Centrais sindicais entregam pauta dos trabalhadores a Lula. Foto: Ricardo Stuckert

O 15º. Congresso do PCdoB, realizado em outubro de 2021, apontou como tarefa central do Partido para o ano de 2022 a luta pela construção de uma frente ampla para desmascarar, isolar e derrotar o Governo Bolsonaro.


Essa orientação tática logrou êxito. A histórica vitória nas eleições gerais de outubro e a derrota da extrema-direita ratificaram o acerto da resolução congressual. Com isso, abre-se um novo ciclo político no país.

Essas considerações iniciais servem de parâmetro para avaliar a atuação da Secretaria Sindical do PCdoB em 2022. Como órgão auxiliar da direção, a Secretaria busca traduzir para a frente sindical as orientações gerais do Partido.

A Secretaria Sindical é responsável pela direção da Comissão Sindical Nacional formada por 20 participantes; pelas 27 secretarias sindicais estaduais e frações sindicais nacionais. Embora com pouca estrutura, durante a pandemia foi possível realizar reuniões e outros eventos virtuais.

No plano político, pode-se afirmar que existe uma grande afinidade da frente sindical com as resoluções do Congresso e as orientações do Partido, em particular sobre a importância da frente ampla e o grande êxito que foi a conquista das federações partidárias.

Na ação sindical, um ponto alto foi a conclusão vitoriosa da unificação da CTB com a CGTB, ocorrida no 5º. Congresso Nacional da CTB, realizado em 2021. Com isso, a frente sindical do Partido ampliou sua representatividade e densidade política.

A CTB é uma central plural em sua composição e tem um protagonismo importante dos comunistas. Quadros sindicais do Partido que militam em outras centrais procuram, também, levar adiante as opiniões e posições do PCdoB para o movimento sindical.

Neste ano de 2022, o Partido obteve vitórias significativas em eleições sindicais, consolidando suas posições em entidades âncoras e obtendo, o que é raro no sindicalismo brasileiro, vitórias em sindicatos estratégicos. Um exemplo foi a vitória nos Metalúrgicos de Volta Redonda.
Evento importante da Secretaria ocorreu na celebração do centenário do Partido. Ocorreu uma grande mobilização de quadros sindicais para o Festival Vermelho, ocasião em que houve o concorrido lançamento do livro “Cem Anos dos Comunistas no Movimento Sindical”.

Com esta publicação, a Secretaria Sindical deu um importante aporte teórico, histórico e político para resgatar todo o itinerário de atuação dos comunistas na frente sindical, desde a fundação do Partido, em março de 1922, até os dias atuais.

Ainda no primeiro semestre, o ponto alto do sindicalismo foi a realização, no mês de abril, da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), organizada pelo Fórum das Centrais Sindicais, alçando a um novo patamar a intervenção sindical na conjuntura.

A Conclat aprovou a Agenda da Classe Trabalhadora, com resoluções unitárias em defesa da democracia, da soberania nacional e de um projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho, em conformidade com as posições que o Partido tem defendido no sindicalismo.

Esta agenda serviu de base para as mobilizações de todo o ano de 2022, aí incluídos os atos do 1º de Maio Unitário, manifestações pelo Fora Bolsonaro, as eleições e outras ações de massa que contribuíram para desgastar e derrotar o governo.

Vale registrar que, depois da Conclat, a Agenda da Classe Trabalhadora foi entregue em abril aos pré-candidatos Lula e Alckmin em um representativo ato político. Na ocasião, o hoje presidente eleito Lula comprometeu-se a debater com as centrais essa agenda.

Na pauta da Secretaria tem lugar de destaque o estímulo à realização de cursos de formação política para os quadros sindicais. Área estratégica, que precisa de maior desenvolvimento, uma militância mais qualificada exige maior compreensão do programa e da linha tática do Partido.

Neste terreno, é preciso reconhecer que existe ainda um longo caminho a ser percorrido para que o trabalho de formação política classista dos trabalhadores atinja níveis adequados. Esse é, sem dúvida, um dos desafios estratégicos para uma política de quadros renovada e mais avançada.

Uma dimensão importante da atuação da frente sindical – e que estamos dando os passos iniciais – refere-se a maior apropriação das ferramentas digitais tanto para comunicação quanto para formação, mobilização e construção partidária.

Uma outra prioridade da agenda da Secretaria Sindical, que demanda maior planejamento e interação com outras secretarias do Partido, refere-se ao debate sobre a atualização das formas de organização sindical e partidária diante das aceleradas mudanças no mundo do trabalho.

Certo que o trabalho de construção partidária tem várias dimensões. Mas o aumento da inserção sindical continua sendo um fator imprescindível. No Partido persiste ainda uma desproporcionalidade entre o crescimento sindical e o aumento da organização partidária.

Esse fenômeno é perceptível, entre outros indicadores, com o desempenho eleitoral de candidaturas oriundas do movimento sindical. Na maioria dos casos, o desempenho nas eleições é melhor onde o trabalho sindical é mais politizado e há uma maior ligação de massas.

Em muitos casos, a organização do Partido nas categorias que dirigimos fica concentrada nas direções sindicais, com pouca ramificação nos locais de trabalho e em outros espaços como os locais de moradia.  É o fenômeno conhecido como cupulismo.

Essa também é uma questão decisiva e que deve ocupar o centro de nossas preocupações para avançar na organização do Partido entre os trabalhadores. Por ser um problema difícil, não existem soluções simples nem medidas paliativas.

O balanço geral da frente sindical no Partido, mesmo com as insuficiências e dificuldades apontadas, tem sido positivo. As marcas principais foram a ampliação do trabalho intersindical e a intensa mobilização dos quadros e militantes sindicais na grande vitória política nas eleições.

Em relação às candidaturas de sindicalistas, bastante enfatizadas pela Secretaria Sindical, o resultado não atingiu as metas projetadas. A votação do Partido diminuiu nacionalmente e, em boa medida, o mesmo ocorreu com as candidaturas originárias da frente sindical.

Esses resultados têm causas diversas. Além dos problemas próprios do Partido, há que se analisar um fenômeno recorrente nas últimas eleições, que é a diminuição de trabalhadores nos diferentes parlamentos.

Segundo estudos publicados pelo DIAP, a representação dos trabalhadores tem diminuído de forma constante nas últimas eleições. A precarização do trabalho, o desemprego e o enfraquecimento sindical certamente estão entre as razões dessa realidade.

Apesar das vicissitudes eleitorais, a Secretaria Sindical tem reafirmado a importância da participação dos sindicalistas classistas na luta política mais geral. Só assim o movimento dos trabalhadores terá maior protagonismo e ocupará espaços de poder.

O dado mais importante, no entanto, é o ingresso do país em uma nova etapa. Com a vitória de Lula, o Brasil inaugura uma nova realidade e, com certeza, os trabalhadores e o movimento sindical serão diretamente beneficiados.

A luta pela restauração dos direitos trabalhistas e previdenciários, pelo emprego de qualidade, pela valorização salarial e pelo fortalecimento dos sindicatos são demandas que ocuparão o centro das preocupações do movimento sindical e melhores condições de conquistar avanços.

Diante dessa nova realidade, a Secretaria Sindical deve propor a realização do 9º Encontro Sindical Nacional no próximo ano. Esse Encontro, entre outros pontos, deverá atualizar a linha sindical diante do novo governo e debater a política e os meios de revigoramento partidário.

*Nivaldo Santana é secretário Sindical Nacional do PCdoB