“Fora Prayut, abaixo a ditadura!”, bradam os estudantes tailandeses
“Fora Prayut!, Abaixo a ditadura!” Pelo quinto dia consecutivo, milhares de manifestantes voltaram às ruas na Tailândia no domingo (18) para exigir a renúncia do primeiro-ministro e ex-chefe da junta militar, Prayut Chan-O-Cha, uma nova constituição e a reforma da monarquia.
Exigindo democracia e fazendo o gesto de três dedos do filme ‘Jogos Vorazes’ que se tornou símbolo dos protestos, os manifestantes – em grande parte, estudantes -, mantiveram a pressão pelo fim do regime instituído em 2014 pelo golpe de estado chefiado pelo general Prayut e apoiado pelos EUA.
A principal manifestação foi na capital, Bangcoc, mas foram realizados atos em uma dezena de províncias, inclusive em Chiang Mai, um destino turístico popular no norte da Tailândia.
Os protestos também contam com a adesão de antigos integrantes dos chamados ‘camisas vermelhas’, ligados ao deposto, em 2006, primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, desde então no exílio. O golpe de 2014 derrubou a irmã dele.
O chefe da junta militar, general Prayut, no ano passado virou “primeiro-ministro” em eleições fraudulentas. A constituição foi alterada para possibilitar a metamorfose, em um referendo em que era proibido fazer campanha contra.
Os protestos começaram em março nas universidades e se ampliaram desde julho. Eles clamam pela dissolução do atual parlamento, para que seja substituído por outro que represente efetivamente o conjunto do país.
A oposição também exige a libertação dos presos e a liberdade de expressão. Na sexta-feira, a polícia fez uso de canhões de jato de água contra os manifestantes pela primeira vez. No sábado, apesar da interrupção, pelo governo, do sistema de transportes, os estudantes se reuniram em vários pontos da capital.
Além da crise política, o país também está mergulhado na recessão, em decorrência da pandemia que afetou especialmente o turismo, e há milhões de desempregados. A Tailândia é conhecida por seus golpes de estado: doze, desde a abolição da monarquia absoluta em 1932.
Não tem havido comentários do palácio real sobre os protestos, mas o rei Maha Vajiralongkorn disse através da televisão que a Tailândia “precisa de um povo que ame o país e a instituição da monarquia”. Ele não esclareceu se tinha planos para eleger outro povo para sua monarquia.
A reforma da opulenta monarquia tailandesa era considerado um assunto tabu no país até recentemente. Em agosto, os manifestantes aprovaram dez propostas para minorar o arbítrio da realeza, que se exacerbou sob o golpe e desde que o velho rei faleceu em 2016 e foi substituído pelo filho, Maha Vajiralongkorn.
De quem se diz ter consolidado os laços com os golpistas de 2014 e ampliado o controle sobre os ativos da coroa.
Segundo a oposição, em 2018 o Departamento de Propriedades da Coroa (CBP), que gere os bens da monarquia, transferiu dezenas de bilhões de dólares diretamente para o rei.
Incluindo participações no maior banco do país, o SCB – que costuma ser chamado ironicamente de ‘pote de ouro do feudalismo’ – e num dos principais grupos industriais tailandeses, o SCG.
Líderes oposicionistas têm criticado a investida da monarquia sobre o mercado acionário: “o rei agora virou jogador no mercado”.
Também advertem que a interferência do rei no mundo dos negócios é “antiética”, por ser “dinheiro dos contribuintes”. Cadê a “transparência?”, questionam.
O regime também joga à vontade com a carta da ‘defesa da monarquia’, que invoca sempre que pode para ameaçar manifestantes com até prisão perpétua.
Um incidente em que um pequeno grupo de oposicionistas saudou a comitiva da rainha Suthida com os três dedos e o ‘abaixo a ditadura’ na quarta-feira passada, foi usado para prender manifestantes por violarem a lei “lesa-majestade”.
O decálogo dos manifestantes para contenção da boa vida dos feudais inclui a abolição da draconiana lei de lesa majestade, a separação dos bens pessoais do rei e da monarquia, redução no orçamento da monarquia e fim da propaganda a favor do rei.
Foi a partir desse incidente que o regime Prayut decretou o estado de emergência, proibindo reuniões com mais de cinco pessoas e estabelecendo censura sob pretexto de “medo” ou “ameaça à segurança nacional”. Manifestantes podem ficar presos por até 30 dias sem acesso a advogado.