Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo discutem mobilização
Foto: Paulo Pinto/AGPT
Em uma série de entrevistas, lideranças sociais discutiram a importância do seminário promovido pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, marcado para o dia 5 de fevereiro em São Paulo. O evento surge como um momento crucial para análise do primeiro ano do governo Lula e a definição de estratégias para enfrentar os desafios de 2024.
A Operativa das duas frentes de mobilização se reuniu no dia 15 de janeiro com o objetivo de retomar a organização do calendário comum das lutas populares. Desta forma, ficou definida a concordância para a realização de uma plenária presencial de aprofundamento da conjuntura e organização do calendário de 2024 com cerca de 150 representantes de organizações.
O PCdoB consultou quatro lideranças para avaliar a importância deste encontro e apontar suas prioridades de lutas. Rogério Nunes é secretário-adjunto de Políticas Sociais, Esporte e Lazer da CTB (Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Manuela Mirella é presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Vanja Andrea é presidenta da União Brasileira de Mulheres (UBM) e Getúlio Vargas Júnior, presidente da Conam (Confederação Nacional de Associações de Moradores).
Os pontos convergentes das quatro entrevistas revelam uma preocupação compartilhada entre as lideranças sociais, especialmente no contexto das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, sobre a necessidade de avaliar o primeiro ano do governo Lula e planejar estratégias para enfrentar os desafios políticos em 2024, que é ano eleitoral nos municípios. Os pontos-chave que unem as entrevistas são:
- Avaliação do Governo Lula: Todas as entrevistas destacam a importância de avaliar o progresso e as limitações da gestão do presidente Lula após o primeiro ano de governo. Essa análise inclui a resistência enfrentada no Legislativo, onde setores de extrema direita têm forte presença.
- Mobilização popular: As lideranças concordam que a confiança nas mobilizações populares é fundamental para superar os desafios políticos. Há um reconhecimento de que a pressão popular é necessária para implementar medidas que atendam às demandas da sociedade.
- Foco em pautas progressistas: O seminário das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo tem como objetivo a construção de um plano de lutas progressistas. Isso envolve setores organizados na sociedade, como trabalhadores, estudantes e movimentos sociais, para discutir pautas como moradia, redução dos juros e industrialização para geração de empregos.
- Internacionalização da luta: A pauta internacional é considerada crucial, com destaque para manifestações de apoio a causas como os palestinos em conflito com Israel e a greve geral na Argentina. A presença ativa dos movimentos sociais também é mencionada em solidariedade a lutas contra golpes, como no Peru, e participação na ALBA contra a interferência do imperialismo na América Latina.
- Análise de conjuntura: A necessidade de uma análise de conjuntura é ressaltada em todas as entrevistas. Isso inclui a compreensão e avaliação das perspectivas de luta e mobilização diante do cenário político atual, inclusive nos estados e municípios, onde pautas bolsonaristas têm prejudicado os direitos da população.
- Participação das mulheres: A defesa dos direitos das mulheres é uma preocupação recorrente, incluindo a violência política de gênero, especialmente considerando que o calendário tem entre suas primeiras mobilizações o 8 de março. Há ênfase na necessidade de introduzir essa questão nas pautas de todas as lutas e na importância da participação das mulheres na política para fortalecer a democracia.
- Preparação para eleições: As entrevistas convergem na importância do seminário como um espaço estratégico para a preparação das eleições de 2024. Destaca-se a necessidade de eleger representantes comprometidos com pautas progressistas e a resistência contra movimentos reacionários.
- Atuação nos Territórios: O estímulo à atuação nos territórios, estados e municípios é ressaltado como essencial, considerando que é nesses lugares que a luta conservadora tem se intensificado. A organização nos níveis locais é vista como chave para enfrentar retrocessos.
Trabalhadores: planos de lutas progressistas
O sindicalista Rogério Nunes destaca a relevância do seminário como um espaço para avaliação da conjuntura política após o primeiro ano do governo Lula. O dirigente da CTB ressaltou a necessidade de avaliar o progresso e as limitações no governo Lula, especialmente diante da resistência encontrada no Legislativo por setores de extrema direita. O foco do seminário será a construção de um plano de lutas progressistas, abrangendo diversos setores da sociedade e destacando pautas como moradia, redução dos juros e industrialização para geração de empregos.
O evento visa reunir entidades e movimentos sociais em um momento crucial do governo Lula, onde é possível fazer uma análise do primeiro ano e definir estratégias para 2024. Nunes ressalta que, após um ano do governo Lula, é essencial avaliar o progresso e as limitações na execução das propostas, especialmente diante da resistência encontrada no Legislativo, onde setores de extrema direita têm forte presença. Contudo, enfatizou a confiança nas mobilizações populares para superar esses desafios.
