Fracassa a tentativa de Trump de cassar os votos de Detroit
Uma das mais indecentes manobras da campanha de Trump contra as eleições que perdeu nos EUA, a tentativa de impedir a certificação dos votos de Detroit, fracassou, depois que os dois representantes republicanos, sob pressão popular e denúncia de racismo, recuaram na quarta-feira. Detroit faz parte do Condado de Wayne, no Michigan, e é uma cidade de maioria negra.
Com o recuo dos republicanos no condado de Wayne, completou-se a certificação da apuração em Michigan, em todos os 83 condados do Estado, segundo a secretaria de Estado local, Jocelyn Benson.
“Quem vai dar a notícia a Trump?”, ironizou um deputado estadual democrata. O presidente perdedor havia tuitado na véspera – quando os dois republicanos bloquearam os votos de Detroit – chamando o achaque de “coisa linda” e convocando a “virarem Michigan de volta para Trump”.
Foi a presidente republicana do conselho eleitoral do condado, Monica Palmer, quem abriu o jogo, ao dizer, depois de inicialmente se opor à certificação da votação no condado, que num gesto de boa vontade se disporia a aceitar a votação para a certificação “exceto quanto a Detroit”.
Segundo a indecente proposta, só os votos dos subúrbios brancos ricos do condado deveriam ser considerados. Um dos dois representantes democratas no conselho, Allen Wilson, se disse “chocado”. Na semana passada, um tribunal havia recusado ação de Trump para cassar os votos da cidade de maioria negra.
A deputada democrata que acaba de se reeleger, Rashida Tlaib, foi direto ao ponto: “Sugerir que todo o Condado de Wayne pode ser certificado, exceto Detroit, é de um racismo horripilante e uma subversão de nossa democracia.”
Organizações pelos direitos civis também repudiaram a tentativa de esbulho – que classificaram de “tentativa de promover o caos e a confusão” -, enquanto o conselho eleitoral de nível estadual advertiu que exerceria sua competência para restaurar os direitos dos eleitores de Detroit.
O jornal Detroit Free Press denunciou a manobra como um esforço aberto para “privar um grande número de eleitores negros”.
Mark Brewer, um dos principais advogados eleitorais democratas em Michigan, chamou o voto inicial do conselho do Condado de Wayne de “ultrajante, sem precedentes e racista”, e disse que os dois republicanos brancos no conselho “essencialmente cassaram os eleitores negros”.
Nas redes sociais, a repercussão foi enorme, com repúdio generalizado. Os dois republicanos acabaram recuando e a certificação de Detroit e adjacências, isto é, do Condado de Wayne, acabou aprovada por unanimidade, depois de uma boa noite de sono.
O presidente da Câmara de Detroit, Mike Duggan, comemorou: “feliz por ver o bom senso prevalecer no final”.
“Todos os tribunais decidiram sobre os resultados eleitorais de Detroit que as alegações de erro de Trump eram infundadas”, acrescentou Duggan. A cassação dos votos de 1,4 milhão de eleitores do condado de Wayne teria sido “um ato vergonhoso”, enfatizou.
A secretária de Estado do Michigan reiterou que a junta de apuração vai se reunir novamente em 23 de novembro para “emitir a certificação final da eleição”, encontro que será aberto ao público.
No Estado, Biden venceu por 146 mil votos de diferença – em 2016, Trump levou Michigan no Colégio Eleitoral por uma vantagem de 11 mil votos. Pelo Twitter, o presidente perdedor passou recibo de mais essa derrota, alegando que houve “mais votos do que as pessoas que votaram”.
RECONTAGEM EM MILWAUKEE
Após o fiasco no Michigan, a campanha de Trump voltou sua atenção para Wisconsin, onde pediu na quarta-feira a recontagem de votos nos condados de Milwaukee e Dane. Wisconsin tem dez votos no Colégio Eleitoral. Sem apresentar provas, a campanha republicana diz que foram lá que aconteceram as “piores irregularidades”.
A cidade de Milwaukee (que fica no condado de mesmo nome) é a maior do estado e 27% de sua população é negra. Dane abriga a cidade de Madison, que tradicionalmente vota nos democratas.
Nos dois condados Biden soma 577.455 votos, contra 213.157 de Trump. No Estado, Biden venceu por uma margem de 20.608 votos.
Pelas leis de Wisconsin, qualquer candidato pode pedir recontagem de votos quando a diferença é menor que 1%, desde que pague pela sua realização. Conforme a AP, o pedido de recontagem custou três milhões de dólares. Pelas projeções, Biden soma 306 delegados no Colégio Eleitoral, contra 232 de Trump.