O presidente da França, Emmanuel Macron, alertou as nações europeias sobre uma nova corrida armamentista em território europeu, em consequência do fim do Tratado INF – que proibiu mísseis com armas nucleares de alcance médio no teatro europeu por 30 anos – por iniciativa do governo Trump, assim como à ameaça de Washington de deixar o último acordo de controle de armas nucleares estratégicas com os russos, o Novo Start, que expirará no próximo ano se não for renovado.

Em discurso na Ecole Militaire de Paris na sexta-feira (7), Macron convocou os países europeus a “não permanecerem espectadores” diante dessa ameaça à segurança coletiva do continente.

Na “ausência de uma estrutura legal”, os países europeus poderiam enfrentar rapidamente uma nova corrida por armas convencionais, mesmo armas nucleares, “em seu próprio solo”, advertiu o líder francês.

O tratado Novo START é o último acordo de controle de armas estratégicas ainda em vigor entre Moscou e Washington, desde que em fevereiro do ano passado, a Casa Branca anunciou sua saída do tratado INF, assinado por Reagan e Gorbachev em 1987 e que proibiu todos os mísseis terrestres com alcance de até 5.500 quilômetros, tirando o continente europeu da alarmante situação de estar a minutos da hecatombe nuclear, tempo que levava para um míssil instalado na Europa atingir as principais capitais europeias, como Londres, Moscou, Paris e Berlim.

Há uma forte necessidade de a Europa garantir que ela não se encontre no meio de um impasse no estilo da Guerra Fria, “que poderia comprometer a paz obtida após tantas tragédias em nosso continente”, reiterou Macron. E alertou sobre “a possibilidade de uma competição militar e nuclear pura e irrestrita, coisas que não vimos desde o final da década de 1960”.

Para o presidente francês, os países europeus também devem insistir em ser signatários de qualquer novo acordo entre os EUA e a Rússia para limitar o desenvolvimento de novas armas de alcance intermediário. “Sejamos claros: se negociações e um tratado mais abrangente são possíveis … os europeus devem ser partes interessadas e signatários, porque é o nosso território”, acrescentou.

Em seu discurso, Macron também ofereceu aos parceiros europeus a participação nos jogos de guerra das forças de dissuasão francesa. Após a saída da Grã Bretanha da União Europeia, a França é a única potência nuclear do bloco. Recentemente, Paris rejeitou uma sugestão de um líder do partido da chanceler alemã Angela Merkel, Johann Wadephul, de colocar suas capacidades de dissuasão nuclear sob os auspícios da UE ou da Otan.

Defendendo a restauração do diálogo com Moscou, Macron ressaltou que “não pode haver projeto de defesa e segurança para os cidadãos europeus sem uma visão política que busque restaurar progressivamente a confiança na Rússia”.

“Não podemos aceitar a situação atual, onde o abismo se aprofunda e as conversas diminuem, mesmo quando os problemas de segurança que precisam ser tratados com Moscou estão se multiplicando”, acrescentou.

Declaração que é nova sinalização da disposição de tirar a Europa do impasse com a Rússia decorrente de ter endossado as sanções contra Moscou, por causa da população da Crimeia não aceitar o golpe de estado da CIA na Ucrânia de 2014 que colocou no poder os fascistas e ter em referendo decidido se reunificar com a Rússia, como fora na maior parte dos últimos 300 anos. A França é um dos garantidores dos Protocolos de Minsk, no chamado Formato Normandia, para solucionar a crise na Ucrânia.