Gilmar Mendes repele uso das Forças Armadas para pedir intervenção

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal federal (STF), afirmou que é “injurioso” usar
as Forças Armadas “como se fossem suas milícias” ao criticar as manifestações golpistas dos
bolsonaristas, que pediram “intervenção militar” contra a democracia.
Em entrevista ao jornal Folha S. Paulo, na segunda-feira (27), Gilmar Mendes afirmou:
“Não se pode brincar com as instituições, não se pode brincar de tiranetes, de ditadura. Quem
diz isso: ‘ah, nós vamos usar as Forças Armadas para fechar o Supremo ou fechar o Congresso’
está usando as Forças Armadas, que são instituições do Estado, como se fossem suas milícias.
Isso é absolutamente impróprio e injurioso para com as próprias Forças Armadas”.
Gilmar se refere à participação de Bolsonaro, no último dia 19, na manifestação que defendia a
volta da ditadura e a reedição do famigerado AI-5, ato institucional que, em 1968, endureceu a
repressão da ditadura. O ato-provocação, realizado em frente ao QG do Exército de Brasília, foi
criticado por vários militares.
Por seu lado, o Ministério Público Federal (MPF) abriu procedimento preliminar para investigar
uma interferência indevida de Bolsonaro em atos exclusivos do Exército para controle de
armas.
A apuração tem como alvo a determinação de Bolsonaro para que o Comando Logístico do
Exército (Colog) revogasse três portarias sobre rastreamento, identificação e marcação de
armas, munições e demais produtos controlados no país.
Gilmar Mendes avaliou as conseqüências negativas da eleição de Jair Bolsonaro para a
democracia no país.
“A evolução política que tivemos e as eleições últimas, aí eu tenho a impressão de que houve
uma certa desinstitucionalização. Nós levamos o sistema político à derrocada. Nós produzimos
isso, uma posição de extrema-direita, que se não é encampada pelo presidente, tem no seu
entorno alguma expressão, que vê as instituições como impedimento para o funcionamento
de uma democracia direta, que teria como representante só o presidente da República”,
declarou o ministro.
“Me parece que isso tudo sim se engendrou nesse contexto de um grande autoritarismo, que
se misturou com esse moralismo, esse lavajatismo”, completou.
O ministro informou ainda que, em conversa com Bolsonaro, o alertou de que o sistema legal
brasileiro prevê o regime federalista, no qual os estados e municípios têm autonomia para
estabelecerem suas políticas de isolamento no combate ao coronavírus, e defendeu uma
cooperação entre os entes da administração pública.
“Como é que se vai deixar de fora numa questão como essa de saúde o prefeito de São Paulo,
que é responsável por 10 milhões de pessoas?”, questionou.