Os trabalhadores do Hospital da Brasilândia organizaram uma manifestação, nesta quarta-feira (3), em frente à unidade, em protesto contra a demissão de cerca de 800 funcionários feita pela Associação Saúde em Movimento, nova “organização social” (OS) que passou a gerir o hospital. Os trabalhadores pedem a saída da OS e a reposição dos postos de trabalho. “Nós éramos os heróis, agora somos os vilões da história”, afirmam os funcionários.

Alguns dos trabalhadores foram demitidos para serem recontratados com menores salários e benefícios. Outros nem isso tiveram. “Quem recebeu a proposta teve o salário diminuído. Teve pessoas que tiveram salário diminuído em quase cinquenta por cento. A equipe está muito reduzida. O que pode também comprometer até a saúde dos pacientes já que a gente precisa de condições para fazer o nosso trabalho com qualidade”, disse Geiza Oliveira Silva, psicóloga da unidade.

“O funcionário também tem que ter qualidade de vida ali dentro do próprio trabalho. A gente ficou mais de dois anos na linha de frente da pandemia arriscando as nossas vidas, expondo as nossas famílias, pensando na abertura [total] do hospital e quando isso pôde de fato acontecer, nós fomos descartados. Chamavam a gente de heróis, mas pelo visto era só mesmo para um jogo político”, ressaltou Geiza.

Com a troca de organização social, teve início a demissão coletiva, que foi feita via internet, num momento de grave crise econômica, com desemprego em massa e aumento do custo de vida. “Eles mandaram a gente embora porque entrou uma empresa nova. Até então eles selecionaram alguns funcionários para permanecer trabalhando no hospital. Mas desligaram todo mundo para serem recontratados pela nova empresa, só que com um salário muito baixo. E eles cortaram também o benefício de insalubridade, VA [Vale Alimentação]. Não tem outra opção, a gente está indo lá para protestar, para se manifestar”, disse ao HP Tamires da Silva Gomes, escriturária do Hospital da Brasilândia.

O presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem de São Paulo (SinSaúde-SP), Jefferson Caproni, foi impedido de entrar na reunião com a gestão do Hospital. “Nós representamos oitocentos mil trabalhadores da saúde. Aqui nesse hospital nós temos uma média de oitocentos trabalhadores da nossa base que foram demitidos. Ou seja, é um ato criminoso fazer com que esses trabalhadores que estão aqui sejam expostos, com medo e receio, sem passar informação para ninguém. É incrível o posicionamento da instituição hoje, fazendo com que o presidente do Sindicato que representa os trabalhadores não possa participar. O Sindicato não negocia a dignidade do trabalhador”, disse Caproni.

Fundamental para a garantia do acesso à saúde na região, o Hospital é uma demanda histórica dos moradores da Brasilândia que, pelo menos desde os anos de 1970, lutavam por sua construção. Uma das unidades de referência para o cuidado às pessoas infectadas pela Covid-19, só foi inaugurado em 2020, após manifestação e protestos da comunidade que era a mais atingida pela pandemia naquele momento.

Com a demissão dos trabalhadores, a unidade não está atendendo a população por uma decisão da empresa que tem como objetivo apenas a garantia de maximização de seu lucro, em detrimento dos direitos dos trabalhadores e das necessidades de saúde da população.