O foco do seminário será a construção de um plano de lutas progressistas, envolvendo setores organizados na sociedade, como trabalhadores, estudantes e movimentos sociais, incluindo Sem Terra e Sem Teto. Entre as pautas destacadas estão medidas populares, como moradia e redução dos juros, além do impulso a um plano de industrialização para gerar empregos.
“A geração de emprego é fundamental para o desenvolvimento do país, permitindo, por exemplo, a implementação de programas como o Minha Casa Minha Vida para milhões de famílias que necessitam de moradia”, explica Nunes. Ele salienta a importância de um projeto de desenvolvimento que atenda ao pequeno agricultor e à agricultura familiar.
Além disso, o dirigente sindical aponta a relevância do conjunto de leis de defesa dos direitos das mulheres, das minorias e da população LGBTI+, bem como o combate à discriminação racial. Todas essas propostas estão sendo organizadas tematicamente para integrar a agenda do seminário.
A pauta internacional também foi abordada, sendo considerada crucial para o governo Lula. Nunes ressaltou a atenção dos movimentos sociais às questões internacionais, mencionando manifestações de apoio aos palestinos diante do conflito com o Estado Sionista de Israel. Além disso, ele expressou preocupação com o cenário internacional, destacando a mobilização em apoio à greve geral na Argentina, em resposta às medidas adotadas pelo governo de extrema-direita.
Nunes mencionou a presença ativa dos movimentos sociais, não apenas dos países centrais, mas também das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, em solidariedade a lutas contra golpes, como o ocorrido no Peru, e participação na ALBA, uma organização de movimentos sociais que promove a independência e combate a interferência do imperialismo norte-americano na América Latina.
Nunes finaliza destacando datas-chave, como o Dia Internacional das Mulheres em 8 de março, o 1º de maio e outras lutas que surgirem “no radar do movimento social”. Ao ser indagado sobre a interferência do ano eleitoral no cronograma, ele admitiu que há uma certa influência, especialmente na mobilização de militantes que também estão envolvidos em campanhas eleitorais. No entanto, destacou a importância de manter a agenda de mobilizações, mesmo que haja um deslocamento de parte do ativismo para o cenário político eleitoral.
Estudantes: articulação e educação
Já Manuela Mirella, da UNE, ressaltou que o seminário proporcionará uma análise de conjuntura, possibilitando a avaliação do primeiro ano de governo de frente ampla. Ela salientou que cada frente possui diversas entidades em suas bases, com diferentes eixos de atuação, e o seminário será uma oportunidade para debater pautas estruturantes e elementos fundamentais.
“O seminário vai ser a oportunidade que nós teremos de avaliarmos juntos esse um ano em governo. Mas também da gente conseguir se articular para as pautas em conjunto nesse próximo período a partir de elementos fundamentais e pautas estruturantes”, diz Manuela.
O seminário será uma oportunidade para discutir pautas conjuntas para o próximo período, com destaque para a educação. A falta de investimento na educação é apontada por Manuela como uma prioridade a ser discutida, considerando os anos de ataques à democracia e de mobilização estudantil. Além disso, a necessidade de rearticulação nos territórios, elevando a consciência da sociedade em torno de pautas progressistas, é destacada como crucial para a construção de um país mais justo e igualitário.
Dentre as pautas a serem discutidas, a representante estudantil destaca a importância da educação, afirmando que a falta de debate sobre esse tema pode prejudicar o desenvolvimento do país. Manuela relembra os seis anos de ataques à democracia e ressalta a necessidade de uma atuação conjunta nos territórios para elevar a consciência da sociedade em torno de pautas progressistas.
Seja na defesa da educação, na luta contra o analfabetismo, ou no combate à fome, os movimentos sociais buscam rearticular-se em prol de um país mais justo e igualitário. A ideia é criar uma unidade para “reconstruir o Brasil da esperança”, como destaca Manuela.
Em relação à geopolítica internacional, a UNE expressa preocupação com o massacre do povo palestino, indicando que essa será uma pauta importante a ser discutida durante o seminário.
Mulheres: participação feminina
Vanja Andrea, representante da UBM, realça a necessidade de compreender, compartilhar e avaliar as perspectivas de luta e mobilização, especialmente neste momento em que o governo é apoiado pelos movimentos sociais que antes estavam na oposição. Ela destaca a importância de debater a participação das mulheres na política e a necessidade de atuar contra a violência política de gênero.
Ela ressalta a importância de estimular a atuação nos territórios, estados e municípios, onde a luta conservadora tem se intensificado, e a urgência de uma atuação conjunta para combater os desafios impostos por setores conservadores no Brasil.
