Manifestantes protestaram na tarde desta segunda-feira (9) na Avenida Paulista, na região central de São Paulo, contra a atividade de garimpeiros em terras indígenas. Eles seguravam uma faixa com a frase: “Brasil é terra indígena, fora garimpo”.

O ato ocorreu em defesa dos povos indígenas brasileiros, organizado após a denúncia por indígenas do estupro e assassinato de uma menina de 12 anos da comunidade Yanomami Aracaçá no fim do mês de abril.

A concentração dos manifestantes começou por volta de 17h40, no Vão do Museu de Arte Assis Chateaubriand (Masp). Os manifestantes ocupam duas pistas da Avenida Paulista e pretendem caminhar do Masp até a Praça do Ciclista, esquina com a Rua da Consolação. O protesto contou com a participação de lideranças de etnias como tupinambá, guarani e yanomami.

O indígena Case Angatu, do povo xukuru, de Palmeira dos índios (AL) discursou durante o ato. “O genocídio, o etnocído dos povos indígenas, são históricas e estruturais, que dependem de uma sociedade ainda colonial que mantém o sistema capitalista. Qual é a grande questão indígena? É a terra”, disse Case.

“Se esse coletivo todo aqui se autodeclarar indígena, não tem problema para o governo. Mas se esse coletivo se autodeclarar indígena e pedir o direito à terra, aí tem problema, aí a gente morre. O Estado brasileiro tem que reconhecer que nós estávamos aqui antes, mas não como proprietários. Nós não somos donos da terra, nos somos a própria terra. Nossa relação com ela é de sentimento, não de propriedade privada”, continuou.

“Os ataques contra os Yanomami constituem o histórico e estrutural genocídio/etnocídio contra os Povos Originários, visando a espoliação das Terras e a exploração da Natureza (ecocídios). Além de apurar quem são aqueles que cometem os ataques é necessário enfrentar esse quadro estrutural/histórico para não ocorrer novamente. Quem mata, tortura, estupra e rouba as terras originários são aqueles que cometem essas atrocidades, mas também os que mantém essa estrutura histórica de violações visando seu enriquecimento”, concluiu a liderança indígena.

Coordenadora do Movimento Cientistas Engajados, a professora Mariana Moura, participou do ato em solidariedade aos povos indígenas. “Viemos manifestar nosso apoio ao povo yanomami e repudiar o garimpo nas terras indígenas”, afirmou.

 

Devastação

Levando violência, destruição ambiental e doenças para a Terra Yanomami, maior reserva indígena do Brasil, o garimpo ilegal avançou 46% na região no ano passado, a maior devastação da história desde a demarcação e homologação do território há quase 30 anos.

Os números são do relatório “Yanomami sob ataque”, divulgado no último mês pela Hutukara Associação Yanomami (HAY), a mais representativa organização deste povo.

Em 2021, a degradação chegou à marca de 3.272 hectares, frente aos 2.234 hectares de 2020 – 1.038 hectares a mais em um ano.

A Terra Indígena Yanomami é a maior reserva do país, com mais 10 milhões de hectares distribuídos no Amazonas e Roraima, onde fica a maior parte. São mais de 28,1 mil indígenas que vivem na região, incluindo os isolados, em 371 comunidades. A HAY estima que há 20 mil garimpeiros explorando ilegalmente a região.

De outubro de 2018 até o fim de 2021, a área destruída pelo garimpo ilegal quase dobrou de tamanho, ultrapassando 3,2 mil hectares, afirma o relatório.

No ano passado, já havia sido registrado um salto de 30% em relação ao período anterior. De 2016 a 2020, o garimpo na Terra Yanomami cresceu 3.350%, conforme o estudo.

Em meio a estes números, o documento denuncia violações de direitos dos indígenas que vivem na Terra Yanomami.

“À medida que os núcleos garimpeiros ilegais se proliferam e crescem nas diferentes regiões da TIY, as comunidades vizinhas sentem a perda do “controle” sobre o seu espaço de vida. Isto porque a insegurança os dissuade de circular pela região, seja em razão de ameaças explícitas de garimpeiros contra suas vidas, seja em razão da simples presença hostil de não-indígenas.”

“É recorrente a queixa de lideranças sobre a intensa circulação de garimpeiros fortemente armados e as consequentes intimidações para que os indígenas coadunem com as condições impostas pelos invasores. Em muitos relatos, os membros das comunidades disseram sofrer com a restrição a seu livre trânsito na Terra Indígena, deixando de usufruir de áreas utilizadas para a caça, pesca, roça, e da comunicação terrestre e aquática com as comunidades do mesmo conjunto multicomunitário”, cita trecho do relatório.