Josep Borrell, chefe da diplomacia da UE, discordou da elegada iminência da invasão da Ucrânia

Fontes do Palácio do Eliseu, sede do governo francês, disseram ao jornal Le Monde que “a França, como a Alemanha, continua intrigada com o alarmismo dos EUA e do Reino Unido”. “Vemos o mesmo número de caminhões, tanques e pessoas. Observamos as mesmas manobras, mas não podemos concluir que a ofensiva seja iminente por tudo isso”, acrescentou a fonte.

Na segunda-feira, o palácio de governo anunciou que o presidente francês Emmanuel Macron irá propor ao líder russo Vladimir Putin “um caminho para a desescalada, durante uma conversa por telefone a ocorrer nos próximos dias”.

“Estamos preocupados com a situação e queremos evitar mais instabilidade”, acrescentou. A fonte também confirmou a realização de reunião do Quarteto da Normandia (França, Alemanha, Rússia e Ucrânia), sobre a aplicação dos acordos de Minsk sobre o Donbass, em Paris nesta quarta-feira (26).

Por sua vez o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, discordou na segunda-feira de que haja planos de Moscou para invadir em um futuro próximo a Ucrânia.

“Certamente não, acho que não há nada de novo que possa aumentar o sentimento de medo sobre um ataque imediato, não”, disse Borrell, respondendo a pergunta de um jornalista, observando ainda que não acredita que haja ameaça a outros países, como a Lituânia.

Pouco antes da reunião entre ministros das Relações Exteriores europeus, Borrell, diante das notícias de que Washington começava a retirar familiares de funcionários da embaixada de Kiev, pediu para “não dramatizar” a situação.

“Enquanto as negociações prosseguirem, e elas estão prosseguindo, não creio que tenhamos de deixar a Ucrânia”, disse Borrell.” Nós não vamos fazer o mesmo [que Washington], pois não temos razões especificas para tal”, acrescentou.

Depois da reunião, o chefe da diplomacia europeia tentou minimizar a divergência, alegando que os norte-americanos só estariam retirando “pessoal não-essencial” e não seria uma “evacuação”.

Ele também asseverou haver uma “completa sintonia” entre os 27 Estados-membros de que não é necessário tomar “medidas preventivas”, mas garantiu o “apoio inquestionável” da UE à Ucrânia.

Nas discussões sobre as sanções com que ameaçam a Rússia, a Alemanha não deixou de manifestar sua preocupação com o repuxo, com o primeiro-ministro Olaf Scholz advertindo para a necessidade de se calibrar bem as medidas.

Berlim também mantém inalterada sua política de não fornecimento de armas a regiões em conflito, chegando inclusive a bloquear que a Estônia reenviasse a Kiev armas de procedência alemã.

Já a Casa Branca ameaçou Moscou com “sanções do inferno” e anunciou que 8.500 soldados norte-americanos estão em alerta para possível deslocamento para a Europa.

Em novo sintoma da discórdia que grassa entre os governos europeus quanto a arrastarem o continente para outra guerra, o presidente da Croácia, Zoran Milanovic, anunciou que, se estourar um conflito, vai retirar as tropas croatas das forças da Otan na Europa Oriental.

“A Croácia não enviará tropas em caso de escalada. Pelo contrário, convocará [de volta] todas as tropas, até o último soldado croata”, prometeu.

Na Espanha, comunistas e integrantes do Podemos, que fazem parte do governo espanhol em coalizão com os socialistas, condenaram o anúncio de Madri de envio de material bélico à região do conflito.

O ex-líder do Podemos, Pablo Iglezias, ironizou a alegação da ministra da Defesa de que seria uma “guerra humanitária”: não é para isso que a Otan existe. Uma foto do então primeiro-ministro Jose Aznar, ao lado de W. Bush e de Tony Blair, na véspera da invasão do Iraque em 2003, voltou à baila na Espanha, como repúdio ao belicismo agressivo da Otan.