no estado também é muito organizada”.

Outro grande problema do cidadão fluminense é o transporte público. O Rio de Janeiro é um dos estados onde a classe trabalhadora mais gasta tempo em seu deslocamento cotidiano. Como resolver essa questão e garantir um transporte digno e eficiente à população?

“É semi-público no estado do Rio que o transporte está nas mãos de uma verdadeira máfia. Queremos abrir essa caixa preta. Quase todo mundo no estado sabe que parte significativa dos empresários de ônibus estão envolvidos com corrupção e propina. No caso de barcas, por exemplo, a agência reguladora responsável pela fiscalização não faz seu trabalho direito e passa a mão na cabeça da concessionária de barcas. O contrato de concessão é descumprido cotidianamente: não oferecem barcas em São Gonçalo (que estava previsto em contrato), nem garantem transporte de barcas de madrugada. Vamos retomar essa discussão de forma dura, cobrando as cláusulas contratuais e, eventualmente, cancelando concessões que não estejam a contento, para discutir com o povo um novo modelo de transporte. Pretendemos também fazer bom uso do espelho d’agua e levar o transporte sobre trilhos no Rio de Janeiro a outro patamar para resolver de forma verdadeira a questão do deslocamento dos moradores da baixada fluminense (que é temerário atualmente). Isso se faz com fiscalização firme e uma postura de governo que não se dobre aos interesses privados, o que tem – até aqui – destruído a capacidade de se fazer qualquer política de transporte no estado”.

O PCdoB vem ressaltando bastante da necessidade da unidade da esquerda e das forças progressistas. Como a sua pré-candidatura ao Governo do Rio pode contribuir nesse sentido?

“Tanto a nossa pré-candidatura quanto a da Manuela D’Ávila têm insistido muito na unidade da esquerda. Nós aqui temos tentado uma costura que convida os partidos de esquerda (O nosso PCdoB, PT, PDT, PSB, e PSOL) a estarem juntos nessas eleições. Lamentamos que o PSOL já tenha escolhido outro caminho, mas estamos insistindo e conversando sempre com os demais partidos de esquerda do estado. A nossa pré-candidatura não vai ser um obstáculo à unidade, pelo contrário, nós desejamos a unidade. Vamos reforçar essa visão e fazer com a nossa pré-campanha seja instrumento para essa unidade”.