Em manifesto lançado nesta semana, a Comissão de Formação do PCdoB de Sergipe fala sobre a educação escolar para além da pandemia, defendendo a ampliação da vacinação para todos  e destacando que “nesse tempo histórico, qualquer proposta de desenvolvimento das aulas de forma presencial nas escolas é colocar em risco a vida dos sujeitos que fazem a educação”.

Leia abaixo a íntegra do manifesto: 

Manifesto da Comissão de Formação do PCdoB-Sergipe: A educação escolar para além da pandemia

Entendemos que a educação e a instrução são fenômenos distintos e complementares. Distintos porque a educação incide na transmissão, apropriação, internalização e socialização do conhecimento historicamente produzido pela existência humana. Já a instrução incide apenas na transmissão do conhecimento.

Esses dois fenômenos entendemos que historicamente se traduz na concepção da educação escolar. No Brasil, a instrução traduzida na pedagogia tradicional remete apenas à transmissão dos conhecimentos resumidos nos livros didáticos, nos currículos impostos de cima para baixo. Mesmo se essa concepção de escola ao longo do tempo seja hegemônica e siga a lógica do mercado, nas diretrizes econômicas e políticas conservadoras. Entendemos também que ao longo do tempo foram se construindo Pedagogias contra-hegemônicas que estiveram presentes em propostas concretas onde o fenômeno educativo esteve relacionado com os fenômenos históricos e socioculturais.

Nesse sentido, a educação escolar é entendida como espaço de transmissão, apropriação, internalização, mediação e socialização da existência humana ligada diretamente aos conhecimentos científicos e tecnológicos. Nessa concepção, a escola tem como base principal socializar o conhecimento das diversas áreas de conhecimentos, vinculados diretamente aos saberes vividos dos sujeitos que produzem tais conhecimentos.

Procuramos mostrar nesta lógica preliminar que a produção de conhecimento da educação escolar só tem sentido, e efetivamente possibilita a aprendizagem nos diversos níveis: educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e ensino superior, quando o fenômeno educativo tem ligação concreta com as condições históricas e socioculturais sob as quais vivemos.

Nessa direção, do ponto de vista pedagógico perguntamos: As situações concretas em que vivemos são essenciais para a aprendizagem escolar? Se nossa resposta for positiva, precisamos pensar nesse tempo de pandemia, que emerge numa das maiores tragédias do nosso país. Desde março de 2020, inicialmente, as escolas fecharam. Nos três meses iniciais, os profissionais da educação passaram por transformações e adequações às novas tecnologias. Em todos os níveis, educadores e educadoras, no tempo emergencial, procuraram dar andamento à produção do conhecimento. Desde a educação infantil, os educadores e educadoras criaram novas atividades que garantiram o distanciamento necessário à vida de todos os sujeitos que fazem o processo educativo. No ensino fundamental, médio e superior, procuraram dar andamento aos saberes produzidos. Foram muitas aprendizagens, participaram de diversos cursos on-lines, pesquisaram novas formas de ensinar. Mesmo no ensino remoto, procuraram aprender novas metodologias de ensino com a utilização da tecnologia. Nesse tempo de um ano e meio buscaram garantir a aprendizagem possível no limite que o tempo emergencial nos coloca. Nessa crise sanitária que se alastra no Brasil com mais de 520 mil mortes, procuraram, inclusive, produzir conhecimento para salvar vidas. As escolas e as instituições estatais, através dos/as educadores/as e dos/as cientistas das diversas áreas de conhecimentos, como os Institutos Federais e Universidades públicas, produziram máscaras 3D e tantos outros instrumentos importantes no combate ao Coronavírus.

Enfim mostraram que o mais importante é a vida. Que a vida é o direito mais fundamental anterior a qualquer outro. Nessa direção, manifestamos que o retorno às aulas só poderá ocorrer quando pelo menos 70% da população for vacinada. Essa condição foi apresentada pelos principais pesquisadores no Brasil e no mundo. Daí perguntamos: o retorno às aulas, nesse momento em que ainda não temos nem 50% da população vacinada, vai possibilitar aprendizagem aos alunos? Acreditamos que não, principalmente porque compreendemos que a escola é o espaço de transmissão, apropriação, internalização e socialização do conhecimento historicamente produzido. Nesse tempo histórico, qualquer proposta de desenvolvimento das aulas de forma presencial nas escolas é colocar em risco a vida dos sujeitos que fazem a educação. Daí, o máximo que poderá ocorrer é a instrução, apenas a transmissão de modo fragmentário do conhecimento. Manifestamos, também, a importância da luta pela ampliação da vacina para toda a população. Para garantir as condições de vida da classe trabalhadora, especificamente e da sociedade como um todo, visto que o governo Bolsonaro tem construído, sistematicamente, mais desemprego e tem colocado risco à vida do povo brasileiro.

Acreditamos que o governo do Estado e dos municípios devem garantir as condições necessárias para o ensino remoto em tempo emergencial, partindo do ponto em que percebemos a grande dificuldade dos estudantes com o acesso às plataformas, por conta da falta de internet e da estrutura tecnológica necessária para dar continuidade aos estudos de maneira remota. Não é novidade que existem estudantes que não têm as condições necessárias para um bom aproveitamento do ensino à distância, portanto, é necessário que as autoridades competentes ofereçam os materiais necessários para que haja melhor aprendizagem desses alunos. Daí afirmamos, apenas nesse tempo emergencial. Pois nenhum modo de educação à distância substitui o ensino presencial. Isso se acreditarmos que a finalidade da escola é a transmissão, apropriação, internalização, mediação e socialização da existência humana. Mesmo a tecnologia sendo o meio mais eficaz, na atualidade, para atingir essa finalidade. Mas o meio, e não o fim.

Comissão de formação do PCdoB Sergipe

 

(PL)