Todos os locais públicos “não essenciais” estão fechados na França a partir deste domingo e 67 milhões de pessoas devem permanecer em casa para ajudar a combater a rápida disseminação do coronavírus, conforme anúncio feito pelo primeiro-ministro Edouard Philippe. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já declarou a Europa como o novo epicentro da pandemia de Covid-19.

O fechamento engloba bares, restaurantes, cafés, cinemas e boates, e permanecem abertos supermercados, farmácias, bancos, tabacarias ou postos de gasolina. O fechamento das escolas a partir de segunda-feira já havia sido determinado pelo presidente Emmanuel Macron.

Philippe acrescentou que o governo “não tinha outra opção” após as autoridades de saúde pública detectarem que o número de casos dobrou em 72 horas. O total de mortos dobrou em 24 horas, para 288.

Nesse contexto, a França passou no sábado para o “estágio 3” da epidemia, o que significa que o vírus agora circula por todo o seu território. O primeiro-ministro disse que as novas medidas se tornaram inevitáveis já que muitas pessoas continuavam nas e não estavam conseguindo aplicar as orientações de prevenção, inclusive quanto a manter uma distância segura de outra pessoa.

“Devemos limitar absolutamente nossos movimentos”, enfatizou Philippe, que apontou que as medidas iniciais tomadas para limitar as reuniões foram “aplicadas imperfeitamente” e que “a melhor maneira de conter a epidemia [é] o distanciamento social”.

O Diretor Geral de Saúde, Jérôme Salomon, disse que houve um rápido aumento de casos graves, incluindo 300 pessoas em terapia intensiva, metade das quais com menos de 60 anos de idade. “Agora é a hora de mudar nosso comportamento”. Ele enfatizou que “agora devemos fazer tudo para retardar, desacelerar e cortar a curva dessa epidemia” – única forma de evitar o que aconteceu na vizinha Itália, em que os hospitais ficaram sobrecarregados pelo número de casos graves.

O primeiro-ministro Philippe reiterou também que “todos os serviços essenciais à vida de nossos cidadãos permanecerão obviamente abertos”. Conquanto o transporte urbano continue funcionando, o governo instou os franceses a limitarem “suas viagens e, em particular, a evitar viagens interurbanas”.

“O que temos que fazer no momento é simplesmente evitar reunir o máximo possível, limitar reuniões amigáveis ​​e familiares, usar o transporte público apenas para ir ao trabalho e somente se a presença física no local do trabalho for essencial, deixar sua casa apenas para fazer suas compras essenciais, fazer algum exercício ou vota”, ressaltou.

Ele também pediu às empresas e administrações que “teletrabalhem” massivamente para permitir que o maior número possível de pessoas fique em casa, a partir de segunda-feira. “Estou consciente dos esforços e sacrifícios que estamos pedindo, mas acredito que o povo francês terá a capacidade de entender a seriedade deste momento”, disse Philippe.

Ainda assim, a França manteve o primeiro turno das eleições municipais neste domingo, mas pela lei francesa será preciso que haja condição para a realização do segundo turno daqui a uma semana – o que ninguém sabe -, ou o processo será zerado. A participação caiu de 54% para 38%.

Nas seções eleitorais, medidas preventivas foram tomadas, como distância de um metro na fila de entrada entre as pessoas, uso de luvas, apresentação de documento para votar sem contato físico com os mesários e higienização constante da cabine de votação e da urna.

Na vizinha Espanha, o país europeu mais afetado depois da Itália, o governo decretou estado de emergência por 15 dias e ordenou no sábado que 47 milhões de cidadãos fiquem em casa, exceto para saídas indispensáveis, como a compra de alimentos e remédios. Reuniões sociais foram proibidas. As escolas estão fechadas, mantendo milhões de crianças em casa. As procissões populares da Páscoa foram canceladas.

“Os espanhóis poderão deixar suas casas para ‘trabalhar’, ‘comprar pão’, ir à farmácia ou fazer tratamento, mas não ‘jantar na casa de um amigo’”, assinalou o primeiro-ministro. No sábado, ele anunciou a contaminação de sua esposa.

O número oficial de mortes por coronavírus do governo aumentou 152 durante a noite, para 288. O número de infectados aumentou 2.000 novos casos, para 7.753.

Por toda a Espanha, neste domingo, das ruas às praias, todos os lugares públicos estavam desertos. As pessoas formaram filas organizadas fora dos supermercados de Madri no domingo, mantendo-se afastadas uma da outra. Um guarda de segurança com uma máscara facial deixava os compradores entrarem dois a dois.

Todos os principais jornais carregavam um invólucro com o slogan: “Juntos, pararemos esse vírus”. Os jornais informaram que a polícia pode emitir multas no local de centenas de euros para aqueles que não seguirem as regras. A Ford anunciou que fechará sua fábrica espanhola na região leste de Valência por uma semana, a partir de segunda-feira, depois que três funcionários testaram positivo para o coronavírus.

Segundo compilação da AFP, com os novos contágios deste domingo a Europa já confirmou mais de 52.400 casos e é o continente em que a pandemia avança com maior rapidez.

Já são 2.291 mortes na Europa, a maior parte na Itália (1.809), país mais afetado no mundo depois da China. Nas últimas 24 horas, chegou a 517 o número de novos mortos pelo coronavírus.

Quadro que obriga governos a tomarem medidas mais decisivas para contenção da pandemia. A Alemanha fechará suas fronteiras com a França, Suíça e Áustria a partir da segunda-feira de manhã, depois que o instituto de saúde Robert-Koch declarou a região “zona de alto risco”. A Holanda fechará todas as escolas, cafés, restaurantes e clubes esportivos em todo o país.

O chanceler da Áustria exortou as pessoas a se auto-isolarem e anunciou proibições em reuniões de mais de cinco pessoas e limites adicionais sobre quem pode entrar no país. Todos os cultos de Páscoa do papa Francisco no próximo mês serão realizados sem a presença de fiéis, disse o Vaticano no domingo, o que é sem precedentes nos tempos modernos.

Criticado por sua atitude de esperar para ver, em um país que registra oficialmente apenas 1.140 casos, incluindo 21 fatais, o governo da Grã Bretanha indicou que planeja determinar limitação aos deslocamentos dos mais de 70 anos por até quatro meses e que vai proibir grandes encontros – o que poderia se estender ao torneio de tênis de Wimbledon.

A Sérvia proibiu a entrada em seu território de estrangeiros que chegam da maioria dos países afetados, enquanto a vizinha Bósnia decidiu que sejam confinados em tendas de quarentena. A Rússia (45 casos, sem mortes) fechou suas fronteiras terrestres com a Noruega e a Polônia no domingo. Dinamarca e Lituânia fecharam suas fronteiras. A Noruega vai fechar seus portos e aeroportos.