França prepara reestatização da gigante da energia elétrica EDF
A primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, anunciou a intenção do governo Macron de reestatizar completamente a gigante do setor elétrico Électricité de France, EDF. “A transição energética passa pela energia nuclear”, sublinhou.
“Confirmo-vos hoje a intenção do Estado de deter 100% do capital da EDF. Este desenvolvimento permitirá que a EDF fortaleça sua capacidade de realizar projetos ambiciosos e essenciais para o nosso futuro energético o mais rápido possível”, declarou Borne em sua declaração de política geral perante a Assembleia Nacional em 6 de julho.
Atualmente, a EDF já é majoritariamente estatal, apesar da abertura de capital de 2005, com 84% em mãos da França, mais 1% detido por trabalhadores, e ainda 15% em mãos de investidores privados e institucionais. Tem 56 plantas nucleares e é a maior empresa do setor elétrico da Europa.
Evocando o apego dos franceses à estratégica empresa, Borne disse à TF1 que o governo Macron queria “ter o controle total desta empresa e […] dar-lhe as margens financeiras para os investimentos que se espera dela”.
A EDF pretende lançar um programa de novos reatores, conhecido como EPR2, em paralelo ao desenvolvimento da energia solar e eólica. Macron anunciou em fevereiro a construção de seis EPRs – cuja primeira unidade está prevista começar a operar entre 2035 e 2037 – ao custo estimado de mais de 50 bilhões de euros.
O Parlamento também terá que decidir sobre as escolhas energéticas da França, em particular com uma lei prevista para 2023. “Devemos garantir nossa soberania diante das consequências da guerra e dos colossais desafios que temos pela frente. Devemos tomar decisões que, nestas mesmas bancadas, outros puderam tomar antes de nós, numa altura da história em que o país também tinha de vencer a batalha pela energia e produção”, acrescentou Borne.
Está prevista a saída antecipada do executivo-chefe Jean-Bernard Lévy, cujo mandato iria até maio de 2023, segundo o jornal Les Echos. De acordo com análise da AFP, a EDF está descapitalizada e enfrenta contratempos com a construção de seu novo modelo de reator, o EPR, que foi instalado em Flamanville (Mancha), com mais de dez anos de atraso e cujo custo quase quadruplicou.
Há também problemas com a corrosão que afeta 12 dos reatores operados pela EDF, o que, só este ano, forçou à redução da meta de produção, o que deverá reduzir o seu excedente operacional bruto em 18,5 bilhões de euros.
O projeto de transição energética do governo Macron, que a ministra Agnes Pannier-Runache irá pilotar, tem como componentes a ampliação da eficácia (para redução de 40% no consumo até 2050); a descarbonização, através do forte desenvolvimento das energias renováveis; e a construção de 6 a 14 reatores nucleares de nova geração (EPR). Um programa em que a EDF será “o ator estratégico e central”, segundo a ministra.
Analistas e líderes sindicais criticaram a decisão do governo Macron de forçar a EDF a vender eletricidade mais barata aos seus concorrentes, a pretexto de conter a fatura de eletricidade das famílias e pequenos profissionais.
“Os problemas da EDF são sobretudo a subcapitalização e a sub-remuneração. Não é porque estamos renacionalizando que estamos fortalecendo a estrutura patrimonial da EDF, ela não resolve seu problema financeiro estrutural”, afirmou à AFP o secretário-geral da Federação das Energias CFE, Alexandre Grillat.
Para o secretário-geral da Federação Minas-Energia da central CGT, Sébastien Menesplier, “é incoerente” nacionalizar a EDF com status legal de sociedade anônima e pediu sua transformação em um ‘estabelecimento público de natureza industrial’ (Epic), que possibilite “tirar a eletricidade do mercado [e] parar o sistema Arenh”, que organiza a venda de eletricidade a baixo custo à concorrência.
EDIÇÃO: Guiomar Prates