Frente ampla fecha acordo para governar Israel sem Netanyahu
Faltando uma hora para findar o prazo, Yair Lapid, anuncia que foi formado o acordo assinado por oito partidos com capacidade para indicar um governo israelense de frente ampla tirando Netanyahu do cargo de primeiro-ministro.
Segundo os jornais israelenses, por volta das 23:00 desta quarta-feira (2), os últimos partidos que faltavam firmar o acordo de composição o fizeram e Lapid passou a se dirigir à casa oficial do presidente Reuven Rivlin com a finalidade de informar oficialmente o acordo e entregar o documento com as respcetivas assinaturas. O prazo dado a Lapid para a entrega do documento se extinguiria à meia-noite desta quarta-feira (2), 06:00 hora de Brasília.
“Este governo trabalhará para todos os cidadãos de Israel, os que votaram nele e os que não o fizeram. Fará tudo para unir a sociedade israelense”, destacou o líder das negociações que lhe exigiram paciência e nervos de aço, ao anunciar que a última assinatura, a de Mansur Abbas, da Lista Árabe Unida. É a primeira vez em Israel que um acordo de formação de governo inclui uma organização árabe.
Assinam o acordo o partido de Lapid, Yesh Atid, o partido Yamina de Nafatli Bennett, que deve ocupar o cargo de primeiro-ministro nos primeiros dois anos e três meses de mandato, cedendo a função a Lapid para o período final. E ainda Meretz (esquerda), Avodah (trabalhista), Kahol Lavan e Israel Beiteinu (centro), Tikvah Hadasha (direita) e Raám (Lista Árabe Unida).
Detalhes envolvendo a ocupação dos cargos do novo governo ainda estão pendentes e as conversas vão prosseguir nos próximos dias.
O dia foi de muita tensão e expectativa, uma vez que uma das integrantes do partido de Bennett, Ayelet Shaqed, quer ocupar o cargo de ministro do Interior e ainda indicar a chefia do Comitê Judicial que é responsável por apontar os novos juízes israelenses pelos próximos quatro anos, função já apalavrada com o partido trabalhista Avodá.
A Lista Árabe Unida também resolveu assinar, mas ainda está em negociação a suspensão de uma lei que penaliza mais os árabes do que os judeus quando da construção de unidades residenciais não legalizadas.
O acordo deve afastar Benjamin Netanyahu que ocupou o centro do poder em Israel por 12 anos, está sob investigação por crimes de guerra por órgãos internacionais e por corrupção envolvendo fraude, receptação de suborno e quebra de confiança já em tramitação em tribunal israelense.
O entendimento já estava caminhando para o fechamento na primeira semana de maio, quando – através de uma série de provocações armadas pelos seguidores de Netanyahu, ao que tudo indica sob sua supervisão – se levou a um acirramento das tensões em torno da mesquita Al Aqsa, em Jerusalém, o que serviu de pretexto para desembocar em um bombardeio estupidamente violento na Faixa de Gaza, levando inclusive a derrubada do prédio que abrigava agências de notícias, entre elas a Associated Press.
Nos 11 dias de bombardeio, com integrantes do Hamas respondendo com foguetes sobre cidades israelenses resultando em perto de 240 mortes de palestinos e 12 israelenses, as negociações foram interrompidas e depois lentamente retomadas, deitando por terra a trama de Netanyahu de tentar permanecer no poder sob pretexto de ser o único capaz de “trazer segurança” aos israelenses. Aliás, foi isso que ele disse minutos depois de Nafatli Bennett anunciar que formaria acordo com Lapid, um acordo que um Netanyahu, inteiramente descompensado, chamou de “governo da traição, da insegurança e da desconfiança” minutos depois do anúncio do acordo.
O que os fatos destes últimos minutos apontam é que as tramas de Netanyahu deram com os burros n’água, incluindo as ameaças a parlamentares que decidem fechar acordo para o novo governo com manifestações de ultra-direitistas diante das casas destes parlamentares aos gritos de “traidores”.
O governo formado inclui partidos de um amplo leque de forças à esquerda, centro e direita. Incluindo os que defendem o fim da ocupação dos territórios palestinos, por um lado, e os que se opõem a isto, por outro. Portanto, há um progresso com a saída de Netanyahu, mas estamos diante de muita negociação e pressões até a volta à mesa de negociações por uma paz justa entre israelenses e palestinos.
Ainda há a expectativa de que integrantes do Lista Conjunta (que reúne partidos árabes e comunistas), que anunciaram que vão se opor ao acordo, venham a rever posição e apoiar o novo governo, no voto de confiança no Knesset (parlamento israelenses) para garantir a saída de Netanyahu, e depois manterem-se na oposição.
Depois de entregue o documento oficial ao presidente de Israel, há o prazo máximo de uma semana para que o parlamento seja convocado por seu presidente para que o governo formado receba o voto de confiança de 61 parlamentares (metade mais um do total de 120 deputados).