“Foram os EUA que trouxeram seus mísseis à nossa porta”, destaca Putin
“Não fomos nós, são os EUA que trouxeram seus mísseis à nossa porta”, sublinhou o presidente russo Vladimir Putin em sua entrevista coletiva anual de 2021, respondendo a um jornalista da Sky News, sobre a exigência de que cesse a expansão da Otan até às fronteiras russas e de garantias formais de segurança.
“Estamos plantando mísseis perto das fronteiras dos Estados Unidos? Não. Foram os Estados Unidos que trouxeram seus mísseis à nossa porta”, disse Putin. “É uma demanda excessiva – não haver mais sistemas de ataque perto de nossa casa? Há algo incomum nisso?”
“Como os americanos reagiriam se colocássemos nossos mísseis na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá ou o México?”, assinalou o líder russo, acrescentando que “deixamos claro que a expansão da Otan para o leste é inaceitável”.
“O México e os Estados Unidos nunca tiveram disputas territoriais? A quem pertenceu a Califórnia no passado? E quanto ao Texas? Eles se esqueceram? Ninguém se lembra de tudo isso quando olham para a Crimeia atualmente”, disse o presidente russo.
Continuando, Putin reiterou que “nossas ações dependerão, não do andamento das negociações, mas das garantias incondicionais da segurança nacional russa”.
Ele enfatizou que a segurança nacional é a prioridade número um de Moscou e que os países ocidentais enganaram a Rússia ao expandir a Otan na Europa Oriental, apesar das promessas anteriores.
Ele reiterou que o Ocidente deve dar garantias firmes imediatamente à Rússia, em vez de apenas falar sobre elas por décadas.
“’Nem um centímetro para o Leste’, disseram-nos nos anos 90. E daí? Eles nos enganaram. Houve cinco ondas de expansão da OTAN . Estão surgindo sistemas de mísseis na Romênia e na Polônia. Nós fomos até eles? Eles vieram até nós”, frisou o presidente russo.
“Em 1991, nós dividimos nosso país, mas isso não foi suficiente para nossos parceiros europeus. Mesmo depois do colapso da URSS, temos 146 milhões de pessoas restantes e isso é demais [para eles]. A União Soviética fez de tudo para construir relações normais com os Estados Unidos e o Ocidente, especialistas dos serviços americanos estiveram presentes em nossas instalações de armas militares, lá iam todos os dias. Conselheiros dos EUA e pessoal da CIA trabalharam com o governo russo. O que mais eles queriam? Por que apoiaram organizações terroristas no Cáucaso? Para quê? Foi uma tentativa de aprofundar o colapso [da Rússia]”, afirmou Putin.
O presidente russo afirmou ainda que suas futuras negociações com Joe Biden dependerão da resposta dos EUA às propostas de garantia de segurança de Moscou e expressou esperança de que as negociações se desenvolvam de forma construtiva. A primeira rodada sobre as propostas russas está marcada para o início de 2022.
Encerrando a resposta ao enviado da Sky News, Putin se referiu ao processo vivido pela Rússia antes de seu reerguimento.
“Estávamos dizendo: ‘Não faça isso’. Você nos prometeu não fazer isso. E nos disseram: ‘E onde está escrito no papel? Em lugar nenhum? É isso então, vá para o inferno. Não nos importamos com suas preocupações.’ E isso [vem acontecendo] há anos, a cada vez que argumentávamos, tentávamos evitar algo. Não, [nos disseram] ‘Vá embora com suas preocupações. Faremos o que considerarmos necessário’”.
“Então, onde eles [os países ocidentais] não nos entendem? Não sei. Você perguntaria o que não está claro aqui”, disse Putin ao espaçoso inquiridor. “Acho que está tudo claro aqui. Queremos garantir nossa segurança”, concluiu o presidente russo.
Relação sem precedentes Rússia-China
Sobre as relações Rússia-China, Putin disse na entrevista coletiva anual que é “uma parceria absolutamente abrangente de natureza estratégica que não teve precedentes”.
“Este árduo trabalho do dia-a-dia beneficia tanto o povo chinês quanto o russo e é um sério fator de estabilização no cenário internacional”, disse Putin, acrescentando ter uma boa relação com o líder chinês.
O comércio entre os dois países ultrapassou o nível pré-pandemia para chegar a US $ 100 bilhões e a China é o maior parceiro da Rússia. Os dois países também trabalham juntos nas áreas de energia nuclear, alta tecnologia, espaço, cultura e humanitária, afirmou.
Para Putin, a China inevitavelmente se tornará a economia número um do mundo entre 2035 e 2050. “Em termos de paridade de poder de compra, a economia chinesa já é maior do que a americana. Entre 2035 e 2050, a China inevitavelmente se tornará a economia líder do mundo em todos os outros indicadores também”.
As forças armadas dos dois países também cooperam, disse Putin. “São exercícios conjuntos, participação em jogos de guerra internacionais conjuntos, patrulhas conjuntas no mar e no ar”, disse ele.
Putin condenou o boicote diplomático dos EUA às Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim. “É um erro tentar usar o esporte para tratar de questões políticas momentâneas. Não conterão o desenvolvimento da China e precisam perceber isso.”
As sanções contra a Rússia também buscam conter seu desenvolvimento, disse Putin. “Não há outra razão, acredite em mim. Não se trata do nome do líder do país ou de quaisquer questões e problemas atuais.” “É uma tentativa de conter o desenvolvimento e evitar o surgimento de concorrência potencial”, acrescentou.