“Acho que esse seminário é importante no sentido de a gente saber, entender e compartilhar com as duas frentes as perspectivas de luta, de mobilização, porque apesar de nós estarmos em um governo, de nós termos vencido Bolsonaro nas urnas, a gente ainda não venceu na luta política”, afirma Vanja.
Vanja destaca a relevância do seminário como um espaço para compreender e compartilhar perspectivas de luta e mobilização, mesmo em um contexto em que o governo atual é apoiado pelos movimentos sociais. Ela ressaltou que embora tenham vencido nas urnas, a luta política ainda é uma realidade, com diversos estados e municípios enfrentando desafios relacionados a pautas conservadoras e retrocessos nos direitos, especialmente das mulheres.
“A gente tem que enfrentar isso. E nós só vamos poder realmente enfrentar isso estando juntos. Juntos e juntas. Então, hoje mais do que nunca é necessário a gente somar nossas forças, fazer essa avaliação de como tem sido a luta, como foi a luta, como está sendo e como a gente pode fazer, ter esse diálogo”, afirma.
A representante da UBM enfatiza a necessidade de união entre as frentes, não apenas em nível nacional, mas também estimulando a atuação nos territórios, estados e municípios. Ela menciona a importância de dialogar e atuar em conjunto para reivindicar do governo uma postura alinhada com as demandas populares, destacando a relevância de debater a participação das mulheres, considerando a perda de representações femininas no contexto político atual.
Além disso, ela destaca a necessidade de debater a participação das mulheres na política, especialmente diante da perda de representações femininas em ministérios devido à reivindicação do Centrão.
“Sobretudo, a questão da violência política contra as mulheres, a violência política de gênero, tem se tornado constante. E que não é visualizado da forma com que deve, que nós precisamos introduzir isso na nossa pauta de todas as lutas desse ano como uma luta necessária”, aponta Vanja.
A representante da UBM enfatiza que mais mulheres na política são uma necessidade para um país verdadeiramente democrático, e a participação das mulheres no parlamento é fundamental para a disputa de propostas e criação de leis que garantam seus direitos.
Moradia: organização, mobilização e desafios internacionais
Getúlio Vargas Júnior, presidente da Conam, abordou temas cruciais sobre a importância do seminário para as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. Ele enfatizou a necessidade de organizar os movimentos sociais para consolidar as conquistas e avançar em suas agendas, sendo vital para garantir a governabilidade do presidente Lula.
“Após um primeiro ano de ajustes no governo Lula, é vital organizar os movimentos sociais para consolidar as conquistas e avançar em suas agendas. A mobilização desses grupos torna-se crucial para garantir a governabilidade do presidente Lula, trazendo as demandas históricas dos movimentos sociais para o centro da discussão política”, diz ele.
O seminário também visa preparar as frentes para as eleições de 2024, buscando eleger representantes comprometidos com pautas progressistas e avançadas. Getúlio destacou a resistência necessária contra movimentos reacionários, exemplificando com a Invasão Zero, atos violentos promovidos por setores latifundiários com ajuda policial.
Além disso, ele apontou a importância de algumas agendas serem tratadas no primeiro semestre, considerando as dificuldades que podem surgir no segundo semestre, marcado pelo processo eleitoral. O presidente da Conam ressaltou a urgência de mobilização popular para pressionar o governo positivamente, buscando a implementação de medidas que atendam às demandas apresentadas. Ele salientou que as demandas não são apenas em relação ao governo federal, mas também envolvem pressões no Congresso e no STF para evitar derrotas em questões cruciais como o Marco Temporal.
A pauta internacional também foi abordada, sendo considerada crucial para o governo Lula. Getúlio ressaltou a atenção dos movimentos sociais às questões internacionais, mencionando manifestações de apoio aos palestinos diante do conflito com Israel. Ele expressou preocupação com o cenário internacional, destacando a mobilização em apoio à greve geral na Argentina e a participação na ALBA, uma organização de movimentos sociais que promove a independência na América Latina.
Em síntese, o seminário das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo emerge como um espaço estratégico para discutir, planejar e fortalecer estratégias diante dos desafios políticos, sociais e internacionais que se delineiam no horizonte de 2024. As entrevistas com as lideranças sociais refletem a diversidade de perspectivas e a unidade na busca por um Brasil mais justo e igualitário.
Dessa forma, o seminário se configura como um espaço estratégico para a construção coletiva e afirmativa das frentes, gerando agendas de mobilização e resistência que serão fundamentais para a defesa da democracia e para o fortalecimento do governo Lula.
(por Cezar Xavier)