Jair Bolsonaro fez uma grande confusão entre Irã e Iraque e debochou do general Qassen Suleimani, comandante do Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica e herói nacional dos iranianos, assassinado por ordem de Donald Trump, dizendo que ele não era general.
“A questão lá dos Estados Unidos e Iraque, o general lá, que não é general, e que perdeu a vida, não trouxe um impacto grande por aqui”, disse ele, em tom de deboche e desrespeito com a autoridade iraniana assassinada.
Donald Trump, a quem Bolsonaro chama de “chefe”, e que ordenou o bombardeio a partir de um drone com o objetivo de matar o general iraniano, chama Suleimani de terrorista. Em entrevista, na sexta-feira (3), Bolsonaro já mostrava sua subserviência ao governo americano ao também insinuar que o general iraniano era terrorista.
“Era uma pessoa que, segundo informações aqui, estaria envolvido no ataque a Amia – Associação Mutual Israelita Argentina -, aquela entidade judia que existia na Argentina”, disse Bolsonaro. “Então”, prosseguiu, “a vida pregressa dele era voltada em grande parte para o terrorismo”. Este episódio ocorreu em 1994 e o Irã nunca admitiu ter participado dele.
Além da ignorância sobre a origem iraniana do general Qassem Suleimani, e de não saber ao certo que países efetivamente estão em conflito na região, Bolsonaro também revelou que não está nem um pouco preocupado com as repercussões de um agravamento da crise na região do Golfo Pérsico – por onde transita um terço de todo o petróleo produzido no mundo – na economia do país e no bolso dos usuários de combustível no Brasil.
“O impacto não foi grande. Foi 5% passou para 3,5%. Não sei quanto está hoje a diferença em relação ao dia do ataque. Mas a tendência é estabilizar”, afirmou. Só que ele disse também que, se aumentar o preço, não vai intervir de jeito nenhum. “Já fizemos isso e não deu certo”, alegou. Ou seja, se os preços dispararem, que se dane a população.
No máximo, ele disse que poderá pedir que governadores dos estados reduzam o ICMS. Ora, os estados – que recolhem o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) – também têm seus orçamentos e seus compromissos com a sociedade.
Certamente eles contam com o ICMS para cumprir as obrigações impostas por seus orçamentos. Por que eles vão fazer alguma coisa, se o presidente da República anuncia que não vai fazer nada? O que Bolsonaro está anunciando é que vai lavar as mãos em caso de explosão dos preços da gasolina, do óleo diesel , do gás de cozinha, etc.
Diversos militares brasileiros têm alertado para o erro que representa uma atitude de adesão do país a uma posição de apoio ao atentado dos EUA contra o Irã. Isso certamente agravará ainda mais a situação e trará mais problemas para a população brasileira.
O Brasil mantém relações diplomáticas e comerciais com os dois países que estão em conflito. Os generais Maynard Santa Rosa e Carlos Alberto dos Santos Cruz, ambos ex-integrantes do governo, defenderam, em entrevista ao site UOL, no domingo (05), que o Brasil deve manter a neutralidade em relação ao conflito entre Estados Unidos e Irã.
“Qualquer posicionamento, nesse caso, fora da neutralidade e imparcialidade é falta de noção de consequência e irresponsabilidade”, escreveu Santos Cruz. O general Sérgio Etchegoyen também opinou nesta mesma direção.
“Do ponto de vista estratégico, vejo o incidente como uma forma de os Estados Unidos voltarem a exercer protagonismo e a ocupar um espaço midiático na região, perdido para a Rússia e a China, após o revés sofrido na Síria e o fiasco político no Iraque”, afirmou Maynard Santa Rosa, ao comentar os motivos que levaram Donald Trump a assassinar o segundo homem na hierarquia iraniana.
O general Santos Cruz é da mesma opinião. “Os atritos e os conflitos entre EUA e Irã já têm uma longa história, que começa depois da Revolução Islâmica em 1979 quando foi retirado do poder o Mohammed Reza Pahlavi. O Brasil jamais tomou partido nessa animosidade. Não tem razões para isso”, disse.
A Chancelaria do Irã pediu explicações à diplomacia brasileira, no domingo, sobre a nota do governo brasileiro respaldando o ataque terrorista de Donald Trump que assassinou o general iraniano Quassen Suleimani.